"O primeiro arquivo que abri foi equivalente a uma facada direto no coração.
Se fosse para resumir toda a carga emocional em uma palavra, teria uma perfeita.
Morte.
Era o fim.
Depois de tudo que passei, não teria forças para me reerguer.
O filme da minha vida passou rápido e pude compreender a sina.
A morte do ego.
Hiperconsciência.
Vórtices.
Nigrum.
Eu não sou Edgar, eu sou Lúcifer.
Acho que estou vendo algo.
Eu entendo.
Isto é.
Epifania".
Um milhão de planetas entraram em órbita ao mesmo tempo e colapsaram dentro da minha mente, criando uma implosão cósmica que apagou completamente a sanidade.
O arquivo trazia uma foto dela antes de sua morte, com uma legenda que dizia: "A amarei eternamente".
Aqueles arquivos.
As ligações.
Mensagens.
Até mesmo a senha.
Fui eu mesmo que criei tudo.
Ele sou eu.
E o pior aconteceu depois, taciturno e sem rumo, passei a agir como se ela ainda estivesse viva, como se o acidente nunca tivesse acontecido, minha memória foi apagada e subliminarmente iniciei do último ponto que lembrava.
Nosso casamento.
A finalização do livro.
Eu estava interpretando nós dois.
Eu sou louco?
Olhei para todos os lados do casebre nas montanhas em que estava. Tentando achar algo em que pudesse me agarrar, para impedir que a loucura levasse meu ser. Foi então que enxerguei a materialização de uma entidade, que sorrindo parecia ter vindo tomar café comigo. Conversando sobre trivialidades do cosmo.
Uma pequena menina, pálida, de cabelo na altura do ombro, bem penteado, com um vestido escuro de tecido semelhante a camurça, andava em minha direção. Usava meias brancas cheias de bolinhas pretas erguida até o joelho e tinha um sorriso de uma única linha. Olhos negros bem fundos, não piscava e nem mudava sua expressão.
— Olá! Posso sentar-se ao teu lado? — Perguntou ela, já se sentando.
Seus pés não conseguiam tocar o chão, ficava balançando-os no ar.
— Vim buscá-lo para levá-lo a um lugar diferente. Acho que gostará de ir. É divertido e existem seres que simpatizam e compartilham sua mentalidade — Ela tocou a pequena mão no meu ombro.
Sentados, um ao lado do outro.
Permaneci quieto.
Meu mundo girava, como se estivesse em um carrossel eterno dentro da minha cabeça. Beatriz estava realmente morta? O que era este livro que eu escrevia? Tudo que passei realmente aconteceu? A maior catástrofe em duvidar de sua sanidade, é desacreditar quem você é.
E nunca em minha vida, soube realmente quem fui.
Minha cabeça doía.
Eu podia enxergar algo incrível.
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Apócrifos - A porta dos onze fechos
Misterio / SuspensoAnderson Valadares Autor de: "O homem e a caixa"; "A vila das máscaras" e "O moldador de mentes" Narra sua quarta história: "Apócrifos - A porta dos onze fechos" *** A mente humana ainda possui muitas incógnitas, algumas delas talvez jamais cheguemo...