Capítulo 25

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Rodou na cama mais de uma vez sem conseguir dormir. Os acontecimentos da noite lhe martelavam violentamente a mente, fervilhando. As lágrimas escorriam pelo canto dos olhos, molhando o travesseiro. Secou-as pela milésima vez e suspirou para conter as que ameaçavam vir. Por mais que tentasse não pensar no interrogatório, ele teimava em lhe assombrar os pensamentos. O que perguntariam? E se descobrissem alguma coisa que a incriminasse? Sua família estaria em perigo também? Seriam todos executados por traição à nação?

Jogou as cobertas para o lado e se levantou. Desistindo do sono, saiu do quarto e caminhou descalça até a cozinha. Ao descer as escadas, notou a luz acesa e estranhou. Diminuiu o ritmo das passadas e usou toda a habilidade adquirida no serviço militar, andando sorrateiramente.

Na sala, havia um abajur ligado, o restante da luz vinha da cozinha. Parou ao lado da passagem e ouviu a voz da mãe. Olhou para dentro do cômodo e toda a tensão a abandonou ao ver Isabel sentada ao lado de Denis, provavelmente ensinando algo ao menino.

Sorriu com a cena e escorou-se ao batente da porta. Eles ainda demoraram para notá-la e, quando o fizeram, assustaram-se, principalmente Isabel.

— Não apareça assim do nada.

— O que estão estudando? — aproximou-se e olhou para um caderno digital na frente do irmão.

— A mamãe está me ensinando a ler e escrever — Denis sorria.

— Você precisa ver como ele aprende rápido — comentou Isabel toda orgulhosa.

— Parabéns, Denis — afagou os cabelos do irmão. — Mamãe já deve ter falado que ninguém pode saber sobre isso, né?

— Sim — balançou a cabeça em afirmativa. — A mamãe me contou que é proibido — contorceu os lábios pensativo e as encarou. — Nós somos rebeldes?

Isabel e Aline trocaram olhares. Por fim, a mãe beijou a testa do filho.

— Sim, somos. Mas não somos maus como passa na televisão. Nenhum rebelde é mau.

— Nem aquele que a Aline capturou? — virou-se para a irmã.

— Nem aquele — sentou-se ao lado dele e respirou fundo, culpada pelo destino de Beto nas mãos do exército.

Quando chegou do Complexo, mal conversou com a mãe, só queria esquecer pelas próximas horas o que o dia seguinte lhe reservava. Mas ali, diante dela, decidiu contar tudo, desde a descoberta de que a família de Raul era rebelde, passando pelo que ele lhe contara e pela investigação a qual seria submetida, até o que revelou para Mônica e Heitor naquela noite.

— Estou com medo, mãe — os olhos marejaram. — E se descobrirem alguma coisa sobre nós?

— Calma, minha filha — abraçou-a apertado. — Você só precisa se acalmar e se mostrar firme e segura diante deles. Tudo dará certo — acariciou-lhe as costas. — Minha única preocupação agora é com Mônica e Heitor. Eles podem te entregar. Aí sim será um problema.

— Desculpa... Não deveria ter dado a entender nada. Tudo isso é sério demais.

— Não precisa se desculpar. Quanto mais gente do nosso lado, melhor — beijou-a no rosto. — Você só precisa se certificar da lealdade deles. Se Raul foi morto pelo exército, talvez Mônica seja obrigada a olhar com outros olhos para toda essa situação. E, pelo que você falou, Heitor já começou a perceber como as coisas funcionam. Por isso, relaxe por hora e se prepare para o seu interrogatório. Vai dar tudo certo.

Queria ter toda a confiança dela.

— Tá — suspirou tentando se convencer com as palavras da mãe.

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