Capítulo 7

383 53 21
                                    

Irritada, sentou-se à mesa para o café da manhã ainda de pijama. Denis e Leonel olhavam confusos para ela, que comia carrancuda o cereal. Apenas Isabel sabia o real motivo da irritação: não daria mais aulas para a filha nas madrugadas.

Mesmo que compreendesse as razões da mãe, Aline se recusava a aceitar aquilo. Sabia que o treinamento intensivo pelo qual passaria lhe tiraria todas as forças, ainda mais na posição de líder. Contudo, prometeu a Isabel que daria conta dos estudos. Só que não houve diálogo. As aulas estavam suspensas por enquanto.

Após comer e se trocar, despediu-se da família. O destino era o Centro de Treinamento de recrutas, um local diferente de onde treinara anteriormente.

Pegou um ônibus e, tempos depois, desceu já perto do lugar. Durante o curto trajeto que percorreu a pé, tentou ignorar o segundo motivo da irritação: o bendito cargo de líder. A despeito de toda a habilidade que demonstrara no treinamento básico, nunca foi popular entre os colegas. Tinha um círculo social bem restrito, diferente do de Alexandre, que tinha inúmeras admiradoras e vários amigos. A popularidade do líder contava muito para o sucesso do pelotão, que se espelharia nele, o usaria como motivação para continuar. Precisava conseguir o mínimo de empatia da equipe, caso contrário Alexandre se aproveitaria disso para subjugá-la, mostrar a todos que ele era mais preparado para ocupar a posição.

— Bom dia! Bom dia! — Mônica lhe chamou a atenção, retirando-a dos devaneios.

Assustou-se com a amiga surgindo do nada, pulando em cima dela com um abraço. Percebeu então que já estava na entrada de acesso ao Centro. Repreendeu-se por estar distraída. Como líder, precisava se manter atenta, portar-se como tal. Passando os olhos pelo local, reparou em vários grupos de jovens por perto e ficou preocupada. Teria passado uma primeira imagem errada de si mesma? Alheia, perdida em pensamentos?

Sem tempo para conversas, a amiga a puxou pela mão quando todos foram autorizados a entrar. Levou-a para o vestiário, onde receberam os uniformes: uma malha azul com alguns detalhes em branco, feita de material resistente que permitia e absorvia a transpiração. A roupa que se modelava confortavelmente ao corpo, dando liberdade de movimentos, destacou as curvas de Aline. Odiou-a no segundo seguinte após vesti-la.

Mônica, ao contrário, adorou o uniforme e se olhou de todos os ângulos possíveis no espelho. O corpo magro e esguio foi valorizado. Enquanto isso, Aline se perguntava se algum tarado teria desenhado aquela roupa feminina. Será que a masculina era similar?

Deixaram o vestiário e se encaminharam para o centro do extenso pátio, onde todos se reuniam para esperar o início das atividades. Ainda desconfortável com a roupa, retraía-se involuntariamente, numa falha tentativa de se esconder. Sentia cada vez mais olhares sobre si e não sabia como lidar com aquilo.

— Por que está tão quieta? — Mônica a cutucou. — Preocupada com o seu encontro com o Alexandre hoje? — formou um coração com as mãos e fez o movimento de batidas no próprio peito.

— Para com isso — tirou as mãos da amiga daquela forma ridícula e olhou para os lados para ter certeza de que mais ninguém vira. — Estou preocupada sim, mas tenho mais questões para lidar do que com essa aproximação estranha.

— Relaxa, amiga, você é incrível em campo. Muitos te admiram. É só mostrar as próprias habilidades e se impor. As pessoas vão se espelhar em você tanto quanto nele.

— Espero que sim...

Logo avistou Alexandre. Conteve a vontade imediata de revirar os olhos para prestar mais atenção nele, em como agia com as pessoas. Cercado por vários adolescentes, ele ria como se tivesse ouvido algo muito engraçado. Com frequência, virava-se para Heitor, o melhor amigo, e comentava algo.

País Imerso [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora