Quando chegaram ao Complexo, Aline tirou Mônica da parte de trás do caminhão e a colocou sobre a maca que já a estava esperando. Enquanto a levavam para a enfermaria, ficou parada ao pé da escadaria do prédio principal pensando em tudo o que acontecera naquela noite. Perdera Raul, conhecera a general Samara Macedo, que claramente desconfiava dela, e foi obrigada a revelar à Mônica mais do que deveria.
Com um aperto no peito com as possibilidades, caminhou receosa em direção ao salão. As famílias não se encontravam mais ali, e descobriu que já tinham ido embora. Se pudesse escolher, também gostaria de não estar mais naquele ambiente.
Alexandre parou ao lado dela e ficou quieto por alguns segundos, o que não durou muito.
— Era o único jeito de pará-la.
Assentiu, compreendendo que falava de Mônica.
— Tudo bem. Já devem estar dando um jeito no ferimento.
Ficou de frente para ela.
— O que o Raul estava tentando te dizer antes de morrer?
— Como vou saber? — deu de ombros. — Ele devia estar delirando.
Alexandre chegou a tomar mais ar para dar continuidade ao assunto, mas foi interrompido pela aproximação do capitão César, que o tocou no ombro.
— Mais uma vez, cumpriram a missão com louvor — sorriu, mesmo que os olhos não demonstrassem felicidade. — A general Macedo está esperando por vocês na sala de armas. Convoquem o restante do pelotão e se dirijam para lá o mais rápido possível — deu palmadinhas no ombro de Alexandre e se afastou.
Cumprindo a ordem, Aline voltou a ligar o comunicador e entrou em contato com todos. Em poucos minutos, reuniam-se diante da figura mais imponente do Complexo Militar de São Paulo. Ao esperar que todos se ajeitassem, surpreendeu-se a encontrar Heitor entre eles. Olhou rapidamente para o namorado, que fez um discreto movimento com a cabeça para ela. Como líder, colocou-se à frente do grupo, esperando que a general começasse.
Samara observou a todos de cima a baixo e concentrou mais segundos do que o esperado em Aline, o que a desagradou. Ao lado dela, avistou César e mais duas pessoas que não conhecia, um homem e uma mulher. Samara pigarreou e começou a falar:
— Vocês fizeram um bom trabalho esta noite, soldados. Capturaram o rebelde com maestria e o trouxeram vivo. Antes de serem dispensados, gostaria que conhecessem mais alguns dos seus superiores — fez um discreto movimento de cabeça para as pessoas que Aline não conhecia.
O sujeito negro e com pose de oficial, por mais que não trajasse as roupas militares, empinou o queixo e se apresentou:
— Meu nome é Ezequiel Almeida e sou o tenente-coronel deste Complexo.
Os soldados bateram continência. Foi a vez da mulher branca e de cabelos loiros se apresentar.
— Meu nome é Elsa Santana e sou a major deste Complexo.
Estão todos acima do César, pensou. Seguindo a hierarquia militar, ainda precisava conhecer o coronel, mas, pelo jeito, não se encontrava ali.
Antes de a general dispensar a todos, mandou que Aline, Alexandre e Heitor ficassem na sala. A notícia fez com que o coração dela batesse enlouquecido. Mesmo assim, por fora transparecia normalidade com a ordem.
Assim que o último soldado saiu, Samara voltou a analisá-los atentamente.
— A soldado Machado será avisada depois — referia-se à Mônica. — Amanhã à tarde, vocês devem se apresentar para interrogatório.
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País Imerso [completo]
Science FictionLIVRO 1 Sinopse: É durante as madrugadas que Aline é acordada pela mãe para que possa estudar. Escondida, ela aprende a história do país, algo esquecido há tempos pela sociedade analfabeta, e o que levou os militares ao poder. Aconselhada pela mãe...