Capítulo 3

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A sala destinada aos jovens que passariam pela Seleção ficava no subsolo. Era ampla, com cadeiras estofadas e várias telas pelas paredes. Os resultados apareceriam ali e, assim, todos poderiam acompanhar, independentemente de onde estavam acomodados.

Na companhia das amigas, Aline sentou-se no meio da sala, onde ainda havia cadeiras desocupadas. As da frente, diante do palco, foram as primeiras a serem ocupadas. Dali de cima, os militares responsáveis comandariam a parte que lhes cabia do processo.

Por mais que a sala estivesse repleta de pessoas, o sistema impecável de refrigeração funcionava muito bem, porém não o suficiente para conter o suor de Aline. A cada minuto que passava, o nervosismo a consumia, pois sabia que a Seleção lhe diria o óbvio. Outra coisa que também passou a lhe corroer era a própria colocação. Não estava pronta para lidar com aquilo.

Por mais que Mônica, sentada à direita de Aline, não parasse de falar, sequer prestava atenção ao assunto. O tempo todo olhava para o palco e Giovana, que continuava a ser ignorada por pessoas como Mônica. Com o coração batendo enlouquecido, também via pelas televisões os pais dos adolescentes assomarem as arquibancadas. Pensou em Isabel. Com certeza estaria ali no meio, ansiosa pelo resultado. O pai estava no trabalho, provavelmente atento à televisão mais próxima, pronto para apontar para a foto da filha assim que aparecesse e mostrá-la para todos, orgulhoso.

Balançou a cabeça. Pensar naquilo não estava ajudando. Só a deixava ainda mais nervosa, ansiosa, com as mãos suando. Só queria que tudo acabasse logo.

Os minutos passaram em velocidade reduzida. Aos poucos, as conversas foram diminuindo, já que a tensão começava a tomar até os mais animados. Quando quase não se ouvia vozes, o símbolo da nação, uma esfera azul com uma faixa branca no meio e várias estrelas, tomou as televisões e o grande telão atrás do palco. Estava começando. Aline se contraiu toda.

Alguns militares subiram no palco, entre eles o capitão, responsável pelos resultados das últimas seleções. O homem branco fardado impecavelmente com as roupas militares se aproximou do microfone. Primeiro sorriu. Depois pigarreou e deu início ao discurso:

— Bom dia, jovens promessas do futuro desta nação. Para quem não me conhece, sou o capitão César Mendes e hoje serei o responsável pela Seleção — uma salva de palmas fez com que ele agradecesse com um aceno de cabeça. — É com grande alegria que hoje vocês serão apresentados à sua mais do que honrosa missão como cidadãos.

— Mais honrosa para alguns do que para outros, né? — Mônica cochichou, tendo certeza de que Giovana ouvira.

Aline a olhou em censura, deixando-a em silêncio de novo.

— Gostaria de salientar que, independentemente da missão que lhes será entregue, pelo resto de suas vidas, todos terão um papel importante para o bem de nossa pátria amada — continuou o capitão. Aline sentiu Giovana tremer ao tentar conter o choro.

Todos aplaudiram. O capitão prosseguiu:

— Durante três anos, todos aqui presentes foram avaliados com testes físicos e lógicos, recebendo notas acumulativas. Como sabem, na tela aparecerá a foto de cada um, com colocação e código da carreira. Os que estiverem após a linha vermelha, tendo as melhores notas, serão encaminhados para o exército, e o que tiver a maior pontuação será o líder do pelotão. Contudo, para este ano, dois de vocês se destacaram e serão condecorados com essa menção honrosa.

Dois? Aline pensou. Houve empate no primeiro lugar? Não só ela como todos os outros se olharam, tentando entender se realmente aquilo poderia acontecer. Os cochichos aumentaram, e o capitão César Mendes pediu silêncio. Ele se virou para trás, onde estava localizado o telão, e apertou o botão de um pequeno controle que tinha nas mãos. No instante seguinte, as fotos dos jovens começaram a descer pela tela junto da nota, sempre da menor pontuação para a mais alta.

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