Capítulo 28

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Ferndale, dias depois...

   Ferndale é simplesmente uma cidade completamente diferente de onde eu nasci. População: 1.373 habitantes. Parece ser tão pequena, mas Lupita disse que é um lugar fácil de conviver, ainda mais com os moradores. 

   Bruce pede para que o motorista de seu tio Gary, abaixe as janelas. O motorista apenas assente, abaixando as janelas e logo mais sinto o vento chicotear meu rosto, balançando meus cabelos para trás. Continuo a olhar para fora de dentro do carro e observo as pessoas andando calmamente pelas ruas. Confesso que por um momento, isso me acalma. Depois que presenciei muitas coisas ruins acontecerem ao meu redor e me distanciar de Filadélfia, acho que será bom pra mim.

— Aquela loja, tem os melhores sorvetes de Ferndale! — Lupita afirma, apontando o dedo para o outro lado da rua.

   Eu a olho por alguns segundos e sorrimos ao mesmo tempo. Depois volto a olhar novamente para as ruas, quando o celular de Bruce toca. Saio do parapeito da janela e olho firmemente para Lupita que já sabe o que estou pensando. Mesmo que Bruce não fale nada, eu sei com quem ele mantém contato desde quando chegamos a Ferndale e isso me deixa entediada.

   O motorista estaciona o carro em frente a igreja e eu abro a porta do meu lado esquerdo. Lupita e Bruce logo fazem o mesmo e damos de ombros ao carro, subindo as escadas adentrando ao local. Me curvo diante da imagem de Cristo bem a frente e entro na igreja seguindo Bruce e Lupita logo atrás.

  Todo ano, Bruce visita Ferndale ao lado de sua namorada onde ele faz orações pelos seus pais. Na alta sociedade, são as mulheres que mais visitam as igrejas, ao contrário dos homens, que não ligam muito para religião. Antes de conhecê-lo, eu pensava que era um homem como os da alta sociedade, mas Bruce, se mostra bem religioso nesse ponto de vista.

   Senhor, eu preciso da tua ajuda! Eu preciso que me ajude a encontrar a minha irmã. Eu preciso que o Senhor me ajude a fazer justiça contra meu pai. E eu sei... Eu queria muito não ter conhecido Declan Harp. Mas eu me arrependeria pedir isso a ti, Senhor! Mas o melhor é ele ir para o mais longe possível. É tantos pedidos e só pelo fato de eu pedir, estou sendo ingrata, ao invés de agradecer pelo Senhor ter salvo a minha vida. E há uma última coisa que lhe peço: Faça com que Declan não se aproxime mais de mim, mas o proteja. Eu lhe peço. — Penso, em silêncio fazendo minhas preces.

   Um vulto escuro passa por mim quando ainda mantenho meus olhos fechados. Mas a sensação ruim, faz meus pelos se eriçarem quando sinto seu lado obscuro. Abro os olhos rapidamente, mas não há ninguém ao meu redor. Engulo em seco e viro o pescoço olhando para trás, quando vejo sua silhueta ao sair da igreja pra fora. 

   Meus olhos se arregalam e minhas pernas ficam bambas de nervosismo. Me levanto na mesma hora e dou de ombros seguindo o cara que um dia me fez tanto mal. 

   O clarão do dia surge em meus olhos assim que dou um passo afora da igreja. Corro os olhos para todos os lados e ao ouvir alguns passos, me viro dando de cara com Nikolas. Meus lábios se entreabrem e novamente minhas pernas ficam bambas, como se eu visse um fantasma. 

— Surpresa em me ver, Dianinha? — Nikolas pergunta, abrindo um sorriso nojento no rosto.

   Ergo as sobrancelhas e o fuzilo com os olhos possessos de raiva sem esconder minha reação.

— Posso saber o que faz aqui? — Questiono, ignorando sua pergunta.

   Ele desvia os olhos para outro lugar e põe as mãos no bolso quebrando o silêncio.

— Procurando um lugar para passar o tempo... — Ele diz, fazendo uma breve pausa. — Afinal, porque eu iria responder sua pergunta? Quem me deu um pé na bunda foi você, pelo que me lembro...

— Não seja hipócrita, garoto! A gente nunca, teve algo sério e quando não estava comigo, corria feito cachorro no cio a procura de outra. — Retruco, revirando os olhos.

   Nikolas anda em círculos ao meu redor e isso me deixa mais nervosa. A última vez que fez isso, quase fui vítima de um crime. A sorte minha, foi Kalel ter chegado antes. Antes mesmo de Nikolas por suas garras em meu pescoço.

— Se lembra da última vez, Diana? Quando você me fez de bobo? Estávamos a um passo de realizar nossos desejos, se não fosse por aquele marginal do seu amiguinho...

— Cala a boca, Nikolas! Você não o conhece! E quem não presta aqui é você! — Rosno, entredentes sem tirar meus olhos dos seus. — É melhor ficar longe de mim...

— Ou o quê, Dianinha? Você não tem nenhuma prova. — Ele me interrompe, sorrindo descaradamente.

   Sorrio, balançando a cabeça e ergo as sobrancelhas dando de ombros.

— Veremos, então! — Digo, convicta ao entrar na igreja.

   Dou de cara com Lupita e Bruce vinha logo atrás. Ela me olha desconfiada e quebra o silêncio.

— Aconteceu alguma coisa? Parece que viu um fantasma. — Ela fala, erguendo o cenho.

   Balanço a cabeça em negação e ponho os braços para trás.

— Eu precisava respirar um ar. — Minto, tentando convencê-la que nada aconteceu.

— Ótimo! Bom, acho que tudo está quase pronto e é melhor voltarmos para a fazenda. Estão nos esperando. — Lupita fala, sorrindo em linha reta.

   Eu olho para os dois meio sem jeito e quebro o silêncio.

— É melhor que vocês fiquem com os convidados! Eu não estou pra festa hoje. — Falo, suspirando fundo.

— Ah! Mas você vai sim, Diana! Você é nossa convidada e tenho certeza que no monte de portas daquele enorme closet da Lupita, encontrará uma roupa que fique boa em você. — Bruce fala, dando algumas piscadelas e sorri em seguida.

***

Declan

   Vaguei pela estrada sem destino. Passei por vários lugares apenas por passar, mas o meu destino era chegar até Ferndale e levar Diana comigo seja para qualquer lugar. Longe de todo mundo, apenas e eu e ela. Frente a frente outra vez.

   Deixo o carro estacionado em um local mais afastado e o tranco em seguida dando de ombros andando em direção ao aglomerado de pessoas a minha frente. Bruce havia me dito que seria um churrasco, mas está mais para uma festa de casamento caipira em uma fazenda.

   Pego um drink oferecido pelo garçom onde avisto Bruce que vinha em minha direção com a mão direita no bolso segurando um copo de whisky. Deixo o copo que minutos atrás estava na minha mão sob a mesa e ele me entrega seu copo.

— Deixa essa pura água! Toma este! É um dos melhores de Ferndale. — Bruce fala, erguendo as sobrancelhas.

   Sorrio levemente balançando a cabeça e tomo um gole de whisky.

— É! Tem muita gente por aqui. — Digo, observando as pessoas.

— Meu tio gosta da casa sempre cheia... — Bruce diz, fazendo uma breve pausa. — Pensei que demoraria mais alguns dias.

— Não tirei as mãos do volante pensando na hora de chegar. — Respondo, abaixando a cabeça.

— Gosta mesmo dela, não gosta?

   Novamente ergo a cabeça para cima e olho nos olhos de Bruce assentindo.

— A Diana é tudo pra mim, Bruce! Eu não tenho mais ninguém nessa vida! — Afirmo, molhando os lábios.

   Bruce aponta com o dedo para o rumo das escadas da casa sem tirar os olhos do local e eu desvio meus olhos para as escadas, avistando a doce imagem a alguns metros de distância descendo os degraus.

— Então é melhor que decida pra ficar com aquela mulher, antes que seja tarde demais, Declan!

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