Prólogo

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Raven

Estávamos juntos para mais uma reunião, desta, a que iria definir nosso futuro. O fim ou o novo começo dos vigilantes.

Podíamos sentir o vento frio da chuva que invadia a casa, pois estávamos na sala de jantar, que virara nosso ponto de encontro. A ventania opunha o sentimento revigorante em nosso coração. Estávamos nos preparando para o dia mais importante de nossa vida: A Grande Guerra.

— Então todos já sabem o plano? — pergunta meu irmãozinho.

— Sim pirralho. Ou alguém quer que eu desenhe? — ironiza, Darla.

 — Finalmente conseguiremos nossa Vitória! Enfim ocuparei meu lugar no trono. — diz Gael, confiante.

— Ou a nossa derrota... — diz Félix, contrariado.

Todos estavam animados. Havia uma grande porcentagem ao nosso favor, mas ainda havia aquela pequena porcentagem de que tudo desse errado, que eu falhasse de novo. Eu esperava, que pelo menos uma vez, a sorte estivesse do nosso lado, para que eu não colocasse a vida de todas aquelas pessoas que eu amava em risco. 

Um grande fardo estava sobre os meus ombros: eu era a nova líder dos Vigilantes e não podia voltar atrás agora. Mas se eu não poderia confiar nem em mim mesma, porque os outros deveriam confiar em mim?

E em um instante aquelas lembranças voltaram. Todas passavam em minha frente; pessoas que eu amava e morreram sem que eu pudesse fazer nada. Tudo por minha culpa, porque eu fugi. Fui covarde. Lágrimas desciam em meu rosto, mas eu sabia que não merecia compaixão alguma.

— Raven. — Gael me chama do outro lado da mesa, o que faz com que eu acorde daquele pesadelo.  —  Ei! O que aconteceu? 

Voltei a realidade. A de que todos morreriam por minha culpa, novamente. Então, decidi me afastar, pois talvez seja a única coisa que eu saiba fazer: ir embora.

— Me d-desculpem... Eu preciso de um tempo... — disse, me levantando da mesa e enxugando as lágrimas.

— Um tempo Raven...!?  A guerra já é amanhã! — Gael também se levanta, gritando com as mãos sobre a mesa. — Se você é uma líder, então haja como uma!

— Se eu sou a líder eu decido as coisas por aqui! E eu disse que quero um tempo!

E assim, saí para fora. Naquela tempestade. Perseguida pelo meu passado. Tentando entender mais uma vez, porque eu ainda continuava ali.

— Como eu me tornei repugnante. Não sei liderar meu próprio grupo. Que merda eu sou...? — caminhando e caindo errante próximo ás rochas, comecei a chorar muito. — Aaaa! — gritei caindo ao chão. — Por que, pai? — olhei para o céu. — Por que me escolheu? Eu não serei alguém tão memorável, como o foi.

Quando ouvi passos de alguém que vinha ao meu encontro, me calei. Gael se assentou ao meu lado no pedregulho, me deixando ainda mais irritada.

— O que quer? Me deixe em paz! — gritei chorando.

As minhas lágrimas se misturavam com a chuva. Nenhum de nós se importava com isso. Eramos só nós dois. Com as roupas e cabelos encharcados e responsabilidades imensas nas mãos.

— Eu só... — suspirou, olhando para mim. — Quero minha Raven de volta...

— Eu não sou ela a muito tempo. — disse olhando para o chão. — Ela não precisava usar um capuz verde ou... Ter que enxergar tanto sangue em suas mãos.

— Eu sei disso. Só sinto falta. Parece que... Tudo o que tínhamos foi embora. Menos uma coisa...

Eu olhei para ele, com curiosidade.

— Eu tentei de todas as formas de esquecer, e não consegui. — ele dizia, sem vacilar. — Então me diz... Que também... Não se esqueceu do que eu te disse. 

— Me disse que voltaria e que sempre iria me amar. Pelo menos cumpriu uma das coisas. — respondi, olhando para as minhas mãos. — Eu jurei pra mim mesma que se pudesse, nunca teria deixado você partir naquele dia. 

— Eu te amava, mas-

— Se me amasse Gael, não teria me deixado! — gritei, olhando com raiva para ele. — Eu não me tornaria alguém assim.

— Eu sei! — lágrimas também caiam em seu rosto. — Eu prometi que cuidaria de você e fui embora...

Sentados naquela rocha, olhando para o céu chuvoso, vestimos os capuzes para amenizar a chuva. Só não conseguíamos dissipar aquele silêncio. Por que sabíamos, que se alguém de nós dissesse algo, teríamos admitir o quanto estávamos errados. E essa era uma coisa ruim que tínhamos em comum: o maldito orgulho. 

Então, em uma tentativa, continuei a dizer:

— Eu só queria que tudo voltasse ao normal. Ter minha família de volta. Eu tinha tudo...

— Não adianta continuar olhando para o que passou. Eu sinto muito Raven, mas... Eles já se foram. E confiaram a você essa missão. É uma Vigilante, não é? Não deveria estar lutando pelo povo? — ele sorriu tristemente.

— Obrigada... — sorri concordando.

E então eu o abracei. Por impulso. Estava precisando daquilo. E ficamos ali, até o amanhecer.

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