Capítulo 10 - Quem realmente és?

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"Preserve teus princípios, assim serás alguém de palavra"

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Raven

As horas pareciam não passar. Pois eu permanecia fixa naquele momento. O momento que tanto esperava. A verdade sobre nossa família. A revelação daquele maldito segredo que nos rodeava por todos esses anos.

Por isso, continuei de pé, ouvindo atentamente cada palavra que ele poderia dizer. Continuávamos reunidos na sala, ainda com a expectativa de que meu pai, finalmente dissesse a verdade.

— Pois bem, Raven. Acho melhor que pergunte, assim eu respondo cada uma de suas dúvidas. —  ele levantou seu olhar para mim, perguntando algo com seriedade. — O que queres me perguntar?

Ele continuava se esquivando das respostas. Mas vi naquele momento uma oportunidade para descobrir o que queria, então respondi:

— Tantas coisas papai... — descruzei os braços. — Que tal... Por que continua mentindo? — me aproximei ainda mais para vê-lo.  — Ou quem você realmente é? — perguntei, o fitando com os olhos.

— Eu queria responder todas elas minha querida, mas tenho minhas prioridades. — riu mais para si mesmo, do que de nossa conversa. — Mas não serei injusto com você. Tem o direito de uma. Uma pergunta. — frisou. — Te prometo em meu nome que não omitirei a resposta. — disse sincero.

Completamente irritada, disse:

— E desde quando você cumpre sua palavra? — ironizei.

Mas respirei para pensar melhor. Eu tinha o direito de uma pergunta e eu precisava ser direta com ele, antes que mudasse de opinião. Me desligando de meus pensamentos, disse por fim:

 — A pergunta é... Quem você é papai? Quem você realmente é. — disse amargurada.

— Raven... — começou dizendo.

E eu sabia que mais uma vez, ele mentiria para mim. Então por um momento, senti que fui desligada do tempo e que vagava nitidamente pelos meus pensamentos. As memórias voltaram. Cada uma delas, as mais dolorosas se passavam em minha frente. Minha mãe chorando em seu quarto, quando ficou furiosa pelas minhas perguntas incessantes; as brigas entre eles;  papai chegando extremamente ferido em casa; entre muitas outras...

Fiquei espantada. Como pude esquecer cada uma dessas coisas? Era como se tivessem limpado minha mente. Ou então... Eu apenas fingi não vê-las para esquece-las. Pois eu sabia que se lembrasse de cada uma dessas coisas, nunca mais esqueceria. A verdade as vezes, pode ser dolorosa demais. Talvez era isso, que eu deveria ter entendido, mas preferi cada vez mais me machucar. A cada pergunta ou busca, me afastava de quem eu era, buscando quem os outros verdadeiramente eram. E agora, a única coisa que me restava, era a maldita verdade.

E foi ela que me trouxe á tona. Lágrimas rolavam em meu rosto, fazendo com que em seguida, a raiva me dominasse.

As dúvidas me cercavam. Como não conheço minha própria família? E afinal, quem realmente é meu próprio pai? Pressentia que encontraria respostas e um segredo obscuro seria revelado... As minhas lembranças eram apenas pequenas chamas de um grande incêndio.

Estava muito confusa. Então com os meus sentimentos a flor da pele, decidi impor um fim naquela situação:

— Por que papai? Colocou a nossa família em perigo! Achou que eu não descobriria? Que seria ingênua o suficiente de não perceber que-

— Vejo que é esperta... — ele me interrompeu imediatamente. — Digamos que curiosa e persistente, não se contenta com apenas "em breve saberá", minha querida?

— Onde deseja chegar com essas desculpas esfarrapadas, papai? E a final, quem você realmente é?

— Se és a verdade que deseja... Eu sou... Robin Hood. — se levantou vagarosamente. — Está respondida sua única pergunta.

Antes que ele saísse da sala, continuei:

— Robin Hood! Mas é claro! Já havia escutado este nome a anos, alguns te chamam assim. — me concentrei nas pequenas memórias. — Eu descobri o motivo.

Respondendo com os olhos, papai se virou pra mim. Aquele olhar frio me analisava. Fazendo com que minha voz vacilasse, mas permaneci dizendo:

— Gael e eu procuramos diariamente pistas e alguma coisa que dissesse alguma verdade pra mim. Eu queria saber sobre você papai, já que ninguém me dizia nada. Então encontramos livros e símbolos exatamente iguais, sempre com aquela linguagem distinta. O seu diário, se lembra? Eu vi você na sala um dia destes, lendo cada detalhe deste livro. Dentro haviam cartas, de cada reino distinto do mundo, para cada pessoa diferente. E nelas haviam selos, com aquela linguagem. Achei um livro soterrado no porão, ele explicava cada palavra, símbolo e um mapa, um mapa do tesouro. — fui até a estante e peguei um dos pergaminhos que Gael encontrou. — "Os Vigilantes". Sabem quem são papai...? Te lembra algo? — perguntei ferosmente.

Ele gargalhou, e disse pra mim:

— Estou surpreso Raven. Acreditei que descobriria tudo com suas próprias mãos. Mas ainda assim é impressionante... 

Desta vez, me olhou com seriedade e pela primeira vez, vi sinceridade em seus olhos.

— Eu... — colocou uma de suas mãos em seu próprio coração, tristemente. — Sou o último Vigilante.

O que queria saber, finalmente se revelava diante de meus olhos. Depois de tantas mentiras, ele finalmente havia decidido confiar em mim. O que significava que ele me faria as mesmas perguntas que fez a Loren. E sabendo que não estaria pronta para responde-las, apenas perguntei o que me atormentava:

— Por favor, papai. — dizia chorando. — Me diga... Você não vai morrer vai...?

Ele abaixou seus olhos, cruzando os dedos das mãos. Ouve um silêncio, mas eu sabia a resposta.

Então, sem medo de que nunca mais me contasse nada, o abracei com compaixão. Pois tudo o que havia feito, até os dias de hoje, era pra me proteger. Me proteger de um mundo cruel e injusto.

— O mundo não é justo Raven, e sei que precisamos mudá-lo de alguma forma. — ele disse confiante, levantando seu rosto. — Raven, preciso que você me ouça atentamente, pois contarei sobre minha história...

Me afastei de seu abraço para olhá-lo. Estava com um olhar triste, mas seu sorriso mostrava uma determinação que jamais vira em toda minha vida. 

— A verdade? — indaguei.

— A verdade...
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