Capítulo 39

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No dia anterior, recebeu a notícia de que a execução da Giovana fora marcada para dali dois dias. Por causa daquilo, ajeitavam tudo o que precisavam para irem embora após o resgate. Segundo César, não conseguiram tirar nada dela, que continuava em silêncio absoluto, até mesmo durante as torturas.

— Vocês terão de agir com cautela para que tudo dê certo — ele comentou baixo ao lado dela enquanto subiam as escadas do prédio principal do Complexo. Mudando o tom que lhe direcionava, já que chegavam ao salão, César avisou: — Você estará no turno da noite hoje, terceiro-sargento. Por isso, estará dispensada no horário do almoço.

— Sim, senhor.

— Preciso resolver alguns assuntos agora cedo. Logo mais entrarei em contato. Querem que você converse com a rebelde, já que tinham um laço afetivo — a informação nova fez com que o coração de Aline saltasse dentro do peito. O capitão continuou: — Não vejo motivos para isso, mas... — suspirou. — Verei o que posso fazer — e piscou.

— Sim, senhor — bateu continência.

César seguiu andando enquanto encaminhou-se para o vestiário. Trancou-se em uma das cabines para conseguir respirar melhor e pensar no que faria caso estivesse frente a frente com a amiga. Respirou fundo inúmeras vezes e perguntou-se o que ganhariam ao colocá-la em uma situação como aquela. Será que queriam testar o comportamento dela? Ou de Giovana?

Apoiou os cotovelos nos joelhos e a cabeça nas mãos. Por mais que aparentasse controle emocional e bom comportamento, não se sentia no controle de nada. Era como se fosse ruir a qualquer momento. O contato com Giovana antes do resgate poderia desestabilizá-la ainda mais. Respirou fundo algumas vezes, repetindo que precisava se acalmar e se concentrar no que tinha de ser feito.

Por causa das possibilidades, que a faziam direcionar ainda mais energia às ações externas, que estariam aos olhos dos outros, e às internas, que tinha de manter no lugar, sequer concentrou-se devidamente nos deveres. Do lado de fora do prédio, na pista de corrida onde acompanhava o treinamento de alguns soldados, foi cutucada por Alexandre.

— Você ouviu o que eu disse?

Balançou a cabeça para voltar à realidade.

— Me desculpa — passou a mão pelo rosto. — Pode repetir?

Uma ruga se formou entre as sobrancelhas dele.

— Você não anda bem esses dias... — chegou mais perto dela para falar baixo. — Aconteceu alguma coisa?

— Não, estou bem.

Ele estreitou os olhos nada convencido. Suspirou, encolheu os ombros e voltou-se à frente, prestando atenção nos soldados.

— Eu só queria que você confiasse em mim — ele falou devagar. — Gostaria mais da sua confiança do que do meu amor correspondido. Mas tudo bem... — deu de ombros.

Um clima estranho ficou entre ambos, principalmente porque Aline mal conseguia respirar na presença dele. Descobriu ali que também gostaria de confiar em Alexandre, só que não podia. Ela era uma rebelde, ele não. E, se tudo desse certo, nunca mais o veria.

O chiado do comunicador lhe trouxe a certeza de que era o capitão antes mesmo de atender. Como esperado, ele a chamou até o gabinete. Explicou a Alexandre que precisava se encontrar com César e o deixou responsável pelos soldados.

Na sala do capitão, encontrou-o com uma fisionomia nada alegre. Tinha os ombros curvados, como se carregasse um grande peso, e um olhar distante. Quando bateu continência, ele se levantou da cadeira, arrumando a postura, e a guiou para fora de lá.

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