Capítulo XIV - Asylum

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Parei em frente ao enorme portão de metal, com lanças grandes nas pontas, duas câmeras, uma de cada lado da extremidade do muro, monitorava cada piscar de olhos que dava.

Estava um pouco nervoso, não me dava tão bem com interações sociais, demorava para que criasse confiança nas pessoas, mas depois que conquistado, me tornava um eterno fiel. Fazendo tudo ao meu alcance para ajudar no que for necessário.

Desde que me encontrei sozinho, tive que aprender a se virar para ter um sustento, arrumei alguns empregos nos comércios próximos, mas a maioria deles teve problemas financeiros, e não puderam continuar comigo. Precisava de um novo trabalho, não almejava que pagasse bem, não busco dinheiro, apenas o suficiente para me manter, meu objetivo é ser escritor, e para isso preciso praticar, estudar e praticar mais. Mas, ainda tinha as necessidades básicas que não se sustentariam sozinhas.

A casa de Andrew ficava longe do centro de Riverside, não possuía muitas opções para conseguir dinheiro. Semanas atrás vi numa das estradas que conecta a parte rural da cidade a um dos distritos industriais uma enorme propriedade. Devia ter uns dez mil metros quadrados, era um casarão rodeado por árvores, de início pensei que fosse uma prisão, por causa dos muros altos que fechavam o perímetro de todo o empreendimento. Mas percebi quando li o nome Harold Brown Asylum que se tratava de um centro de reabilitações para pessoas com distúrbios mentais, tinha um cartaz colado em sua entrada.

"Precisa-se de ajudantes, jovens homens ou mulheres, sem necessidade de experiência, interessados, por favor, ligue para 0207 646 2300 e marque sua entrevista".

Não poderia ter lido aquilo em melhor momento, marquei com a atendente o dia e aqui estou, vinte minutos antes do horário programado, vestindo uma camisa polo preta e uma calça jeans com botas gastas, era o que tinha de mais formal no meu guarda-roupa.

Também tentei passar um gel no cabelo e penteá-lo para trás, como estava grande, na altura do ombro, li em alguns livros de comportamento humano que deixá-lo esparramado poderia denotar desleixo.

— Boa tarde, com quem falo? — Perguntou, a voz feminina através do interfone.

— Edgar... Edgar Phillips.

— Em que posso ajudá-lo Sr. Phillips?

— Tenho uma entrevista marcada para a vaga de ajudante às 17:00 h.

— Para confirmar, poderia me dizer sua idade e nome da mãe?

— Claro! 22 anos, Geórgia.

— Só um minuto.

Coloquei as mãos no bolso, para tentar parar de esfregá-las e não passar a sensação que estou nervoso.

Em seguida, as tirei.

Também li que manter as mãos nos bolsos aparenta insegurança, deve gesticular e mostrá-las, isso passa a ideia de franqueza e honestidade.

Cruzei os braços.

Descruzei-os.

— Nossa, como é difícil não passar nossas impressões através do corpo — Sussurrei para mim mesmo, tremendo a perna direita.

— Sr. Phillips?

— Sim. Estou aqui.

— Warren, nosso zelador o acompanhará a sala do Sr. Brown.

— Sr. Harold Brown? O mesmo do nome do lugar? — Questionei, sem muito pensar, fiquei aflito ao ouvir o nome.

— Isto, ele é o dono do centro e irá realizar a entrevista com você.

— Está bem, muito obrigado!

Um homem negro grande, de quase dois metros de altura, ombros largos, usando um macacão cinza com o seu nome numa etiqueta no peito, veio até o portão, abrindo-o e apontando com a mão o caminho que devia seguir.

— Boa tarde senhor — Falei.

Ele não me respondeu.

Apenas foi andando na frente. O segui.

No trajeto pude ver algumas pessoas em lugares aleatórios do campo, algumas falavam sozinhas, outras saltitavam e faziam bolhas de sabão, teve até uma que tentou se aproximar, mas regressou quando Warren fez uma cara feia para ela.

Andamos por corredores monocromáticos, cores neutras e não muito amigáveis. Numa das salas que estavam à direita, pude ver um grupo de pacientes assistindo a um filme, pela cena que estava passando e o icônico papel de Jack Nicholson como coringa pude perceber que era o filme do Batman.

No cômodo seguinte, uma enfermeira numa roda com outras pessoas lia um livro, forcei os olhos para enxergar o título, o vidro que separava a sala do corredor estava um pouco sujo e atrapalhou a leitura, mas com um pouco mais de esforço...

— Hamlet, William Shakespeare — Falou, o homem bem trajado, com um terno fino clássico parado em frente a porta do fim do corredor.

Estendeu a mão para me cumprimentar.

— Você deve ser Edgar Phillips — Disse, ainda aguardando com a mão suspensa no ar.
Apertei sua mão, que colocou a outra sob a minha, fechando como um sanduiche.

— Eu sou Harold Brown! Prazer em conhecê-lo, farei a entrevista com você, queira por favor entrar. Obrigado por trazê-lo Warren.

O zelador apenas balançou a cabeça em resposta.

Em seguida, adentrei o escritório do dono do local, a porta se fechou.

Agora preciso conseguir o emprego, espero que dê tudo certo. 

Apócrifos - A porta dos onze fechosOnde histórias criam vida. Descubra agora