Capítulo 25

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Diana

   Tomo um gole de suco de laranja caminhando pela cozinha para a sala e ouço um barulho vindo do andar de cima. Eram as benditas marteladas em que Declan batia cada vez mais, trocando a porta do quarto em que eu dormia. Já que fazia alguns dias que estava sem arrumar e finalmente hoje, o grandão tirou um tempinho para arrumá-la.

   Subo os degraus da escada parando bem no topo, onde posso ver suas costas bronzeadas a mostra e seus belos e musculosos braços que não param de trabalhar, enquanto insistem em concertar a porta que o grandão arrombou. 

   Só de olhar para Declan sem camisa, me sobe um fogo imaginando ele me pegar como está agora. De surpresa. Ali sentados no piso. No corre-mão da escada. Em qualquer lugar dessa casa. Acho que estou viciada em fazer amor com ele. — Penso, em silêncio enquanto observo ele terminar de concertar a porta e me aproximo.

   Declan nota a minha presença e passa levemente sua mão direita sob minha perna de baixo para cima, até chegar na minha vulva. Recuo para trás, sentindo cócegas e quase deixo o suco cair no chão. Ele se levanta do chão e abre um sorriso lerdo no rosto e pisca para mim se aproximando.

— Declan? Você vai fazer eu derramar o suco! — Afirmo, tentando controlar o riso e balanço a cabeça olhando em seus olhos.

   Ele agarra minha cintura com suas mãos grandes e pesadas e um arrepio passa pela minha espinha que fico na ponta dos pés, enquanto ele me puxa para mais perto de seu corpo. Declan tira o copo de minha mão e toma um gole, me arrastando para seu quarto e deixa o copo com a metade do suco sob a mesa ao lado do abajur.

   Seus beijos em meu pescoço, me levam a loucura e parece que Declan leu meus pensamentos, quando eu desejava tê-lo novamente como um homem me fazendo sua em cima de mim. Declan enrosca sua mão direita em meu cabelo, mas apenas acaricia os fios loiros escuros e me olha nos olhos, como nunca fez antes.

— Nunca me senti tão vivo! — Ele afirma, totalmente sério acariciando meu queixo com o polegar.

   Sorrio, vendo sua sinceridade no olhar e quebro o silêncio.

— Você já disse isso, Declan. — Digo, apenas também ficando séria.

   Sua respiração está arfa e mal consegue manter os lábios fechados.

— Quero que seja minha, Diana! — Declan diz, em um tom autoritário.

   Assinto, com a cabeça lhe fazendo um carinho no rosto com as mãos.

— Mas eu sou sua, Declan... — Ele me interrompe, revirando os olhos.

— A questão não é essa, Diana! Você pode, até ver sua família. Ver os seus amigos. Mas eu não quero que se afaste de mim. Eu quero levá-la comigo para um lugar que seja só eu e você. — Declan diz, convicto. 

   Minutos depois, sua mão solta meus cabelos e Declan recua para trás ficando apenas sentado na cama cabisbaixo. Franzo o cenho sem entender o que houve com ele e tomo a atitude de me aproximar, enlaçando meus braços em seu peito por trás, escorando meu queixo em seu ombro.

— Hey! O que houve? Porque mudou de humor? — Questiono, intrigada.

   Declan tira delicadamente minhas mãos de seu peito e se ajoelha em frente a mim que continuo sentada na cama, deixando suas mãos se envolverem na minha cintura e quebra o silêncio.

—  Há muito tempo, que eu não visitava a igreja depois da morte de minha mãe. Eu fiz de tudo para protegê-la. E por um descuido meu, ela morreu com um tiro na cabeça pelo homem que eu o matei há sete anos. — Declan explica, com a voz embargada e inclina a cabeça olhando para os meus olhos.

   Suas palavras me deixam comovida, pelo que aconteceu com sua mãe. Por um momento, fiquei feliz por ele ter a iniciativa de me dizer algo sobre sua vida. Por um outro lado, estou triste de que ela tenha morrido dessa forma. Ainda mais com um tiro na cabeça. Meu Deus! Que monstro é esse que faz isso sem motivo?

— Meu pai morreu primeiro de um ataque cardíaco. E anos mais tarde, minha mãe morreu com um tiro na cabeça. Eu fiz de mim durante todos esses anos, uma pessoa ruim, Diana. Bebia, fumava. E um dia, um homem me contratou para fazer o serviço sujo, que por causa dele, eu fui preso. — Declan fala, balançando a cabeça com os olhos lacrimejados.

   Suas mãos apertam minha cintura e eu sinto uma tristeza profunda como se eu visse a cena passando como um filme no ar ao olhar em seus olhos vazios de solidão. Eu não suportaria ficar sem meus pais. Não suportaria vê-los morrer.

— É claro, que a culpa não é só dele. Eu mesmo, decidi entrar nessa vida sendo um assassino de aluguel. E em todos os momentos que você esteve por perto, eu duvidei de suas palavras. Uma parte de mim, queria que eu a escutasse. E a outra, queria que eu continuasse... — Ele acrescenta, fazendo uma breve pausa. — Esse tempo todo, eu a mantive segura não só do que poderia acontecer nas mãos de bandidos, mas também de mim, Diana.

— Eu sei que você está tentando me dizer tudo. Mas, eu vou esperar até que você me conte toda a verdade. E mesmo que eu não concorde pelo que faz, no fundo, eu sei que há uma redenção dentro de você, Declan. E eu não vou embora. Eu irei com você, para qualquer lugar. — Digo, aproximando meu rosto e lhe dou um beijo calmo.

   Declan se levanta aproximando novamente da cama, quando um barulho vinha do andar debaixo. Rapidamente, ele tira da gaveta do criado-mudo o revólver calibre 38 e anda em direção a porta. Declan se vira me fitando com os olhos e quebra o silêncio.

— Fique aqui e fecha a porta. — Ele cochicha, baixinho e dá de ombros.

   Faço o que ele me pede e fecho a porta. Me aproximo da estante e a empurro, para que fique mais difícil a passagem e ando de um lado para o outro apreensiva.

   A sensação de estar sendo vigiada era uma coisa horrível. Eu não sabia o que podia acontecer lá fora, enquanto eu estaria aqui dentro trancada no quarto de Declan. Tento ficar calma, controlando minha respiração e me sento na beirada cama, sabendo que a ansiedade me domina por dentro.

   Corro os olhos para todos os lados, os parando em direção a porta e vejo a maçaneta girar em desespero, para abrir a mesma. Me levanta assustada e me aproximo com um passo quebrando o silêncio.

— Declan? É você? — Pergunto, em desespero fazendo meu peito subir e descer de nervoso várias vezes.

   Logo mais, a porta se choca com a estante que empurrei para dificultar a passagem e ela se abre aos poucos, fazendo com que a estante saia do caminho. Engulo em seco e recuo para trás me agachando no chão, deixando meu corpo se deslisar pela parede gelada quando em um piscar de olhos, a maldita porta se abre por completa, onde a estante cai na lateral da porta do banheiro. Um homem salta para frente com os olhos de fúria e se aproxima em disparada para a minha direção.

   Um gemido sai de minha boca e tento me refugiar atrás da cama, me rastejando com a bunda no chão, mas cada vez que olho para frente, mais aquele homem se aproxima. 

— Socorro! — Grito, apavorada pedindo ajuda.

— Você não tem para onde fugir, menina! Charlie a espera! 

   Charlie? O quê meu pai tem a ver nisso? Céus... Não pode ser... — Penso, em silêncio pegando em meus devaneios quando cai a ficha que meu pai e provavelmente minha mãe, já sabem onde estou e com quem estou. 

   O estranho se agacha, me puxando pelo braço me tirando de meus devaneios e eu tento a todo custo, me livrar de suas garras, quando olho por cima de seu ombro, Declan se aproximar, mirando a arma na cabeça do homem a minha frente.

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