Capítulo 43 - Epifania

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Estava num lugar inteiramente branco, a noção de dimensão não existia, já que, as paredes, chão e teto se conectavam num único manto brilhante, o espaço poderia ser infinito e não daria para notar ou quantificar a extensão.

O único item que ainda permanecia inalterável era a porta dos onze fechos, que continuava aberta e dava passagem para Minak e mais três entidades que a atravessavam, vindo em minha direção.

Um casal de mãos dadas, o homem colocava a outra mão no ombro de uma jovem que caminhava a seu lado esquerdo. Tinham expressões de felicidade nos rostos, como pais olhando com orgulho o nascimento de seu filho.

Minhas vestes também haviam se alterado, eu parecia um antigo deus grego, com panos claros e reluzentes, tudo era novo e eu não entendia o que estava acontecendo.

Eles se aproximaram de mim, parando todos atrás de Minak, que estendeu seu braço me puxando para perto dele, dando um abraço de um lado só.

"Edgar, quero que conheça pessoalmente a morte e a vida, Mytru e Jivana, meus avós, juntamente de minha mãe Mahara, a representante do equilíbrio e da consciência". Disse a loucura, tão animado quanto alguém apresentando o trabalho de sua vida.

"Você não disse que ele era tão bonito". Falou Jivana, dando saltos de empolgação.

Mahara se aproximou, tocando minha face com sua mão e deslizando até o pescoço, parecendo analisar cada parte.

"Ele é maravilho filho". Disse ela.

"Quando a vida desejou trazer realidade aos humanos, ela devia ter imaginado exatamente isto". Mytru deu um largo sorriso, um que jamais poderia imaginar ser dado pela morte.

Ainda perdido sobre o que estava de fato acontecendo ali, dirigi a palavra ao pai dos apócrifos.

"Minak, fico lisonjeado em estar de frente para entidades tão importantes quanto estas, responsáveis por tudo que existe em meu mundo. Mas, o que está acontecendo? O que é este lugar? O que aconteceu comigo?"

"Há muitas perguntas que podem ainda não ter respostas". Começou ele. "Porém, apenas uma afirmação será capaz de trazer luz a este universo escuro que sua mente se encontra atualmente".

Todos me olhavam como num aniversário surpresa, com expressões de bobos e ansiosos pelo anúncio dos parabéns.

"Edgar, o motivo por trás de tudo que viveu em vida foi apenas um. O sofrimento e questões melancólicas um dia se misturariam num imenso caldeirão de ideias com ingredientes de angústia para trazer à tona este momento. O dia que todas as dores e sofrimentos fariam sentido, e você poderia compreender a loucura como uma benção".

Tocando com um dos tentáculos que saiam de trás de sua cabeça, Minak chegou até minha mente.

"Hoje, deixe seu fardo sobre o solo, você cumpriu sua sina e caminhou com vontade a jornada. Aqueles que ficaram para trás estariam eufóricos com o ser que se tornou. Edgar Phillips. Lúcifer. Esqueça seu nome terreno e passe a adotar sua essência. Renascerá, e assim como outros antes, será eterno, vivendo como o mais novo filho de Minak, a loucura".

As outras entidades começaram a bater palmas, como numa festa.

Minha mente estava adormecida, não sentia nada, nem ódio ou paz, ressentimentos ou desejos, nem mesmo podia separar o mal do bem.

"Desperte! Apócrifo da Epifania!".

Uma explosão de pensamentos encobriu minha alma, como se alguém a sobrecarregasse com informações de todas as mentes e eras. Ao mesmo tempo, um vislumbre de uma fagulha surgiu como uma visão interna. Indicando uma energia geradora de tudo que controla minhas ideias e ações. Como se eu fosse capaz de entender a maior das verdades, desvendar o mais incrível mistério e descobrir o tesouro oculto dos deuses.

O nome da cidade sagrada dos apócrifos, era na verdade, um espelho do que eu estava destinado a ser.

Eu era a epifania na mente humana.

"A todos que depois de ti, tiverem a sensação de entendimento ou compreensão da essência do cosmos, a realização da abertura de uma porta fechada durante anos e a descoberta da constelação do homem. A estas pessoas, você atribuirá seu conhecimento ilimitado da vida, trazendo os seres que tiverem Epifania como uma característica ao mundo das entidades imortais. Seja bem-vindo filho". 

Apócrifos - A porta dos onze fechosOnde histórias criam vida. Descubra agora