Capítulo 28

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Como combinado, aguardava do lado de fora da própria casa, na calçada. Aline apertava uma mão na outra, nervosa. A curta conversa que tivera com César pelo telefone foi suficiente para notar a reprovação na voz do capitão. Mesmo assim, ele concordou em ouvi-la melhor depois. E ali estava ela, esperando por ele.

Quando o carro de cor preta diminuiu a velocidade ao se aproximar da residência, Aline prendeu a respiração. Logo que parou diante dela, soltou-a e abriu a porta, acomodando-se ao lado do motorista.

César a cumprimentou e voltou a dirigir.

— Tente me convencer de que essa manobra é a melhor opção — olhou-a de relance.

Respirou fundo e começou a falar. Contou, com detalhes, o que Heitor descobrira e que precisavam ter acesso às gravações da noite do baile. Beto poderia lhe contar onde encontrar um teclado com letras. Enfatizou que tinha certeza de que Raul descobrira algo, por isso o mataram. O fato de o exército não ter divulgado que o amigo era um rebelde também soava muito suspeito.

Ao fim do relato, César deu um longo suspiro. De repente, mudou a rota e estacionou em uma rua qualquer. Desligou o carro e virou-se para Aline.

— É uma ação muito grande para uma suposta informação. E sei que provavelmente há um teclado desse em algum acampamento.

— Então você poderia nos arranjar um.

Ele riu e negou com a cabeça.

— Estou dentro do sistema desde os doze anos. Desconheço as localidades dos acampamentos rebeldes. Agora, se Beto souber de alguma coisa, algum acampamento próximo, essa informação será mais útil. Pelo que soube, ele não revelou nada a respeito durante as torturas.

Aline recostou-se melhor no banco e ponderou.

— Será que consigo fazer com que Beto me dê a localidade de algum acampamento?

— Creio que sim — voltou a ligar o veículo. — Ele já sabe que você é diferente — sorriu de canto. Enquanto manobrava, acrescentou: — Manterei o mínimo de soldados possíveis por perto durante a ação de vocês. Só sejam rápidos e eficazes.

Segurando o sorriso, ela apenas concordou. Tinha o aval do capitão.

***

O coração de Heitor martelava dentro do peito enquanto andava pelo Complexo Militar com destino à sala de vigilância. Os pensamentos percorriam diversos caminhos, principalmente a respeito do que descobrira, de toda a verdade que Aline lhe revelara dias atrás.

Nunca, em toda a sua vida, se rebelara contra o sistema, isso sequer passava pela mente, mas tudo mudara em pouco tempo. Fechou o punho de raiva ao pensar que as pessoas que detinham conhecimento jogavam como queriam com o resto da população ignorante. Sentiu-se menor, um completo idiota, apenas mais uma peça daquele jogo. Não entendia como Aline conseguiu viver com o peso da verdade, vendo as coisas acontecerem sem poder dizer ou fazer nada a respeito.

Entrou hesitante na sala de vigilância, e os demais militares sequer olharam para ele, continuavam com a visão fixada nos monitores. Alguns digitavam números em pequenos teclados, outros maximizavam vídeos do Complexo com as mãos nas telas, e outros apenas mantinham-se recostados em cadeiras, observando as imagens em tempo real.

Acomodou-se no seu lugar e olhou para os lados, confirmando que ninguém prestava atenção nele. Era hora de agir.

Como a máquina já estava ligada, puxou o teclado para mais perto e digitou uma sequência de números. No segundo seguinte, a câmera da sala de armas apareceu. Ampliou a tela usando os indicadores e viu Aline em pé diante de uma bancada ajeitando alguns fuzis. Por um momento, esqueceu-se do que faria e admirou a beleza da namorada. Mesmo séria, continuava linda. Sorriu e balançou a cabeça para voltar à tarefa.

País Imerso [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora