Capítulo XXIX - Morte do ego

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— Bia querida? Por que está tão quieta ultimamente? Vamos nos casar! Devia estar animada com a possibilidade, vamos! Não fique desde jeito tão melancólica — Estava fazendo a barba enquanto aguardava uma resposta de Beatriz, que parecia estar deitada no quarto sem querer pronunciar nenhuma palavra.

Me propus a escrever o maior livro de todos os tempos, e não estou falando de best-sellers que venderão milhões de cópias, e sim uma obra capaz de mudar a vida das pessoas que amo. Deixarei um legado para minha linda futura esposa e mandarei uma mensagem que atravessará o céu e encontrará minha falecida e eterna mãe. Depois disto, terei cumprido minha missão.

Adotei a sugestão de ir até uma cabana nas montanhas para trabalhar na parte final e concluir essa lápide. Porém, ainda estava focado no conceito fundamental da história, que será a verdade sobre os seres chamados por Christopher como apoteóticos num fundo ficcional, um código para os vórtices que virão depois de mim, e assim como Amon Sadat e Chris, serão capazes de encontrar a constelação do homem.

Claro que sozinho eu não conseguiria comtemplar toda a magnitude das palavras do Nigrum, então convidei alguns conhecidos para debatermos e mergulharmos juntos nesta jornada magnifica até a terra jamais revelada.

E quem melhor do que os próprios desenvolvedores das teorias para explicar seus ensinamentos?

Preparei a mesa grande e redonda da sala para mais uma noite de reflexão, coloquei cadeiras confortáveis, fiz alguns petiscos e gelei as bebidas. Sob ela, estava espalhado todo o material que dediquei meus últimos dias lendo, convidei Beatriz para que se juntasse a nós, ela recusou, alegando cansaço. Até mesmo seu celular não queria mais ter por perto, então o peguei e mantive comigo, sem ela se incomodar também utilizei seu notebook para fazer algumas pesquisas e escrever recados carinhosos secretos em pastas dentro do computador.

Tudo preparado, convidados acomodados, agora vamos descobrir mais sobre todo este mistério.

— Senhores! — Comecei o discurso, de fato muito entusiasmado — É com muita honra que hoje faremos nossa caminhada pelo inconsciente, atravessando assim como Dante fez no inferno até finalmente vislumbrar o paraíso, atingirmos a contemplação máxima da mente, e pisarmos na cidade perdida. Estou extremamente feliz em contar com vocês 'Amon o louco' e Christopher Allan nesse debate, e para deixar nosso "passeio" ainda mais instigante, tomei a liberdade de convidar um terceiro elemento a nosso conselho.

Percebi que todos pararam impressionados com minha declaração.

— Pessoal, quero que conheçam o guia de Dante, e agora nosso barqueiro particular... Virgílio!! — Foi chocante, todos estavam maravilhados com a presença ilustre de tal figura.

Reunidos, abrimos a discussão e citando trechos escritos por eles próprios, fomos desenterrando cada letra que ali tivera sido colocada.

Amon defendia que a constelação escondida anos atrás dos humanos estava no céu, disfarçada entre o aglomerado de estrelas, enquanto Chris retrucava dizendo que ela sempre esteve dentro da mente de cada ser, porém, acessível apenas aos vórtices.

Não parecíamos evoluir e muito menos definir a forma de encontrar nosso santo graal. Até que Virgílio nos proporcionou uma visão interessante.

É fato que ambos alegam terem conseguido a chave para abrir esta porta, cada um à sua maneira atingiu o mesmo objetivo, mas o que realmente importa não é onde e nem como, mas sim o porquê!

Há duas particularidades que se convergem nos dois casos, a primeira mostra que somente após desistirem de buscar a tão sonhada terra além das fronteiras do intelecto humano, que poderão finalmente visualizá-la. E a segunda, mostra que há "estágios" da mente para que se abra a fenda.

Entretanto, a primeira não acontece sem a segunda, assim como, a segunda não acontece sem a primeira. Então, temos dois critérios fundamentais aqui, e acho que não devemos dar as respostas corretas, mas sim, fazer as perguntas adequadas.

O conceito principal do que estudamos diz que, somente quando conseguir finalmente eliminar o "eu", ou seja, ter a "morte do ego", será capaz de abrir os olhos para o mundo real, e arrancar esta máscara que oculta nossa face. Mas, a partir do momento que passa a buscar o seu suicídio psicológico, matando seu ego, está apenas transferindo seu desejo para outro objetivo, ou seja, não está de fato eliminando sua personalidade, querer isto não é diferente de almejar um amor proibido, ou fortuna e fama.

Querer encontrar a constelação do homem e conhecer os apoteóticos, foi o que fizeram inúmeras pessoas que tiveram acesso a tal conhecimento, porém, somente os que desistiram e estavam no estágio final puderam tocá-la.

A chave de ouro deste imenso portão diz que, não se pode querer, apenas é!

A morte do ego acontece justamente quando a pessoa elimina seus desejos e vontades, quando não busca mais ardentemente por algo, inclusive a própria procura pela morte do ego.

Amon só encontrou quando finalmente parou de procurar.

Christopher perdeu tudo, até mesmo se libertou de sua bagagem intelectual e social para viver como ninguém, seu nome virou um número, sua existência sem objetivo, escrevia o que apareceu depois que tirou a venda.

Sua outrora sanidade o bloqueou, assim como, faz com todos que nascem nesta terra. Limitando nossa consciência para que jamais possamos enxergar fora da caverna que nos mantemos aprisionados.

Não temos que existir, naturalmente somos.

Você é o tudo e o nada.

O único e o infinito.

Você somos nós.

E nós somos você.

Apócrifos - A porta dos onze fechosOnde histórias criam vida. Descubra agora