Capítulo 34

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Declan

   A camisa estava toda suja de sangue e o único jeito era se livrar dela, ateando fogo. Bruce aproxima com uma garrafa de whisky e joga um pouco do líquido amarelo sob a camisa e em seguida, acende o esqueiro e joga contra o tecido branco, que logo o fogo se esparrama onde um dia, já foi uma camisa social.

   Meus olhos ficam vidrados pelo fogo que arde a minha frente, me fazendo lembrar de todo o meu passado. Talvez, um dia, eu saia dessa vida. Mas não hoje. Preciso terminar o que Karl começou e descobrir o porque Diana está metida nisso tudo, além do Chinês a querê-la morta.

— Você sabe que o canalha merecia morrer. — Bruce fala, tomando um gole cheio da bebida.

   Ergo as sobrancelhas e concordo com a cabeça.

— Preciso que me faça um favor. Se eu for preso, mantém os olhos na Diana. — Digo, desviando o olhar para ele.

— Você não vai ser preso outra vez, Declan Harp. Poderá ficar longe por uns dias...

— Bruce, eu não posso mais fugir. E não posso destruir a vida da Diana nessa maneira. Eu a coloquei em muita confusão e passar a vida toda fugindo comigo, é demais pra ela! Me prometa aqui agora, que cuidará dela. Até eu ser solto. — Ordeno, em um tom autoritário e franzo o cenho.

   Bruce assente, concordando com a cabeça e põe as mãos no bolso da calça.

— Eu prometo. Conte comigo, Declan Harp. — Ele fala, apenas olhando para o nada.

   Me levanto da poltrona e ouço passos apressados caminhando para a nossa direção. Bruce e eu, olhamos imediatamente para a porta do salão e Lupita surge minutos depois se aproximando faltando ar.

   Ver ela e não a Diana, me deixa mais intrigado. Engulo em seco e franzo as sobrancelhas dando um passo para frente.

— Declan, Bruce! Levaram a Diana... — Lupita diz, com a voz arfa.

— Onde está a Diana, Lupita? Quem a levou? — Questiono, preocupado com mil pensamentos na cabeça.

   Lupita tira do bolso um bilhete e me entrega. Eu o abro segundos depois e reconheço a letra que diz que o Chinês a levou para cumprir a promessa de vingança.

— Merda! Merda, merda! Faz alguma coisa, Declan Harp! Pensa! — Digo, em voz alta possesso.

   Ando de um lado para o outro e jogo o cabelo para trás e Bruce se aproxima intrigado.

— Quem mandou esse bilhete? Quem a levou, Declan?

— O Chinês está com ela. O Hugo quem escreveu o bilhete e deixou a localização. — Falo, apenas me aproximando da parede e dou um soco daqueles bem fortes de raiva.

— Canalha, maldito! A gente tem que fazer alguma coisa...

— O Chinês quer vingança, então ele terá! — Afirmo, mudando a minha feição e dou de ombros.

***

   Shan Makata, conhecido como o Chinês do tráfico, escolheu o pior lugar para fazer a Diana de refém. Mal sabe ele, o que te espera nas próximas horas. — Penso, em silêncio mantendo os olhos firmes na estrada.

   Bruce recarregou a sua arma com mais balas enquanto eu fazia o trajeto que Hugo Vank havia deixado no bilhete. O lugar era mais afastado, sem chance alguma de qualquer suspeita.

— Tem muitos homens do lado de fora. — Ele fala, analisando cada um em volta da casa. 

— Duvido que sejam mais rápidos do que nós dois. — Debocho, erguendo a sobrancelha esquerda e estaciono o carro com os faróis apagados atrás de uma árvore.

   Desço do carro e Bruce faz o mesmo, sem batermos as portas. Guardo as armas em todos os lugares possíveis e Bruce acena para mim, indo na frente para distrair os capos do Chinês.

   O primeiro tiro, é certeiro. Um dos capos ao lado direito da porta de entrada cai inconscientemente no chão, sem chance alguma de sobreviver. Todos se olham ao mesmo tempo, inquietos, mas estão sempre em guarda preparados para qualquer coisa. 

   Eles observam cada lugar, para cada distância entre eles mesmos e é agora que o meu jogo começa. Retiro a faca de dentro de uma das botas e miro contra o capo que está do lado esquerdo da sacada, a lançando contra ele, atingindo seu abdômen, que segundos depois, se desequilibra e acaba caindo pelo gramado.

   Um a um, começam a cair em meio aos tiros certeiros e outros não. Me escondo atrás da árvore, mas ao voltar, sou atingido por uma bala acima do ombro, pegando de raspão.

   Bruce se aproxima, mas eu balanço a cabeça em negação coo um sinal para não chegar perto. Olhei para a casa e acenei com a cabeça, para que ele entendesse o recado. Ele assente, dando de ombros tendo a certeza que tudo está limpo.

   Corro os olhos para todos os lados, sob as enormes árvores e sinto uma ardência insuportável no local onde fui atingido. Pressiono a mão, estancando o sangue fazendo-o parar de escorrer e saio por detrás da árvore em passos apressados na intenção de entrar na casa, quando me deparo com mais um verme canalha contratado pelo Chinês.

   Por uma das janelas da sacada, Chinês me observa com atenção, desejando a minha morte e como recompensa, a minha cabeça sendo rolada pelo chão. Eu não consigo mais pensar em nada. Apenas na pessoa que me tornei.

   Nem as palavras de Diana que várias vezes tentaram me avisar pra ficar longe dessa vida e muito menos ela, não vai me fazer mudar de ideia. Pelo menos por agora. Eu vou matar qualquer um que cruzar o meu caminho para não ter que vê-la morrendo em meus braços. 

   O capo se aproxima com uma faca e em um piscar de olhos, eu acerto seu ombro atingindo-o com um golpe fatal no coração. O sangue jorra incontrolavelmente, espirrando o líquido vermelho na minha camisa branca, a manchando por completa.

   Depois de vê-lo caído na minha frente, mais uma vez pego a faca e limpo o suor da testa desviando os olhos para o maldito mafioso que me encara pavorosamente. Grudo minha mão esquerda em seu pescoço e com a outra segurando a faca, eu a cravo entremeio ao seu peito e então começo abri-lo, como um açougueiro insano, partindo um porco no meio.

   O sangue escorre pelo corpo e alguns respingos se direcionam em meu rosto, mas não me importo. Já passei por coisas piores.

   Jogo a faca para o lado e de joelhos olhando para o céu depois de ganhar a luta, respiro fundo e grudo minha mão na cabeça do homem e com a outra, arranco a espinha dorsal, depois de deixá-lo em pedaços.

   Me levanto do chão e ando pela beira do mar, onde as águas estão agitadas segurando a cabeça grudada com a espinha e a ergo para cima, mostrando ao Chinês, que irei fazer o mesmo com ele, como uma forma de vingança e um rugido, escapa da minha boca como um grito de guerra.

   Hoje, eu sou o homem que me tornei. Amanhã, uma nova vida começa. E no futuro, meu nome será lembrado.

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