Capítulo 24

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Paulo

Eu só quero saber o que está acontecendo com o André. Desde que ele saiu com o Félix não tive mais nenhuma notícia. E isso, me deixa bem preocupado.

A Jessica já veio perto de mim varias vezes desde que voltei. Contei tudo a ela, claro que deixei a parte do que rolou mais íntimo entre mim e o André de lado, mas contei tudo mais. A mensagem, a foto.

Ela me acalmou um pouco, mas não está dando mais. Não consigo nem mesmo organizar uma estante com os livros novos. Só olho para o celular esperando uma mensagem do André, qualquer mensagem.

_ Paulo, sério, calma! Não adianta nada você ficar aqui sem se concentrar.

Novamente Jessica está ao meu lado. E eu, nem a vi chegar. Realmente não estou bem.

_ Eu sei, mas já não sei mais o que fazer para me distrair. Jessica foi a primeira vez em anos que me senti bem e agora isso tudo? O André não vai aguentar isso tudo. Ele foi exposto para todos. E ele é tão sensível, tão meigo, tão doce.

_ Ninguém nasce forte Paulo, mas é nessas horas que você aprendi a se fortalecer na marra. O André é maior de idade, ele sabe o que faz. Então, ele sabia o risco que tinha mesmo aqui, longe do universo dele. Claro, que alguém podia ter visto vocês. Não estou dizendo que o que a pessoa fez é certo, porque não é! Mas no momento que ele foi abraçado com você, o André sabia sim o risco. Vocês não pensaram okay. Mas agora é lidar com a situação de cabeça erguida.

_ Ah Jessica, eu só queria poder ajudar ele de alguma forma.

_ Você já o está ajudando. Mas precisa focar também na sua vida. Aliás, tenho uma notícia pra te dar. Você vai fazer o cursinho preparativo para o vestibular da PUC. Eu conseguir as apostilas com a editora que as produzem e a Miih conversou no cursinho e conseguiu uma bolsa pra você.

_ Oi?

_ Sim, eu disse que ia resolver isso. Então, já vai se preparando. Seu supletivo já está pra terminar né? Então assim que você encerrar ele, já começa na turma do cursinho do meio do ano. E nem vem dizer não. Eu disse que você teria a chance.

Não sei o que fazer, realmente a Jessica moveu tudo e está me dando a chance que eu sempre quis.

Eu a abraço porque às vezes palavras não são necessárias para expressar o que queremos.

_ Okay, então pronto. Você irá terminar esse supletivo agora em junho. Tirar férias e agosto você vai com tudo. Então calma. Você realmente precisa fazer suas provas do supletivo semana que vem. Porque assim, está livre. E eu sei que você não está focado. Mas precisa okay?

Eu sei que ela está mais que certa. Eu realmente preciso me focar. São uma semana de provas. Uma semana com todas as provas que eu preciso fazer e passar. E assim, quem sabe com essa oportunidade ser aprovado no curso que tanto quero. Minha mãe, depende de mim. Meu irmão também. Só que, o André também precisa.

Continuo até o fim do expediente e nada do André me mandar uma mensagem. Resolvo e ligo para ele, mas apenas chama.

_ Paulo, não esquece, estuda e arrasa nessas provas. - Diz Jessica.

Concordo com a cabeça e saiu da livraria pegando o trajeto até a minha casa. Sei que meu dia ainda não acabou, preciso assistir às ultimas aulas hoje. Só vou conseguir passar em casa rápido e dá uma olhada em mainha.

Passo todo o trajeto pensando em André. Esse sumiço dele, não está me cheirando nada bem. Aí tem coisa.

Desço e subo para casa. Ao abrir a porta sinto o cheiro da janta de minha mãe. Ou seja, ela não está deitada quieta.

_ Ah Dona Neuza, já disse que você precisa descansar. E não ficar aí na beira do fogão.

_ Ihhh você sabe muito bem que não sei parar quieta e nem vem. Quero saber como foi à noite? Conheceu algum garoto lindo?

Sorrio para ela. Aquela mulher sempre me entendeu tão bem, sempre esteve comigo e quando contei foi a única naquela casa que me acolheu e disse que tudo bem.

_ Conheci, ele é lindo e também um amor. Só que, um idiota expôs ele. E não tive notícias dele depois.

_ Vale me Deus! Ainda tem tanta gente escrota no mundo. Mas, pode saber que as coisas vão se acertar. Vou fazer uma reza para esse garoto. Como ele chama?

Aí minha mãe é única, eu sei!

_ Ele se chama André, e faz sim mãe. Toda ajuda é bem vinda. Agora vou só tomar um banho e correr para o supletivo. E bem, outra notícia, eu vou fazer cursinho preparatório em Agosto a Jessica e uma amiga dela arrumaram tudo.

_ Aí aquela Jessica é um anjo. Viu, você vai ter sua chance e dá seu jeito, eu quero lhe ver se tornando doutor hein!

Dou um beijo na testa da minha mãe e entro para me arrumar. Abro a porta do meu quarto e lá está o Henrique. Ele me encara mas não diz nada.

Tomo meu banho e volto para terminar de me arrumar e ele ainda está na mesma posição.

_ Que isso hein! Finalmente arrumou um riquinho para te comer e te sustentar né? E ontem fez aquele ataque quando eu sugerir isso. Mas hoje? Chega falando que conheceu alguém e ainda vai fazer cursinho com os grã-finos né! Quem diria que dá o rabo daria dinheiro.

Ouço tudo calado, se tem algo que não estou afim hoje é de me desgastar com meu irmão. Ele não tem jeito, simplesmente é a cópia escarnada do pai.

_ Não vai dizer nada? Já conhece o ditado né? Quem cala consente. É isso mesmo né? Além de ter um irmão viadinho, ele ainda ganha pra chupar uns paus. Você deveria ter vergonha de pisar nessa casa. Por sua culpa o pai foi embora. Tudo porque você quis ser isso. Você destruiu essa família e nem se preocupa.

_ Henrique, estou contanto até mil para não falar tudo que você precisa ouvir, porque não estou com tempo e já estou com a cabeça a mil. Mas sério mesmo? Você aha que foi o fato deu ser gay que acabou com essa família? Então você é mais burro do que eu pensava. Você sabe muito bem que o motivo de tudo foi porque nosso pai é um escroto. Então, por favor, acorda! E outra, eu não tenho que dar satisfação da minha vida a você não. Até onde eu sei, você que é o menor e o irresponsável da família.

_ NÃO ME CHAME DE BURRO! ALIÁS, PREFIRO SER BURRO A UM VIADO!

Respiro, não irei alterar a voz, não vou me estressar. É isso que ele quer. E eu não farei isso a ele.

_ Pois bem, eu prefiro ser gay do que ser um moleque que não sabe nada da vida. Que não corre atrás de nada e que fala tanto que é homem mas não paga uma conta, não ajuda a mãe em casa, sabendo que a mãe está doente e que, até onde eu sei, está mais sozinho do que tudo. Então, pense antes de falar. E se você ama tanto o pai, vai lá na casa daquela puta e pede para morar lá. Só pelo amor, para de encher o saco!

Me viro e saio. Meu irmão não tem conserto, ele vai continuar sendo aquilo o resto da vida e eu sinceramente cansei.

Minha mãe está no terreiro, e eu vou até ela é me despeço. Chego a tempo para a primeira aula e pelo menos naquela aula eu tento não pensar em ninguém, nem no Henrique e nem no André. Meu coração está lá com ele, mas eu preciso foca aqui. Eu preciso aproveitar a única oportunidade que a vida me dá. Desligo o celular no momento que a professora entra.

Duas Metades (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora