Capítulo 44

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   É tão lindo e tão pequenininho que dá vontade de pegá-lo e não soltá-lo mais. Um sorriso transborda pelo meu rosto de felicidade e Kalel toca os dedos de suas mãos com os meus e eu afasto uma madeixa de meu cabelo atrás da orelha. Seus olhos de avelãs, se cruzam com os meus e um sorriso brota bem ali no cantinho de sua boca, segundos depois de meu sorriso nascer em meu rosto.

— Ele é lindo como o pai. — Digo, baixinho. — Parabéns, Kalel!

   Lhe dou um forte abraço e ele retribui com carinho. Olho por cima de seu ombro esquerdo quando ouço o som de alarme vindo do quarto de Vicky. Cada passo que os paramédicos dão, é um sinal de alerta e faz meu coração pulsar quase saltando para fora. Meus olhos se arregalam por completo e recuo para trás, chamando a atenção de Kalel que também vira para trás.

   Dou de ombro saindo correndo em direção ao quarto de Vicky seguindo Kalel logo atrás e adentramos ao local, quando a vejo rodeada de paramédicos em sua volta. Kalel passa as mãos pelos cabelos e se aproxima, mas é impedido por um dos médicos.

— É melhor vocês ficarem do lado de fora. A paciente está sofrendo um ataque cardíaco...

— Não! Vocês precisam trazê-la de volta! — Digo, em voz alta.

   As lágrimas escorrem por todo rosto. Kalel tenta tirar o médico de sua frente, mas os seguranças chegam primeiro, fazendo-nos tirar para fora do quarto de Vicky. Ficamos do lado de fora olhando pela janela, os médicos tentando reanimá-la. Cada minuto, é um tormento por dentro e isso me deixa instigada.

   Todos os momentos que passamos juntas, voltam como cenas de um filme que o final, não podia ser dessa forma. Vicky acabar a vida em uma cama de hospital, não podendo fazer por si mesma para viver cada momento ao lado do seu filho que acaba de nascer.

   Kalel bate várias vezes contra o vidro que nos separa do quarto de Vicky. Eu tento acalmá-lo, mas é em vão. É como se eu não estivesse aqui. Como se eu não existisse e mesmo assim, ele continua a debater contra o vidro, com os olhos vermelhos. O choro que há alguns minutos era de alegria, se torna em tristeza.

   Aos poucos os paramédicos se afastam de Vicky. Eu tento procurar seu rosto desesperadamente e ali eu vejo seus olhos abertos, mas sem vida alguma. Vicky não se mexe. Ela ainda continua a olhar para cima, mas seu corpo não responde aos chamados dos paramédicos. 

   A porta se abre e eles saem do quarto de cabeça baixa. Kalel passa pela porta e eu o sigo logo atrás, sem tirar meus olhos dela. Kalel senta na cama e pega sua mão e cai aos prantos sem dizer uma só palavra. Eu não tenho peito para aguentar essa situação.

— Vicky, não! Amiga! — Eu a chamo, me aproximando e pego em sua mão tentando acordá-la.

   Eu a balanço, várias vezes, a ficha não cai e eu não quero que isso aconteça. Porque eu sei, que a dor será mais forte. 

   Kalel dá a volta pela maca e me tira de cima de Vicky me abraçando. Eu me debato contra ele, mas é mais forte que eu. Seus braços encontram minhas costas e me apertam fortemente tentando me tranquilizar. Seus soluços são constantes e ele enterra seu rosto em meu pescoço, na procura de um conforto.

— Ela se foi, Diana... — Ele diz, pausando as palavras. — A Vicky se foi. 

   Balanço a cabeça em negação e as lágrimas continuam a rolar pelo rosto.

— Não! Ela não pode me deixar! — Choramingo, baixinho.

   Eu o abraço fortemente para que não vá embora e vejo os familiares passando pela porta com os olhos lacrimejados. Principalmente seus pais, que eram tão apegados a Vicky.

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