Capítulo 19

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   Aproveitei que Diana já tinha ido dormir e peguei a estrada indo ao encontro de Hugo Vank. Um especialista em armas e um ótimo atirador. Braço direito do Chinês e também é o seu calcanhar de Aquiles. Nada o acontece e é ele quem manda, quando seu chefe não assume a liderança. Algo nele, é familiar. O jeito discreto e misterioso, que com certeza, temos muito em comum. Sei com quem estou lidando e é por isso que preciso de respostas. Preciso acabar de uma vez com isso.

   Eu o esperava do lado de dentro do complexo sentado no sofá azul-marinho de camurça em frente ao chafariz do jardim. A porta se abre aos poucos e Hugo caminha pela casa tirando o chapéu panamá preto colocando-o sob a mesa, quando ele saca o revólver e mira na minha cabeça ao perceber a minha presença. Eu sabia que Hugo não iria fazer nada contra mim. Apesar de ele saber que eu trabalhava para o Charlie, já nos conhecíamos de alguns anos.

   Hugo abaixa a arma e a coloca de volta na cintura arregaçando as mangas da camisa.

— Porque está aqui a uma hora dessa, Harp? — Ele pergunta, desconfiado e dá de ombros indo em direção ao barzinho.

   Me levanto do sofá e me aproximo em passos lentos sem tirar os olhos dele e quebro o silêncio.

— O Chinês quer vingança, pelo Charlie ter matado a Angelica. Porquê matar uma garota que não tem culpa de nada? — Questiono, intrigado e franzo o cenho.

   Hugo se vira e balança a cabeça revirando os olhos nervoso.

— Eu cansei de aconselhar o Chinês. A filha do Charlie, é só uma menina. Ela não tem culpa se o pai é um crápula... - Ele diz, fazendo uma breve pausa. - Você está com a garota?

   Mantive a mesma feição para não ser descoberto e então balanço a cabeça o fitando com os olhos.

— Eu cansei de aconselhar o Chinês. A filha do Charlie, é só uma menina. Ela não tem culpa se o pai é um crápula... — Ele diz, fazendo uma breve pausa. — Você está com a garota? 

— Charlie pediu para eu levá-la de volta pra casa. Até agora, não sei nada da menina. — Minto, sendo convincente.

— Então porquê veio atrás de mim? O que quer? — Ele pergunta, sendo direto.

— Eu não vou desistir de encontrá-la. E pode ter certeza, que eu matarei um a um que a queiram levar para o Chinês. — Rosno, entredentes o fuzilando com os olhos.

— Não estamos no mesmo barco, mas posso te dar os nomes e só assim, eles não ficaram no seu caminho... — Eu o interrompo dando de ombros.

— Eu sei quem são. Não preciso de ajuda, Hugo! — Afirmo, apenas passando pela porta.

***

   Tiro as pernas de Freya de cima do meu corpo eu a olho dormir e a deixo jogada sob a cama. Balanço a cabeça pensando na merda que fiz que um dia falei para mim mesmo, que não voltaria a ficar com ela. Termino de vestir a calça e coloco os sapatos me levantando da cama. Me aproximo da arara de roupas e puxo a camisa que estava pendurada e a visto. Pego o sobretudo e me visto rapidamente antes que Freya acorde. Dou de ombros abrindo a porta e ouço a voz da loira soando atrás de mim.

— Declan, porque você tem que ir agora? — Ela pergunta, com a voz de sono.

   Me viro e olho em seus olhos ainda parado na porta e quebro o silêncio.

— Essa é a última vez que você me verá aqui, Freya! Entre mim e você, não acontecerá mais nada! Considere como um aviso. — Digo, convicto fixando o olhar em seus olhos.

— Você não pode fazer isso comigo, Declan! Há exatamente nove anos, que temos um caso... — Eu a interrompo, balançando a cabeça.

— Se pra você significou alguma coisa, é uma pena. Porque pra mim, não foi nada de mais. Foi coisa de momento, Freya. Deixei isso muito bem claro pra você! — Afirmo, impaciente colocando as mãos na cintura.

— Porquê eu sou uma... — Freya fala, fazendo uma breve pausa, mas não consegue terminar a frase.

— Você sempre será uma puta, Freya! Você está nessa vida, porque quer! Se fosse mais inteligente, iria fazer alguma coisa... Talvez ter se casado com um cara podre de rico. Só assim, não teria que vender o próprio corpo. — Falo, em voz alta irritado.

   Freya levanta da cama deixando seu corpo a mostra e se aproxima possessa de raiva com os olhos arregalados.

— Não é isso que o seu corpo sentia, quando ficava por cima do meu. — Ela diz, convencida e ergue as sobrancelhas.

   Freya adorava tirar palavras da minha boca e eu ficava mais irritado quando isso acontecia.

— É a última vez que eu vou falar. Não me procure mais, Freya! — Exclamo, erguendo as sobrancelhas.

— Você tem outra, é isso? Responde. — Freya diz, baixinho.

— Pense o que quiser. Não tenho que te dá satisfações. — Retruco, dando de ombros e saio do quarto.

Na manhã seguinte...

Diana

   Desde que cheguei na casa de Declan, ele sempre fazia a mesa do café da manhã para mim. Então, hoje decidi fazer algo para agradá-lo começando a colocar suas roupas para lavar na máquina junto com as minhas. Apesar que isso eu nunca fiz. Mas uma coisa eu tenho que agradecer aos meus pais, por não ter sido uma filha mimada.

   Coloco peça por peça e um pouco de sabão em pó. Depois pego a camisa de Declan que estava por debaixo do sobretudo e sinto um cheiro diferente. Um perfume barato de mulher. Franzo o cenho e levo a camisa para longe de mim a jogando na máquina, imaginando mil coisas na minha cabeça.

   Ele saiu com uma mulher depois que eu dormi. E justamente esperou eu dormir para procurar um rabo de saia, já que pra mim, ele não me olha com outros olhos. Eu preciso saber quem é essa mulher. — Penso, em silêncio pegando em meus devaneios possessa de raiva e, ao mesmo tempo, sinto ciúmes.

   Dou de ombros saindo da lavanderia e passo pela cozinha quando dou de cara com Declan a minha frente sem camisa, deixando seu peitoral a mostra me fazendo ficar boquiaberta. Suspiro fundo e ele sorri ao me ver.

— Acordou cedo! Pensei que iria dormir até mais tarde. — Ele diz, apenas se esbarrando em meu ombro quase proposital.

   Passo por ele e ergo as sobrancelhas quebrando o silêncio.

— Sabe, acho que vou fazer isso. Me deu um sono agora! — Digo, totalmente irônica e sorrio em linha reta.

   Cretino! Safado! Que vontade de te dar um tapa na cara! Mas eu sou tão tola, porque estou me apaixonando por você, Declan Harp. E eu te odeio por isso. Por me apaixonar. Porque meu Deus? - Penso, em silêncio enquanto não tirávamos os olhos um do outro.

   Declan me olha diferente como se eu o tratasse de outra forma. Deu pra perceber, porque até sua expressão facial havia mudado.

— Eu pensei que queria fazer algo, já que agorinha é hora do almoço. Poderíamos fazer o almoço juntos. — Declan diz, sendo gentil.

   Sorrio novamente, tentando não demonstrar a minha raiva. Mas é em vão. Porque a vontade de ir pra cima dele é tão grande que se for gentil comigo de novo, eu faço isso e não respondo por mim.

— Deixa para uma outra hora. Não estou com tanta fome assim Declan. — Retruco, franzindo o cenho.

   Declan me olha desconfiado por tratá-lo com indiferença e ergue as sobrancelhas.

— Tá bom! De toda forma, eu farei o almoço. Quando sentir fome, você come. — Ele responde apenas, dando de ombros.

   Faço o mesmo dando de ombros e passo pela sala subindo as escadas indo para o meu quarto.

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