Andrew era a porra de um doente mental, estuprador e pedófilo.
Merda de insônia, nunca consegui dormir bem em toda minha vida, primeiro era o medo de escuro, agora essa maldita imagem de coelho que não sai da minha cabeça. Por que estou tão apavorado?
Por que a qualquer momento ele pode abrir aquela porta, e aparecer com aquela máscara macabra, com olhos vermelhos, expressão desforme e orelhas pontudas. Quem em sã consciência usa uma droga daquela. Se eu fechar os olhos parece que consigo vê-lo.
Puta que pariu.
Mesmo depois de morto ele ainda consegue me assombrar. Precisava criar coragem e ir até o quarto em que ficava, pegar a máscara e queimá-la. É a única maneira de me livrar desta sensação sufocante, respiração pesada e agitação.
Acho que conseguia sentir meu coração se chocando ininterruptamente contra meu peito.
Enquanto ela estiver nesta casa, jamais poderei dormir em paz, eu sei que máscaras não são usadas sozinhas, sem alguém..., mas é horripilante olhar para aquilo...Eu sou um homem, com medo de uma máscara. Só por que fui fodido por um maníaco que tinha fetiches estranhos, não quer dizer que virei uma menina.
Está vendo alguma buceta aqui? Virei eunuco?
Claro que não, é só abrir a porta, subir as escadas até o quarto de cima, abrir o armário que fica do lado da cama e...
E...
Eu não consigo...
Tenho medo, acho que nunca vai passar este pânico.
Pulei da cama, sacudi o corpo igual um lutador de boxe em aquecimento, dei tapas no rosto para criar coragem. Parecia uma tentativa frustrada de me acalmar. Já passava das 02:00 h da manhã, um mês atrás tinha enterrado o homem que usava essa maldição, duas semanas depois estava debruçado em cima de um livro misterioso e agora tentando superar um trauma.
Um ano nesta rotina vai me deixar louco, se bem que nem sei mais se a loucura é algo ruim, o Nigrum a categoriza como o oitavo pecado capital, rejeitado pelo senso comum, mas ainda assim, suscetível a qualquer mente.
A igreja católica definiu tais atitudes humanas que consideravam contrárias às leis divinas, as abominando e punindo os que agissem de tal maneira. Porém, a história contada no livro de capa preta tem uma explicação diferente para isto. E estou tentado a acreditar que os contos das entidades do Nigrum escondem uma verdade limitada a poucos.
Após alguns minutos de reflexão, andando de um lado para o outro no quarto escuro, resolvi por dar um fim na máscara de coelho de Andrew, com força abri a porta do meu quarto, como quem acabara de escutar um discurso inspirador e estava pronto para morrer pela pátria se necessário.
Dei os primeiros passos na escada apressados e determinados, porém, de acordo a imagem e a lembrança das vezes que acuado num dos cantos da casa fiquei encolhido, torcendo para que ele não me enxergasse, voltaram a aparecer, o ritmo diminuía, e pisei cauteloso nos degraus próximos ao fim da escada.
No último, parei, e pensei em voltar.
O passado ainda me assombrava e deixou cicatrizes profundas.
Em dúvida sobre prosseguir ou recuar, vi a porta do quarto de Andrew sendo aberta por dentro, arrastada devagar fazendo um rangido.
Congelei. Não conseguia comandar meu corpo, quem estava lá? Quem estava abrindo a porta?
É ele... é a merda da máscara de coelho... ele vai vir me pegar.A porta estava quase inteiramente aberta, quando vi uma sombra sendo projetada pela luminosidade da lua que entrava pela janela. Tudo que consegui fazer foi me encolher na escadaria, cobrindo meu rosto para não ver o que aconteceria a seguir. Pela fresta dos dedos, a sombra trazia uma orelha acentuada e longa.
Era ele...
Tudo que queria naquele instante era morrer.
Os passos eram tranquilos e pacientes, como sempre foram. Estava vindo em minha direção, eu podia escutar o respirar rápido e mesmo sem olhar, ver os olhos vermelhos cor de sangue me encarando.
Quando ouvi sua voz, algo dentro de mim rasgou-se, acho que foi meu coração acelerado cansado de tanto sofrer.
— Vamos pequeno Ed! Você quer brincar com o senhor Coelho?
Após sua mão tocar em minha cabeça. Acordei. Gritando e rasgando o silêncio da noite com uma súplica de socorro.
— Não!!!
A maldita máscara de coelho jamais saiu da minha mente.
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Apócrifos - A porta dos onze fechos
Mystery / ThrillerAnderson Valadares Autor de: "O homem e a caixa"; "A vila das máscaras" e "O moldador de mentes" Narra sua quarta história: "Apócrifos - A porta dos onze fechos" *** A mente humana ainda possui muitas incógnitas, algumas delas talvez jamais cheguemo...