Aline foi acordada cedo pela mãe e suspirou, sentindo-se pouco à vontade com o dia de vacinação. Por mais que soubesse ser algo essencial para continuar saudável, a ideia de ver as pessoas mais velhas, desesperançadas, diante do final da vida não lhe agradava. Principalmente porque naquele ano havia o pai de Mônica. Continuou sentada de cabeça baixa, com os pensamentos rodando em volta do dia de vacinação. Só saiu daquele estado introspectivo quando Isabel voltou a chamá-la.
Já que um dos postos de vacinação ficava perto de casa, ela e a mãe foram caminhando após o café da manhã. Despediram-se de Denis e Leonel antes de saírem.
Enquanto andavam, Aline observava as pessoas que seguiam pelo mesmo caminho. Jovens exibiam uma expressão radiante, afinal, o governo salientava que cada dose de vacina era a certeza de uma vida livre de doenças que tanto afetaram a população em outros tempos. Nunca entravam em detalhes sobre os males de antigamente, apenas enalteciam a maravilhosa cura desenvolvida. Já os mais velhos pareciam fracos, cansados e sem esperanças, conformados com o fim.
Aproveitando-se do momento sozinhas, perguntou à mãe a respeito do passado, de como as pessoas lidavam com o limite físico. Isabel logo desviou a vista e engoliu em seco. O silêncio dela fez com que Aline desconfiasse do que lhe responderia antes mesmo de fazê-lo.
— Não sei — contorceu os lábios.
— Não sabe mesmo? — cruzou os braços.
— Já disse que não sei — deu-lhe um leve beliscão na cintura. — Por que? Está duvidando? Anda muito desconfiada de mim ultimamente.
Parou de andar e Isabel fez o mesmo. Séria, externou o que vinha a incomodando há tempos.
— Mãe, estou pronta para saber de toda a verdade, tá? Você não precisa mais tentar me proteger. Só quero que confie em mim.
Surpresa, Isabel ficou sem reação. Após poucos segundos, sorriu com carinho e abraçou a filha.
— Quando foi que você cresceu desse jeito? — beijou-a no rosto. — Eu confio em você. Só preciso de um tempo para me acostumar com a ideia e me organizar para te revelar coisas importantes, tudo bem? Tenha paciência comigo. Por hora, foque apenas no início das suas atividades no exército.
Assentiu, aliviada por ter colocado para fora o que lhe afligia. Deixara de ser criança e queria que a mãe a tratasse como adulta. Pelo menos agora Isabel sabia e prometera resolver a situação.
No posto, logo na entrada, ambas pressionaram o polegar sobre o visor de uma máquina. Na tela, aparecia a foto da pessoa e a idade. Ao imprimir a senha, o responsável a entregava ao cidadão e indicava a direção da sala a qual fora designado, de acordo com a idade.
Os menores de dez anos iriam acompanhados pelos pais. Nas demais salas, só entrava aqueles que aguardariam a vez de ser vacinado.
Aline se separou da mãe e andou pelo extenso corredor de paredes brancas e aspecto frio. Entrou na sala três, onde apenas aqueles com quinze anos estavam à espera, todos perfeitamente saudáveis. Ao fundo da sala, havia outras menores, um espaço dedicado para a aplicação da vacina.
— Pelo menos, neste fim de semana, você tirou uma folga do Alexandre, né?
Virou-se surpresa ao ouvir a voz de Giovana e a abraçou fortemente.
— Nem me lembre disso — resmungou antes de soltá-la. Por que as amigas sempre falavam dele? Não conseguiam pensar em outra coisa?
— Tenho certeza de que vocês encontrarão um jeito de não se matarem nos primeiros dias de treinamento — sorriu com carinho. — Qual a sua senha?
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País Imerso [completo]
Science FictionLIVRO 1 Sinopse: É durante as madrugadas que Aline é acordada pela mãe para que possa estudar. Escondida, ela aprende a história do país, algo esquecido há tempos pela sociedade analfabeta, e o que levou os militares ao poder. Aconselhada pela mãe...