Capítulo 3

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Paulo

A manhã passou rápida, acho que foi a empolgação. Sempre quis ir nessas amostras, mas antes era mais difícil ainda. Para quem já estou em colégio público sabe como é, pouca ajuda, poucos recursos e infelizmente, muita gente desanimada com a história de faculdade. E quando sai da escola, tudo ficou mais difícil.

_ Anda Paulo, você sabe como é o trânsito até a PUC. E eu ainda vou palestrar, só não faço ideia como vou falar. Faz uns 3 anos que terminei o curso de Serviço Social e acabou que não exerci muito, investir nessa Livraria e foi a melhor coisa que fiz. Mas, não
Podia negar um pedido de uma antiga professora. Ela sempre foi maravilhosa comigo.

Só sei que se a Jessica não tivesse aberto essa Livraria eu não estaria trabalhando. O espaço ainda era pequeno quando vim aqui depois de um dia todo correndo pelas ruas do Rio, sempre à procura de alguma coisa. Mas sempre ouvindo a mesma desculpa. Você é novo, não podemos dar nada para você.
Porque no Brasil é assim, adolescente em novo para trabalhar, mas não é novo para votar ou fazer qualquer merda.

Depois de um dia andando sem conseguir nada, vi a Livraria e entrei, a princípio vim somente sentar e descansar. Mas, vi o anúncio de precisa de um ajudante. Logo me interessei e vi a Jessica pela primeira vez. Ela estava com uma pilha de livros em cima da mesa e parecia está cansada.

Quando a cumprimentei ela levou um susto e logo perguntei da vaga. Já imaginando que ela viria com a questão da idade. E realmente ela me perguntou.

"Olha, você é menor de idade, então fica complicado. Eu sei que você disse que logo fará 18. Mas, e se bater polícia aqui."

Eu realmente disse que não precisava assinar carteira, que eu só precisava muito trabalhar. Não me lembro bem o que mais aconteceu só que acabei contando tudo sobre a minha vida para ela. Sobre a traição e abandono do meu pai, sobre a tristeza que sentir quando meu irmão me culpou e sobre como minha tinha descoberto que estava com câncer.

Naquela altura, eu só estava desesperado mesmo. Eu precisava voltar para casa sabendo que eu teria um emprego. Uma forma de ajudar em casa.

Jessica me deixou trabalhar mas disse que eu precisava de mais ajuda. Eu disse que iria procurar a assistência ao jovem e ao adolescente, algo que claramente nunca fiz.

_ Anda Paulo.

Ouço novamente a minha chefe me chamando e saio do balcão. A Livraria está calma. Só alguns estão na parte de cima tomando um café.

Saímos e realmente, pegamos um longo trânsito. E quando avisto a PUC vejo diversos carros parado perto. A faculdade que eu sempre quis estudar. Onde já tinham se formado grandes personalidades.

Descemos do carro e entramos no prédio, ele está lotado. Alguns jovens com blusas de escola andam pelos corredores. As salas estão lotadas. A palestra do curso de Direito estava quase começando e a porta da sala estava se enchendo esperando ser aberta.

_ Vai lá Paulo, vou procurar a professora Ana Paula para conversar com ela sobre a minha palestra. Qualquer coisa, só pergunta onde será a palestra da Jessica Fontes. Todos aqui ainda me conhecem, vamos dizer que aproveitei meus anos de faculdade.

Sorrio para a Jessica que segue por outro corredor.

Um garoto loiro passa por mim cheio de papel na mão e abre a porta. Pelo jeito, é ele que dará a palestra.

_ Atenção meu nome é Augusto e quero que vocês prestem atenção. Eu sei que tem muita gente querendo assistir essa palestra. Mas, teremos duas. Essa eu gostaria que os estudantes que querem prestar o curso de Direito aqui mas que procurem saber além do curso, mas sobre o financiamento estudantil que a PUC trabalha. - diz o menino loiro.

Ouço um murmurinho e pelo jeito muitos ali não estão interessado nisso. Não me espanto, muitos jovens naquele local são filhos de grandes nomes na cidade. Outros de atores e atrizes, ou seja, falar de financiamento não é algo que eles precisem.

_ Para quem quer saber somente sobre o curso, a palestra começará em meia hora na sala 4. Ela está no andar de cima.

A maioria das pessoas começa a sair devagar em grupo, mas uma boa parte fica lá. Reparo que não sou só eu que sonha em estudar naquela instituição mas que não apresenta condições financeiras altas.

_ Bom, vocês podem entrar. Vou arrumar a apresentação e já começo a explicar tudo para vocês.

O garoto loiro segue à frente e começo a entrar na sala. E nossa, que sala! O local é imenso. Nunca tinha estado em local assim. Ar condicionado por todo o espaço, cadeiras confortáveis e diversos notebooks nas primeiras carteiras. Estudar aqui deve ser algo incrível!

_ Boa Tarde, meu nome é Augusto e irei explicar um pouco do curso de Direito e depois falar sobre formas de finaciamentos para se ingressar na PUC.

O Augusto parece de fato gostar do que faz, pois ele passa um tempão falando detalhadamente da grade do curso e das formas de estágios que ela oferece.

A casa nova informação mais aumenta a minha vontade, mas sabendo que larguei a escola e que só voltei a pegar em um caderno a poucos meses num supletivo noturno, percebo que as chances deu ingressar lá são mínimas ou nulas mesmo.

_ Bom, é isso! Agora estou à disposição para quem quiser vim tirar alguma dúvida.

Vejo que a sala começa a se esvaziar e me levanto e vou na direção de Augusto. Uma menina também se aproxima.

Paro um pouco distante para a deixar perguntar primeiro

_ Oi, então, eu gostaria de saber como faz para pegar o número do celular do palestrante.

Eu seguro o riso, a garota deve está no início do ensino médio, mas já sabe o que quer. Ou não né?

Augusto sorrir, e ele tem um sorriso lindo. Isso não tenho como negar.

E a moça sai meio que frustrada pois pelo o que vi ele não diz mais nada.

_ E você, o que gostaria de saber? Não é meu número não né?

Ele sorrir e eu balanço a cabeça.

_ Não é não. Você não faz meu tipo.

Solto sem querer e ele sorri mais.

_ Eu gostaria de saber se você acha que alguém que faz supletivo teria chances de ser aceito aqui na PUC.

Por uns instante o vejo me olhar apenas. E percebo que foi burrice a minha perguntar isso.

_ Olha, se você se dedicar acho que consegue sim. Você viu que aqui tem bolsas de 100% mais apoio com transporte. Então eu acho que se quiser mesmo você consegue.

_ Obrigado.

Não sei mais o que dizer e me viro para sair. E olho para a porta da sala e vejo um garoto. Um garoto com os negros como o carvão, mas que parecem ser tão meigos. Um cabelo negro e encaracolado. Um anjinho. Ele está com uma câmera na mão e clica uma foto.

Quando percebo, ele está me olhando também. E sinto algo estranho.

_ Aleluia você apareceu André! Achei que não ia vim mais. Eu disse que precisava de uma foto. - diz Augusto.

Me viro e Augusto estava vindo para perto de mim.

_ Foi mal, eu fiquei preso em outra palestra, mas acabei de fazer a foto. Você viu o flash.

Assim que o garoto que tem o nome de André termina de dizer ele sorrir e que sorriso lindo. Meu olhar está nele e sei que ele pode reparar.

Volto a andar, e ao passar do seu lado sinto o seu perfume e seguro para não perguntar se ele é gay. Mesmo se for, algo que acho que não é. Ele é desses ricos, então eu que não teria chances.

Saio pela sala, preciso encontrar com a Jessica.

Duas Metades (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora