Capítulo 42

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   Kalel balança a cabeça em negação fixando seus olhos nos meus e quebra o silêncio.

— Diana, por favor! Desça daí! — Ele fala, em voz alta.

   Desvio os olhos para baixo tendo em vista, que só há água por todos os lados. Fecho os olhos e suspiro fundo e passo as pernas, descendo entremeio as grades e sinto meus pés no asfalto outra vez. Kalel caminha sob minha direção sem tirar seus olhos dos meus e inclina a cabeça.

— O que pensa que está fazendo? Ficou maluca? — Kalel rosna, sem muita paciência e dá mais um passo a frente até ficarmos frente a frente um com o outro.

— Como você acha que eu me sinto? A minha família está acabada. A fábrica está acabada. Eu estou acabada! Eu não tenho mais para onde correr, Kalel! — Falo, em voz alta.

— Acha mesmo que pular da ponte ou dá um tiro na cabeça, vai resolver alguma coisa, Diana? — Ele questiona, engolindo em seco. Olho para o chão, irritada. — Olha pra mim, Diana.

   Desvio novamente os olhos para ele e molho os lábios, balançando o revólver e ergo as sobrancelhas.

— Porque ficou com ela? — Kalel questiona, referindo-se a arma preferida de Declan.

— Porque eu não podia vendê-la. Ok? E eu não iria fazer nada de mais, Kalel... — Falo, fazendo uma breve pausa e dou de ombros indo para o carro e guardo a arma na cintura.

   Ele anda para a minha direção e olha cabisbaixo balançando a cabeça em seguida voltando a me olhar. Eu olho por cima de seus ombros e vejo Sebastian pegando a estrada indo embora.

— Veio com ele? — Pergunto, apenas e cruzo os braços.

— É, eu vim. Levei a moto para a oficina e agora eu acho que preciso de uma carona. — Kalel fala, olhando para o nada.

— Vamos sair daqui! — Digo, abrindo a porta do carro e adentro ligando o motor.

   Kalel faz o mesmo e fecha a porta segundos depois. Ouço o roncar do motor e sinto o cheiro dos pneus queimando no asfalto dirigindo sem rumo algum.

— Para onde vamos? — Ele pergunta, apenas ascendendo um cigarro.

— Vamos visitar os meus avós. 

***

   Vovô ficou sabendo de todos os detalhes que envolvia a empresa da família. Sua feição, era de total tristeza, pois saber que foi à ele que subiu todos aqueles muros enormes de concreto, não teria forças suficiente para reerguê-los novamente começando do zero, ainda que juntássemos nossas ações, o comprador anônimo ficaria um passo a frente de todos nós por ter a maior parte da empresa de madeira Kyllen.

   Apesar de tudo isso está acontecendo, vovô me fez lembrar que ainda existe o outro lado bom da vida. É como voltar no tempo e ser novamente uma criança. Correr pela floresta, dependurar sobre os galhos das árvores e esconder dos adultos quando uma travessura for descoberta. É entender os fatos e seguir de cabeça erguida, mesmo que todos a sua volta queiram de derrubar.

   Kalel e eu poderíamos ter passado mais um tempo na casa dos meus avós, mas eu saberia que se eu não voltasse para casa, mamãe iria ficar mais preocupada comigo.

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