Capítulo 46 - O Rei

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"Todos erramos, ás vezes perdemos ou ganhamos, devemos aceitar que estas coisas acontecem e seguir em frente. Por mais difícil que seja. Lute."

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Raven

Não. Não pudia deixar isto acontecer. Daniel não é a pessoa mais santa do mundo, mas eu ainda acreditava que ele poderia mudar. No fundo ele nunca foi alguém mau, estava apenas perdido por tantas coisas ruins que aconteceram em sua vida. Todos nós temos momentos assim, de recaídas, a diferença é como lidamos com elas e principalmente o que significam pra nós. Se nos fazem amadurecer ou retroceder. 

Ele precisa de ajuda. Sei o quanto é ruim se sentir sozinho. Por isso, agora, mais do nunca, eu te perdoo Daniel. E espero que desta vez você agarre esta oportunidade e mude de vida. Todos erramos, ás vezes perdemos ou ganhamos, devemos aceitar que estas coisas acontecem e seguir em frente. Por mais difícil que seja. Lute. E agora... Preciso salvá-lo.

Gael vinha correndo ao meu encontro, e meu olhar se oscilava entre ele e Daniel. Quando ele se aproximou para me abraçar eu me desvencilhei de seus braços.

— Raven?! —  me olhava confuso.

Olhei para ele e corri em outra direção. Fui me aproximando e afastando aquelas pessoas do antigo rei. Algumas me empurravam de volta, por isso até caí no chão. Mas me levantei e continuei o procurando. Até que o vi no chão, todo ensanguentado. Não sabia se estava vivo ou morto. Apenas me posicionei em sua frente.

— O que estão fazendo!? — gritei para as pessoas reunidas. —  É isso querem? Mais mortes? Não se cansaram disso?

— Ele merece morrer! — alguém da multidão gritou.

— Não são vocês que decidem isso. — disse comprimindo os olhos. — E eu deixei bem claro, a missão de capturá-lo é minha e dos Vigilantes.

— E por que não a fez? — um dizia cínico.

Não respondi e me ajoelhei ao seu encontro. Mal respirava, mas podia ouvir batidas fracas do seu coração.

— Ainda está vivo. — sussurrei pra mim mesma.

— Então é isso! — uma velha gritava. — Não fez porque está do lado dele! — disse em um tom amargado. — Traidora...

Continuei de costas para ela e respondi com a mesma raiva.

— Depois de tudo que fiz por vocês, ainda alguém têm coragem de dizer isso? — olhei pra ela com raiva. — São um bando de ingratos!

Muitos se irritaram e vieram me atacar, até que ouvi uma voz bem familiar vindo me salvar.

— Parem! É uma ordem! — dizia Gael. 

Todos se viraram para vê-lo, Abrindo um espaço, para que viesse ao meu encontro.

— O que está fazendo, Raven? — se aproximou, se ajoelhando de frente para mim. — Perdeu o juízo?

— Eu só...

Mal pude terminar minha frase, pois ele me abraçou.

— Você demorou e eu pensei que... Eu pensei que... — ele sussurrava. — Tivesse morrido.

O abracei mais forte, retribuindo seu gesto.

— Não, não. — neguei tristemente. — Me desculpe.

— Então... — se soltou e me olhou nos olhos. — Ordenei para que todos viessem pra cá. Estava com muita raiva... Que acabei dizendo para matarem ele. Me desculpe. — segurou minhas mãos. — Que bom que está bem.

— Eu entendo, mas foi um gesto precipitado. — soltei minhas mãos, olhando para o ferido caído ao meu lado. — Não devia... Ele está...

Gael se levantou e se ajoelhou próximo a Daniel.

— Quando pensei que tinha a matado, algo me dizia que poderia não ser verdade. E por pior que você seja, ainda é meu irmão. — colocou uma de suas mãos, próxima a ferida no corpo de Daniel. — Espero que me perdoe. — levou sua mão manchada de sangue, ao coração.

Ele não respondeu, estava inconsciente. Então depois deste gesto, se levantou e pronunciou as seguintes palavras:

— Cidadãos deste reino e de toda a Inglaterra. — Gael subiu em um barril e pronunciou estas palavras. — Quero agradecer a todos que participaram desta revolução. Acredito que sem vocês, nada disso seria possível, afinal nós vencemos! — ele ergueu as mãos ao alto e todos aplaudiram. — A partir de hoje, eu serei o novo rei. Vou fazer o possível para melhorar este reino. E como primeira ordem, digo que começaremos a recolher todos os corpos pelas cidades, seja de soldados ou de cidadãos, devemos respeitá-los e fazer uma homenagem por terem lutado e defendido até o fim seus ideais, logo após será o funeral. Reconstruiremos o que foi destruído e começaremos uma reforma por todo o país. Na semana que vem faremos o evento da coroação, espero que todos estejam presentes, mas enquanto isso... Eu sou o rei. 

Assim que terminou seu discurso, toda a população aplaudiu. Separou os grupos e logo após, soltou fogos de artifício ao céu em comemoração. Olhou pra mim e sorriu, enquanto estávamos do lado de fora do castelo.

— Nós conseguimos. — disse para mim, contente.

— Eu sei... — sussurrei olhando para ele, ainda olhando para trás.

Levamos Daniel á um dos quartos do castelo, e médicos o ofereciam os devidos cuidados. Depois de curado, iria direto para a prisão, mesmo eu não concordando com isso.

— Ainda não podemos confiar nele. — meu companheiro justificou sua escolha. — Muito menos a população. É seguro pra todos nós que ele fique preso.

— Tudo bem... — eu assenti, mesmo que não fosse o que eu queria. Depois, saímos da sala.

— Agora vamos, minha futura rainha... E esposa. — disse sorrindo e se ajoelhando.

— O q-quê? — perguntei assustada.

Ele procurou algo nos bolsos e segurou minha mão, com a outra.

— Talvez este não seja o momento e nem o lugar certo, mas...

— E nem a mão certa. — eu o corrigi e nós rimos.

— Eu te amo e eu quero me casar com você. — disse olhando para mim. — Eu sempre quis dizer isso. — refletiu para si.

— Eu também te amo, Gael. — disse me segurando para não explodir de felicidade.

— Então... Minha princesa... — tossiu. — Quero dizer... Minha rainha, deseja ser minha futura esposa?

Olhei seu olhar preocupado e sorri.

— É claro que eu quero!

— Ufa! — colocou uma aliança em meu dedo. — Há anos eu esperava dá-la pra você. Daniel havia colocado em um colar pra mim. Era da minha mãe...

— E sei que é importante pra você, então... — eu disse tirando do dedo.

— Não me entenda errado. — colocou-a de volta. — É importante pra mim, por isso eu quero que fique com ela. — ele segurou em minhas mãos por um momento. — É... Eu não lembro o que ia dizer...

— Então não diga nada. Apenas... — eu disse e o beijei. 

Era estranho porque já fazia muito tempo. Não era o mesmo que o nosso primeiro beijo e muito menos igual ao último. Era especial, diferente e de uma forma igual a todos os outros, porque ele nos unia.

— Eu queria ficar o dia inteiro aqui com você, mas ainda temos muito o que fazer. — disse desanimado.

— Eu sei... — concordei. — Eu vou com você.

E eu sabia que nada aquilo era o que tinha imaginado. Sempre sonhei que ele me pediria em noivado no nosso cantinho, onde víamos o pôr do sol. E agora vejo que nada disso importa. O que valia era o nosso momento. Não importava o lugar, hora, os mosquitos que nos rodeavam. O que realmente importava era com quem eu estava, porque o amo.

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