Capítulo 4 - Vou salvá-lo!

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"De repente, o que você chama de fim, pode ser um novo começo."

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Raven

O sol radiante me cegava. Estava olhando diretamente para ele no alto céu. Enquanto virei-me para o lado, senti o cheiro de folhagem verde. Estávamos mais uma vez, na floresta de Tiderood.

— Raven! — uma voz me chamou ao fundo.

Levantei-me vagarosamente e a vi.

— Mãe? — tentei enxergar.

— Venha cá! — ela gritou, fazendo um gesto para que fosse até ela.

Ainda um pouco zonza, caminhei até ela com curiosidade.

Mamãe estava parada próximo a entrada da floresta e conversava alegremente com outras duas pessoas. Uma senhora e um garoto.

— Quero que os conheça, Raven... — minha mãe disse sorrindo, se ajoelhando próxima a mim.

— Ela não é a nossa vizinha bruxa? — perguntei cochichando em seu ouvido.

— Que coisa feia, Raven. — disse, me repreendendo, se levantando. — Essa é realmente nossa vizinha da casa ao lado. Mas nunca conversamos pessoalmente.

— Como vai garotinha? — a velha disse sorrindo. Seus dentes estavam amarelados, e não conseguia se abaixar para me ver, pois estava com dor nas costas. — Eu me chamo Nena, qual é o seu nome?

Eu segurei na saia da minha mãe com medo e disse:

— Eu... É... Meu nome é Raven.

— E este é o Gael. — ela olhou para os lados. Foi quanto vimos a ponta de seu sapato. — Anda, saia desta árvore...

O garoto aparentava ter a mesma idade que eu, talvez seis ou sete anos. Mas o que realmente chamara minha atenção, eram seus cabelos loiros cacheados, com pequenas pontas castanhas. Nunca havia visto alguém assim. A maioria dos moradores eram loiros e velhos. Ele era... Diferente.

— Oi... Raven. — ele disse. — Você é muito.... Quer dizer... Seu nome é muito bonito.

— Obrigada. — sorri tímida, me aproximando dele. — Ela é sua Vó?

Ele me olhou confuso.

— Eu não sei. Eu a chamo de mãe.

— Como não sabe?

— Ela sempre cuidou de mim. Não é isso que as mães fazem?

O sol se pôs aos poucos. Continuei a olhar fixamente. Conforme ele se afastava, minhas esperanças também se dissiparam.

Estava tão perdida nos meus pensamentos, que até me lembrei de quando o conheci. Pois era exatamente com ele que estava preocupada.

— Gael... — disse baixinho para mim mesma.

Eram exatamente 6 em ponto. Já faziam 3 horas que não via Gael. E a cada posição que a lua se movia, percebi que o tempo se passara rapidamente. Já anoiteceu e ele não voltou. O que poderia ter acontecido? Teria sido preso ou morto? Não ousaria acreditar nesta possibilidade, conheço Gael, ele acharia um jeito de escapar e me encontrar. Então... O quê...?

— Está tudo bem, Raven?

Me virei e vi que meu pai me chamava, com uma de suas mãos em meu ombro.

— Sim! — respondi de sobre-salto.

— Se algo a preocupa... Pode me contar.

— Essa não é a melhor hora para dizer isso. — respondi me levantando. — Não é só você que tem segredos aqui.

— Tudo bem... Só iria dizer que o jantar está na mesa e está ficando tarde... — sua face mudou. — Mas não tarde o bastante para cumprir sua missão.

O observei contrariada.

— O que quer dizer com isso?

— A partir de agora, eu não ouvi e nem vi nada.

Vendo a oportunidade que me dera para salvar Gael, o abracei calorosamente.

— Obrigada, pai...

— Eu não ouvi nada!

Rindo, vesti meu capuz vermelho e peguei meu arco e flecha. Corri para fora de casa, ouvindo seu último aviso:

— Tenha cuidado.

Concordei saindo. Pegando meu cavalo no estábulo, corri rapidamente em direção ao meu objetivo.

Por isso, peço que ele ainda me espere, pois vou salvá-lo.

Gael

— Merda! — corri o mais rápido que pude, desviando de comerciantes e das flechas dos guardas.

Já fazia horas que tentava fugir dos guardas. Me escondendo entre as casas e a multidão, tentava me manter vivo. Quando finalmente vi uma escapatória, corri.

Corri tanto que mal vi as flechas dos soldados sendo atiradas próximas aos meus pés. Não sabia nem onde mais estava ou que horas eram, pois minha única preocupação era se ela havia escapado.

Caminhando entre as grandes árvores, percebi que estava na floresta de Tiderood. As flechas e os alvos espalhados pelo local, eram inconfundíveis.

Olhei tanto para os alvos que acabei me distraindo. É, me ferrei. Esbarrei em uma pedra e acabei por escorregar dentre a floresta.

"Onde me esconderei? Mal conheço a floresta de Tiderood." — pensei.

Mas as firmes cavalgadas não me deixaram pensar. Continuei então a correr.

Quanto mais adentrava na floresta mais percebia o quanto de flechas haviam espalhadas nas árvores e no chão. Além das que os guardas arremessavam, é claro. Foi quando uma brilhante ideia me ocorreu:
Flechas em alvos e algumas ao chão, as peguei e joguei nos guardas. Seis cavalos e soldados ao todo. Por incrível que pareça, Atrasei um. Melhor do que nada.

Pedras. Ok, vou ser Davi agora. Que tal matar esses gigantes? Pode parecer idiota, mas deu certo. Mais um. Sobraram cinco. O que farei?

Flechas e mais flechas. Mas estas eram diferentes. Tinham as pontas vermelhas. Meu coração palpitou ainda mais quando pensei. Era Raven! Tinha absoluta certeza. Sobraram agora, apenas três soldados.

Depois de correr por dentre a mata, estava chegando a um vilarejo do lado contrário a Tiderood.

— Aaa! — a sorte não estava do meu lado.

Quando olhei para trás, uma flecha de um soldado me acertou e caí em um buraco. Era como se tudo estivesse planejado. Como haveria um buraco exatamente da minha altura na entrada da cidade?

E mais uma vez, não tinha tempo para pensar, pois precisava agir. Talvez conseguisse escapar antes que eles ne alcançassem.

Escalar ou me render? Escalar ou me render? Não conseguia impedir maus pensamentos. Onde estaria Raven? Estaria segura ou continuariam me procurando?

— Raven...

Me pegaram. Tentei lutar contra os puxões, mas estava ficando cansado e sonolento. Foi a flecha do guarda que me atingiu, estava com sonífero. Levei um soco no estômago e outro na cabeça.

— Raven, me perdoe...

"Mas não se preocupe, pois ainda... Voltarei."

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