Capítulo 5

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Aline foi acordada cedo pela mãe e suspirou, sentindo-se pouco à vontade com o dia de vacinação. Por mais que soubesse ser algo essencial para continuar saudável, a ideia de ver as pessoas mais velhas, desesperançadas, diante do final da vida não lhe agradava. Principalmente porque naquele ano havia o pai de Mônica. Continuou sentada de cabeça baixa, com os pensamentos rodando em volta do dia de vacinação. Só saiu daquele estado introspectivo quando Isabel voltou a chamá-la.

Já que um dos postos de vacinação ficava perto de casa, ela e a mãe foram caminhando após o café da manhã. Despediram-se de Denis e Leonel antes de saírem.

Enquanto andavam, Aline observava as pessoas que seguiam pelo mesmo caminho. Jovens exibiam uma expressão radiante, afinal, o governo salientava que cada dose de vacina era a certeza de uma vida livre de doenças que tanto afetaram a população em outros tempos. Nunca entravam em detalhes sobre os males de antigamente, apenas enalteciam a maravilhosa cura desenvolvida. Já os mais velhos pareciam fracos, cansados e sem esperanças, conformados com o fim.

Aproveitando-se do momento sozinhas, perguntou à mãe a respeito do passado, de como as pessoas lidavam com o limite físico. Isabel logo desviou a vista e engoliu em seco. O silêncio dela fez com que Aline desconfiasse do que lhe responderia antes mesmo de fazê-lo.

— Não sei — contorceu os lábios.

— Não sabe mesmo? — cruzou os braços.

— Já disse que não sei — deu-lhe um leve beliscão na cintura. — Por que? Está duvidando? Anda muito desconfiada de mim ultimamente.

Parou de andar e Isabel fez o mesmo. Séria, externou o que vinha a incomodando há tempos.

— Mãe, estou pronta para saber de toda a verdade, tá? Você não precisa mais tentar me proteger. Só quero que confie em mim.

Surpresa, Isabel ficou sem reação. Após poucos segundos, sorriu com carinho e abraçou a filha.

— Quando foi que você cresceu desse jeito? — beijou-a no rosto. — Eu confio em você. Só preciso de um tempo para me acostumar com a ideia e me organizar para te revelar coisas importantes, tudo bem? Tenha paciência comigo. Por hora, foque apenas no início das suas atividades no exército.

Assentiu, aliviada por ter colocado para fora o que lhe afligia. Deixara de ser criança e queria que a mãe a tratasse como adulta. Pelo menos agora Isabel sabia e prometera resolver a situação.

No posto, logo na entrada, ambas pressionaram o polegar sobre o visor de uma máquina. Na tela, aparecia a foto da pessoa e a idade. Ao imprimir a senha, o responsável a entregava ao cidadão e indicava a direção da sala a qual fora designado, de acordo com a idade.

Os menores de dez anos iriam acompanhados pelos pais. Nas demais salas, só entrava aqueles que aguardariam a vez de ser vacinado.

Aline se separou da mãe e andou pelo extenso corredor de paredes brancas e aspecto frio. Entrou na sala três, onde apenas aqueles com quinze anos estavam à espera, todos perfeitamente saudáveis. Ao fundo da sala, havia outras menores, um espaço dedicado para a aplicação da vacina.

— Pelo menos, neste fim de semana, você tirou uma folga do Alexandre, né?

Virou-se surpresa ao ouvir a voz de Giovana e a abraçou fortemente.

— Nem me lembre disso — resmungou antes de soltá-la. Por que as amigas sempre falavam dele? Não conseguiam pensar em outra coisa?

— Tenho certeza de que vocês encontrarão um jeito de não se matarem nos primeiros dias de treinamento — sorriu com carinho. — Qual a sua senha?

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