Capítulo 7

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Paulo

Chegar em minha rua de carro com a Jéssica, eu já esperava as olhadas dos vizinhos, mas não esperava que quando ela parasse, todo mundo fosse se aproximar do carro.

_ Eu falei que não precisava vim até aqui, eles vão querer tirar foto e tudo perto do carro.

_ E eu ligo? Paulo, eu comecei como você. Um dia lhe contarei toda a minha história, mas saiba que eu já fui como esses meninos que estão olhando do lado de fora do carro. Fingindo que não querem tirar uma foto. Mas no fundo querendo.

Realmente não sei muito do passado da Jessica, apenas sei que ela se formou na PUC e depois acabou comprando o espaço que a transformou em uma livraria de sucesso.

_ Eu ainda não sei se é uma boa ideia eu ir nessa festa. Nem roupa de rico eu tenho.

_ Ah não, já disse que você vai. Relaxa, um jeans, uma blusa de manga longa escura. Você não precisa mais que isso. É uma festa de faculdade e não um evento da alta classe do RJ.

_ 5 minutos, eu entro pego uma muda de roupa para a festa e outra para trabalhar e saio. Não é muito seguro você deixar o carro parado aqui sozinho.

Jessica abre o carro e começa a sair quando abro a porta do carona.

_ Relaxa. Às vezes, os primeiros a julgarem onde moramos somos nós mesmos.

Jessica me acompanha e abro a porta de casa. Minha mãe está na cozinha e logo nos vê. Ela está com uma carinha debilitada. Mesmo com todos os remédios, a doença está a destruindo aos poucos. O corpo magrinho, nem lembra mais aos anos que ela vivia reclamando que era cheinha.

_ A bençã mãe. Só vim passar para pegar duas mudas de roupa. Hoje vou com a Jessica a uma festa e depois vou ficar na casa dela.

Minha mãe sorrir, e de uma forma tão verdadeira.

_ Vai sim, já disse que você não tem que carregar o mundo nas costas. Você é jovem tem que se divertir também. E claro, estudar. Ainda não aceito você ter largado a escola.

Sim, ela não queria. Ela tentou de tudo para que eu muda-se de ideia, mas não tinha como.

_ Oi dona Neuza, está tudo bem com a senhora?

Jessica como sempre um amor com a minha mãe.

_ Oi mocinha. Você está tão linda. Pena que meu filho não gosta da fruta. Vocês seria uma nora maravilhosa.

Engasgo, minha mãe é sempre a mesma. Desde que ela conheceu a Jessica a acha encantadora. Mas, precisava falar aquilo? Onde irei enfiar a minha cara?

_ Mãe!

Jessica está rindo com a situação e o barulho é interrompido com a chegada do Henrique. Ele nos vê e se vira.

_ Jessica, vou no quarto e já volto. E por favor mainha se comporte.

Entro no corredor que leva ao meu quarto e ouço risadas vindas da cozinha. Só posso imaginar que minha mãe está contando alguma história sobre mim.

Henrique está deitado na cama e eu entro e começo a pegar a roupa no guarda - roupa.

_ Vai se prostituir agora?

Me viro e fico pasmo, sério que meu irmão mais novo disse isso para mim?

_ Oi? Como é?

_ É isso que ouviu, arrumando uma roupa mais nova, indo dormir fora. Com aquela delicia que não é! Porque você gosta é de algo bem grande enfiado no...

Não deixo ele terminar de falar, eu lhe dou um murro no rosto. Nunca tinha perdido a paciência com meu irmão. Mas, ouvi dele aquelas palavras. Logo dele?

_ Henrique, você precisa crescer! O pai nos deixou, a mãe está morrendo! E você está aí, sendo um mimado! Eu já estou cansado. Sinceramente, com quem eu trepo, como você diz aí, não é da sua conta! Mas o dinheiro que eu coloco em casa para você comprar essas suas calças largas ou para lhe dar esse celular. Isso sim devia importar! Eu venho tolerando muita coisa sua, mas me chamar de garoto de programa? Você perdeu totalmente a noção.

Pego minha mochila e saio do quarto. Henrique não fala mais nada e eu não me sinto bem, nunca encostei no meu irmão. E sei que isso não é certo. Não se paga uma agressão verbal com uma física. Mas, eu estou cansado!

Na cozinha minha mãe e Jessica estão rindo e pelo jeito não ouviram a discussão no quarto.

_ Mãe, fica com Deus e não esquece de tomar todos os remédios não hein!

Minha mãe revira os olhos, eu sei que ela odeia quando faço marcação para que ela se cuide e tome os remédios na hora. Só que, eu não quero a perdê-la . Mesmo sabendo que a cada dia ela está pior.

Jessica se levanta e saímos da casa. Entramos no carro e fico quieto, ainda penso sobre o que acabou de acontecer.

Henrique foi o que mais sofreu quando o filho da mãe do nosso pai saiu de casa. O cretino além de trair dona Neuza, ainda deixou claro que não poderia levar o Henrique com ele. Pois, Dolores não aceitaria nunca um filho de outra morando na casa dela.

Culminou que o ódio de Henrique foi todo a mim, eu sei que na cabeça dele o culpado de tudo sou eu, ou melhor, a minha sexualidade.

_ Paulo, que horas vai me falar o motivo da briga que teve com seu irmão? - diz Jéssica

Me espanto, eu jurava que ela não tinha ouvido nada.

_ Eu ouvi, sua mãe provavelmente não. Pois, foi no terreiro pegar uma roupa. Mas, eu fiquei e ouvi 0 barulho de alguém batendo na parede.

_ Meu irmão é um babaca homofóbico. Só isso que ocorreu. Acabou que perdi a cabeça e lhe dei um soco.

Jessica me encara e sei que ela está espantada. Desde que nos conhecemos sempre fui calmo e paciente e ela sempre disse achava isso incrível.

_ Até que enfim você estourou! Eu já teria dito umas verdades se o Henrique fosse meu irmão.

Realmente, tinha meses que Jessica aconselhava a eu mandar a real no meu irmão mais novo.

_ Eu não teria partido para a violência, mas já estava mais que na hora de você deixar claro que ele precisa lhe respeitar! Sua orientação sexual não é da conta dele ou de ninguém. E você se mata para ajudar na sua casa. E ele? - Jessica completa.

Fico em silêncio porque tudo aquilo é verdade. Eu sei disso. Todo mundo sabe disso. Mas, na maioria das vezes eu só vejo o Henrique como o garoto que chorou quando viu nosso pai indo embora.

Encosto a cabeça no assento, eu só espero que a festa seja realmente boa e me faça pelo menos esquecer o que estou passando.

Duas Metades (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora