Capítulo 44 - A porta dos onze fechos

51 7 51
                                    

"Atravesse finalmente a porta dos onze fechos Edgar, e seja pela eternidade a iluminação na mente de seus primeiros semelhantes. Cada vez mais transforme o ódio em amor, a guerra em paz, o medo da morte na alegria da vida. Viva para sempre sendo o que nasceu para ser, sem medo da rejeição e da desaprovação, crie a esperança para os que se sintam desolados e separados. Esteja junto de todos que precisarem de você.

Cruze a fronteira e seja Epifania".

Todas entidades que estavam presentes no imenso espaço branco sumiram como poeira ao vento, levando junto seus vestígios físicos, mas não seus pensamentos.

Era incrível estar num lugar onde todos sempre existem ao seu lado, mesmo que não seja materialmente. Não podia tocá-los, mas podia senti-los, mais forte do que nunca.

A porta estava aberta, e bastava alguns passos para que eu eliminasse para sempre minhas falhas humanas e me tornasse algo que poderia ajudar todas as próximas gerações.

Compartilharei minha consciência com todos os Edgar's que vierem após este período, quando desejei fazer o bem a pelo menos uma pessoa, jamais imaginei que seria pela eternidade.
Queria que elas pudessem receber meu carinho uma última vez.

Olhei para a porta e orgulhoso, comecei a andar em sua direção, e a surpresa que veio a seguir fez minhas pernas bambearem e o maxilar tremer.

Geórgia, minha mãe e Beatriz resplandeceram como estrelas em meio ao breu, tinham vestes brancas e utilizavam uma coroa de flores na cabeça. Seus sorrisos aqueciam meu coração e suas respirações refrescavam a alma. Nem mesmo todos os grãos de areia do mar e as constelações no céu seriam capazes de quantificar o amor que sentia, tão puro, sincero e intenso.

Meu corpo não sabia como reagir, não conseguia me mover, falar e muito menos pensar. Minha mente havia sido preenchida com a maior das paixões e consumido toda a essência de quem eu seria.

Quando as duas se aproximaram e me deram juntas um abraço. Me senti completo.

— Ed, querido — Chamou, minha mãe — Lembra que disse quando pequeno que homem não devia chorar? Eu só queria protegê-lo do mundo impuro que vivia, tentando poupá-lo da maldade que eu mesmo não compreendia. Mas, eu errei meu filho, primeiro, por que as lágrimas nos purificam, trazendo renovação a nossa coragem e segundo, por que foi você que me protegeu por todos estes anos, sendo meu alicerce e a existência imortal do meu amor. Pude ver todas as vezes que se curvou, derrubado pela injustiça e com força sobrenatural levantou-se e continuou lutando. Li cada frase que dedicou a sua velha mãe, mesmo ela não sendo merecedora de tamanho afeto, por isso, quero que fique com isto.

Ela me entregou um livro. Tinha o título de "Epifania" e trazia o meu nome como autor.

Lágrimas começaram a percorrer minha face, uma quantidade que jamais pensei ter.

Ela me deu um beijo na testa, que gravou em minha consciência como uma marca divina.

— Você conseguiu Ed! Escreveu algo que transcendesse os céus e chegasse até mim. Sua vida se tornou a maior de suas obras. Você se tornou um homem incrível! Não quero parecer uma mãe coruja e muito menos clichê, mas, não tenho dúvidas em dizer que tenho o melhor filho do mundo. A mamãe te ama mais que tudo no cosmos.

Eu não conseguia parar de chorar, parecia uma criança. As lágrimas carregavam minha dor e as todas as palavras.

Depois de me abraçar com os dois braços, agarrada ao redor do pescoço. Beatriz olhou no fundo dos meus olhos. Ternura e paixão eram refletidas em sua íris, tocou meu rosto com a palma da mão, seu toque era leve como as nuvens.

— Lobinho? Desde a primeira vez que o vi, jamais duvidei que estaria ao seu lado para sempre. Nem mesmo um único segundo da vida pensei em deixá-lo. Você é a pessoa mais importante e maravilhosa que conheci e tenho orgulho em ser sua esposa para sempre.

Ela tirou de dentro de um pequeno bolso que tinha em sua vestimenta brilhante, um anel. E estendendo-o disse:

— Você me guiou quando eu estava cega, me amou quando ninguém mais estava ao meu lado, trouxe luz ao meu mundo, e agora, transcendeu a vida e superou a morte para me permitir revê-lo uma última vez. Edgar Phillips, você aceita se casar comigo? E me tornar a mulher mais feliz por toda eternidade?

Enquanto minha mãe batia palmas e secava os olhos com os dedos, pensei em inúmeras palavras para descrever a imensa felicidade que carregava, se a plenitude humana pudesse ser vista, ela teria esta aparência. Nem todos os pensadores do universo seriam capazes de dizer com exatidão o que eu realmente gostaria de falar.

Então resumi numa frase que apenas a mulher que amo poderia compreender seu peso.

— Sim! — Disse — "Muito pouco ama, quem com palavras pode expressar quanto muito ama".
Quando Beatriz colocou o anel em meu dedo, ela me beijou com o calor de milhões de sóis. A sensação foi a mesma de quando Mytru beijo Jivana. Um beijo que poderia me fazer lutar durante dois infinitos sem me cansar.

Após o abraço de minha mãe no recente casal, seus corpos começaram a se esfarelar no ar. Transformando-se em pó de estrelas e na luz do meu mundo.

— Eu amo vocês!

Carregando comigo o mais forte dos sentimentos, levantei a cabeça, enxuguei as lágrimas, toquei acima de mim a brisa com os fragmentos do amor de Beatriz e de minha mãe, sorri para meus novos irmãos apócrifos e atravessei a porta dos onze fechos.

Fechando o punho, disse:

— O desejo acaba. O caminho não. Seja eterno! Epifania.

FIM.

Apócrifos - A porta dos onze fechosOnde histórias criam vida. Descubra agora