Capítulo 46

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Declan

   Confesso que ao ver aquela cena do babaca beijando a minha mulher, me deixou enfurecido. Enquanto eu estava preso, ela se divertia com ele. Deus sabe onde. Mas isso não vai ficar assim. Diana é minha mulher. Só minha e não admito que outro homem se quer, olhe para ela. Eu fico louco só de pensar.

   No rádio, ouvíamos baixinho a música Bad os Roses — Bon Jovi, uma das minhas preferidas, enquanto seguíamos a estrada em silêncio. Diana e eu nos olhamos ao mesmo tempo, e ela aumenta o som no volume máximo que é permitido. Eu admiro que mesmo quando o vento chicoteia seus cabelos, ela não mudou em nada. Continua linda como sempre.

   Percorremos todo o trajeto em silêncio. Ela se nega dizer uma só palavra e confesso que um idiota a tratando daquela maneira.

   Mantenho os olhos firmes na estrada e por fim, quebro o silêncio engolindo em seco.

— Quando a gente chegar, nós iremos conversar. — Digo, apenas puxando assunto.

   Diana escora a cabeça no banco e eu a olho de lado, sabendo que nesse exato momento ela está me olhando.

— Declan, porque não me disse a verdade? Porque não disse que casaríamos? — Ela questiona, um pouco irritada.

   Balanço a cabeça e por um momento, olho em seus olhos e novamente volto a olhar para a estrada.

— Você se aceitou se casar comigo quando estávamos em Ferndale, se lembra? — Pergunto, mudando de assunto.

— Mas não justifica os fatos. E-eu não queria que fosse escondido. Ainda mais, quando me casei sem saber que estava me casando. — Diana fala, alterando a voz

   Respiro fundo tentando me concentrar na estrada e mais a frente vejo uma lanchonete. Sigo para o rumo do estabelecimento e abaixo o som do carro.

— É melhor pararmos pra gente comer alguma coisa. — Digo, desligando o motor.

   Desvio o olhar para Diana e ela mantém os olhos para frente olhando para o nada. Ela abre a porta do carro e dá de ombros a caminho da lanchonete. Faço o mesmo e saio do carro e a sigo logo atrás. Adentro pelo local, corro os olhos para todos os lados e a vejo abrindo a porta do expositor de bebidas tirando de dentro, uma garrafa de água.

   Olho para o meu lado direito e caminho em direção a mesa do fundo que é a mais afastada entre as outras mesas da lanchonete e me sento observando o cardápio. Diana surge a minha frente e logo se senta ao lado da janela um de frente para o outro. Em seguida, peço dois cafés e mais dois, sanduíches assim que a garçonete atende a nossa mesa.

   Diana cruza os braços e eu apoio as mãos sob a mesa a fitando com os olhos.

— Jamais foi a minha intenção de prejudicar você a sua família. Eu estava cansado de todas as ameaças que o Charlie me fazia. E com  dinheiro que ele me pagava, eu consegui comprar as ações da fábrica. — Digo, cabisbaixo e balanço a cabeça.

   Ela permanece em silêncio e isso me deixa mais irritado, por não dizer nada.

— Eu sei que você merece saber de tudo, mas...

— Eu estava o tempo todo ao seu lado. Quando mais você precisou, eu estava com você. Eu tentei de várias formas, te tirar daquela vida. Porque eu sabia, que dentro de você havia esperança. Que tinha uma luz bem, no fundo, que poderia te salvar. — Diana me interrompe, suspirando fundo.

   Ela olha a estrada pelo lado de dentro da janela e balança a cabeça.

— E mesmo você preso naquele lugar, eu nunca deixei de visitar você, Declan. Você me expulsou daquele lugar e nem se quer, pensou que eu fiz de tudo por você. — Ela acrescenta, me fuzilando com os olhos.

— Lá não era lugar pra você ir, Diana! — Afirmo, baixinho.

— Mas era lugar para a Freya, não é mesmo, Declan? — Diana retruca, se levantando e dá de ombros saindo da lanchonete.

   Me levanto da cadeira e pego do balcão o meu pedido que a garçonete acaba de fazer pra viagem e sigo em direção a Diana.

— Diana? Diana, espera! — Grito, com a voz grossa e rouca.

   Ela se vira e me olha com desprezo permanecendo no mesmo lugar. Seus olhos são de total remorso e queima feito, brasa me castigando por dentro.

— Eu quem devia estar furioso com você. Porque enquanto eu estava preso, você se divertia com outro! — Rosno, em voz alta.

   Dou um passo a frente e Diana recua para trás, inofensiva e franze as sobrancelhas.

— Como? Declan, eu não me diverti com ninguém! Eu estava era mais preocupada em te tirar daquele lugar horrível e você pensando coisas de mim que não existe? Faça mil, favor! — Ela bufa, possessa de raiva.

— Eu vi pela janela você e o seu amiguinho se beijando. Você acha que sou tão burro de acreditar que foi um engano? — Rosno, mais uma vez com os olhos arregalados.

   Diana recua para trás e eu não deixo nenhuma saída para ela. Enquanto não me dá todas as explicações que eu mereço.

— Ah! Eu não beijei ele, Declan! Kalel e eu...

— Confessa, Diana! Você me traiu com aquele imbecil? Você transou com ele? — Questiono, interrompendo-a furioso.

   Minha respiração está arfa e faz com que meu peito suba e desça descontrolavelmente. Diana se assusta, e as maçãs de seu rosto se coram, ao ver que seus olhos se lacrimejam.

— Ah, meu Deus! E-eu... O que eu mais fiz... Era te tirar da prisão. E você está preocupado se eu fui pra cama com outro, cara? Você é um egoísta, Declan! Você... — Ela choraminga, com a voz trêmula.

   Eu me aproximo e enlaço meus braços em seu corpo. Diana tenta se esquivar, mas era disso que eu precisava. De uma aproximação, por tanto tempo, eu não tocá-la.

— Minha menina! Vem cá!

— Não, Declan! Fica longe! Não me toque!

   Diana tenta ficar distante, mas resiste quando eu a abraço fortemente. Afundo meus dedos em seus cabelos e ela novamente sente toda a segurança que posso oferecer a ela.

   Beijo em sua testa e nós dois ficamos parados em total silêncio. Recuo para trás e me tranquilizo buscando seus olhos e quebro o silêncio.

— Eu só quero que me diga a verdade. Eu não vou brigar com você. Você foi pra cama com outro homem, Diana? — Pergunto, intrigado tentando não me aborrecer outra vez.

   Ela recua para trás e me olha com desdém limpando as lágrimas.

— Pense o que você quiser! — Diana afirma, apenas.

   Ela dá a entender que ficou com aquele imbecil de merda. Mas isso não vai ficar assim.

— Agora, eu estou muito furioso! — Rosno, entredentes a fuzilando com os olhos, possesso de raiva.

   Eu a ponho contra o muro e ela aponta o dedo quebrando o silêncio.

— Não se aproxime mais, Declan! 

   Diana me olha pela última vez e dá de ombros voltando para o carro me deixando sozinho. Balanço a cabeça e num piscar de olhos, dou um soco no muro de concreto com a mão direita com toda força. Sinto minha pele rasgar queimando por dentro e sinto levemente o sangue descendo pela mão.

   Sigo em direção ao carro mantendo meus olhos vidrados em Diana. Abro a porta e de imediato, eu a fecho, batendo com brutalidade. Nos olhamos um para o outro de cara fechada e eu ligo o motor, voltando para a estrada.



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