Capítulo 03

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Declan

   Ainda de guarda pelo deck de madeira, observo do outro lado do rio a festinha que o chefe torra o dinheiro com um bando de gente hipócrita se divertindo à beça. Além de recebê-los em sua casa, a família também está toda reunida. Charlie presa muito pela esposa e pela filha. Mas o mais estranho é que nunca ouvi falar e vi alguma imagem da filha do dono do narcotráfico.

   Por um momento me recordo que deixei aquela carta em algum lugar próximo a mim.

   Olho para o lado e depois para o outro e me agacho retirando debaixo de uma madeira oca o velho papel que antes era branco e que pelo tempo ficou amarelado. Guardo no bolso da calça social e me levanto ficando de pé fixando os meus olhos naquela casa.

— Temos muito que conversar, Charlie Kyllen. — Falo, em voz alta sozinho em meio a escuridão.

   Em passos lentos em meio a multidão que me rondeia passo pelo enorme jardim da mansão à procura do homem que fez com que eu pegasse uma pena de sete anos e meio. Pelo menos pagou um bom advogado para que reduzisse os anos em que passei dentro daquele cafofo.

   E bem ali junto a Sonia sua adorável esposa, ele degusta de um bom vinho estilo italiano. Esse sim faz o seu gosto como sempre. Como não saber de tudo que se passa na vida de um homem calculista e impiedoso onde o seu ponto fraco é a sua própria família? Há tantas coisas que estou por dentro que até o diabo choraria de pena.

   A sua hora vai chegar. E enquanto não chega temos muitos assuntos para resolver. — Penso, em silêncio ao mandar uma mensagem no seu celular.

   Desvio novamente o olhar para Charlie que em seguida me manda a resposta por mensagem pedindo para eu encontrá-lo em seu escritório onde mantenho a pose totalmente sério.

   Ao entrar na casa corro os olhos para todos os lados e percebo que o filho da puta é podre de rico. Qualquer um que entrasse para o narcotráfico teria uma mansão luxuosa como essa. O dinheiro que fui bem pago pelo menos me serviu para alguma coisa.

   Avisto a porta vermelha depois da lareira e segui rumo a ela. A mesma estava entreaberta onde podia vê-lo andando de um lado para o outro como se estivesse preocupado com alguma coisa. Adentro pelo local e logo mais, Charlie se vira me olhando surpreso pela minha visita.

— Alguém viu você entrando? — Ele questiona, nervoso.

— A não ser, que eu vire um fantasma! — Digo, rispidamente. — Ninguém me viu. — Ponho as mãos no bolso da calça e olho para o teto dando voltas em passos lentos.

— Muito bom. Soube que saiu da prisão há três meses. Porque não me ligou? — Charlie pergunta, intrigado sentando-se nem sua poltrona.

   Paro de dar voltas e firmo os punhos sob a mesa do escritório fuzilando-o com os olhos.

— Precisava ficar sozinho. — Digo, apenas o fuzilando com os olhos.

   Charlie sorri balançando a cabeça e quebra o silêncio.

— A solidão te consome por dentro, Harp. Mas eu pensei que viria antes pra pegar mais dinheiro. — Ele diz, cabisbaixo.

   Dou de ombros olhando mais uma vez para o teto da sala e jogo meu cabelo para trás com uma só mão.

— Eu preferi esperar a hora certa. Você sabe que me deve muito dinheiro... — Ele me interrompe, levantando da poltrona.

— Eu preciso de você, Harp. E esse é um lucro que tenho certeza que não vai recusar. — Ele fala, mudando de assunto.

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