Tarde Demais

Capítulo 48

   Alexandre me olha nos olhos e acaricia as maçãs do meu rosto se debulhando em lágrimas, quando me dá outro abraço desesperador e recua para trás novamente.

— Tem os olhos da sua mãe. — Ele diz, sorrindo. — Tem os lhos da Sonia.

— Sim, papai! — Confirmo, apenas assentindo com a cabeça.

— Vamos entrar! A gente tem muito que conversar. — Alexandre fala, abrindo a passagem para que possamos entrar.

   A casa de Alexandre é incrivelmente aconchegante. Nunca me senti tão bem e esse, era um dos meus maiores sonhos de morar num lugar onde não fosse tão perto da cidade. 

   Havia tantas coisas para conversarmos. Sobre mim, sobre a mamãe. Mas eu contei um pouco de tudo que aconteceu, desde a minha infância, enquanto saboreávamos o lanche da tarde. Eu via nos olhos do escritor que brilhavam, toda a vez que falávamos de mamãe. Alexandre não tem ninguém, que não seja eu como a sua legítima filha, mas também não se casou.

   Sempre viveu sozinho, mas não deixava de alcançar os seus objetivos. E o tempo fez, com que nos encontrássemos novamente. Se eu soubesse que ele sempre foi meu pai, talvez eu não passaria por tudo isso.

— E como o senhor e a mamãe se conheceram? — Pergunto, tomando mais um gole de café desviando os olhos para Declan e sorrio.

   Alexandre coloca a xícara de café sob a mesa e encosta as costas na cadeira de balanço erguendo as sobrancelhas.

— Sonia e eu, nos conhecemos no festival do vinho em Cherry Hill. A cidade que ela nasceu e foi criada pelos pais, Bill e Lourdes. Nos apaixonamos e eu até a pedi em casamento quando estávamos juntos às seis meses. Mas tudo se desmoronou, quando Charlie ficou obcecado pela Sonia... — Ele explica, fazendo uma breve pausa. — Eu tentei tirá-la de Cherry Hill, mas Charlie me ameaçou.

— E o que aconteceu depois? O senhor foi embora? — Questiono, intrigada e franzo as sobrancelhas.

— Eu tive que partir pra bem longe. Cinco anos depois que eles se casaram, eu soube que tinham se mudado para Filadélfia. Fui atrás da sua mãe onde sempre marcávamos encontro no Café&Chocolateria e em um desses encontros, Charlie descobriu que Sonia estava comigo.

   Levo as mãos na boca e os meus olhos se arregalam de surpresa. Declan e eu nos entreolhamos e ele balança a cabeça, como se eu estivesse pensando no mesmo que ele.

— Charlie, nunca foi uma pessoa fácil de lidar. — Declan diz, convicto desviando os olhos para Alexandre.

   Assim que Charlie descobriu a traição de mamãe, Alexandre nos contou que mamãe estava esperando um filho. E foi aí que Alexandre suspeitou que eu poderia ser a filha dele, sendo que, na verdade, Lupita é a filha de Charlie, por ela ser a mais velha.

   Após o nascimento de Lupita, ele confirmou a morte da minha irmã, mas a levou para um orfanato. Mamãe caiu em depressão e foi internada numa clínica, onde novamente, Alexandre a encontrou. Eles planejavam fugir juntos e no dia combinado, Charlie a encontrou fugindo da clínica de reabilitação. Assim que Charlie reconheceu que era melhor levá-la de volta pra casa, mamãe descobriu pouco tempo depois que estava grávida de mim e que eu sou a filha caçula por ser filha de Alexandre.

   Mamãe mentiu o tempo todo para Charlie. Meses depois, Charlie soube que Alexandre estava no Condado e armou uma cilada para Alexandre, contratando alguém para instalar uma bomba embaixo do carro onde a bomba explodiu, dando a entender que Alexandre estava morto. Mas ele foi socorrido e depois da recuperação, mudou o seu nome para Alexandre Black, adotando apenas o sobrenome do seu pai, sendo que antes era conhecido como Alexandre Fleury, que era o sobrenome da sua mãe.