Capítulo 1

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Karina

Me levanto antes das seis da manhã. Nessa semana e na outra eu tenho recuperação das provas que fiz semana passada, ainda bem que o ano já tá acabando e vou poder enfim me formar no Ensino Médio. Tô cansada de estudar coisas desnecessárias pra minha vida. Desço as escadas e vou até a cozinha colocando a água do café no fogo.

Subo pro meu quarto e tiro a roupa indo pro banheiro, tomo meu banho rápido e me visto, uma calça jeans, uma blusa preta e um tênis branco. Desço para fazer o café e depois subo para terminar de me arrumar, arrumo meu cabelo o deixando solto e passo uma make leve.

Pego uma troca de roupa colocando dentro da bolsa. Assim que eu sair da escola vou direto pro trampo.

Trabalho desde meus 16, primeiro porque às vezes quero comprar algo pra mim e não gosto de ficar pedindo pra depois jogarem as coisas na minha cara. Segundo porque eu tenho o sonho de fazer um curso pra ser maquiadora profissional. Então eu economizo pra ir guardando meu dinheirinho.

Eu até já fiz um curso de iniciação, só faltam dois agora, maquiagem básico e profissional.

Pego dez reais e vou até a padaria, compro pão, queijo e mortadela. Já disse que sou louca por mortadela? Como com pão, frita na comida, cortada em cubos com limão, mortadela é gostosa de todas as formas.

Você deve tá se perguntando dos meus pais né? Vou explicar resumidamente, meu pai gozou dentro e sumiu, minha mãe morreu no meu parto e acabei sendo criada pela minha tia, uma viciada de merda. Eu sou praticamente a empregada doméstica particular dela e em troca ela me dá um teto, enche minha barriga e me veste.

Minha maleta de maquiagem é meu amorzinho, comprei com meu suor, na verdade foi com o dinheiro, mas cês entenderam. Trabalho todo dia depois do almoço em uma pensão, faço de tudo por lá, fico no caixa, atendo, ajudo a dona na cozinha e etc.

Aí você já deve ter percebido que eu convivo com muitos traficantes né? Porém, não dou intimidade pra nenhum.

Me sento à mesa e como, lavo as louças e subo pra forrar minha cama. Olho o relógio e já deu meu horário, pego minha mochila e saio de casa descendo o morro.

Em plena quinta-feira pela manhã, a Rocinha é um vai e vem de crianças e adolescentes indo pra escola, moradores indo trabalhar e muitos traficantes vendendo drogas. Parece que droga aqui vende igual água. A minha escola é bem pertinho do Morro, não tenho frescura com escola de Morro ou escola no Centro, dá na mesma pra mim.

Chego na escola e sento na minha cadeira de sempre isolada de todos, logo a Thaís entra e se senta a duas fileiras longe de mim. Ela entrou na minha sala agora já no meio do ano, dizem que foi porque ela discutiu com uma aluna que era sobrinha da faxineira. A garota é irmã do dono da Rocinha, mas ainda tem garota que folga com ela, vê se pode? Ela sempre entra em brigas, bate nas piranhas e naquelas que ficam soltando piadinhas pra ela. Vou mentir não, quando vejo ela batendo nas piranhas eu fico aplaudindo.

Essas puta daqui é tudo folgada, provocam e às vezes na hora do vamos ver, nem é a fodona. Do contrário, é a fudida.

Eu sou muito da paz, mas não vem de afronta e nem de deboche que se não tu se fode.

Quando as piranhas vem me afrontar e mexer comigo já vou catando pelos cabelo, ficar de tapinha e arranhando é pra quem não sabe bater, vou logo no socão. Sempre observo que a Thaís chega e senta sozinha, acho que ela não tem amigos por aqui.

Ela fala com todos, mas sabemos que é apenas por educação e nem todo dia ela fala.

A professora chatíssima de filosofia entra na sala e começa a falar a nota da prova. Felizmente fiquei com 8,0 na prova, mas eu tenho que ficar com 10, tô devendo três pontos do início do ano, porque a média aqui é 7,0.

Alma de Pipa (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora