Capítulo 36

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Na mesma sala onde encontrara o amigo morto, via-se um grupo de militares de alta patente. Reconheceu o coronel Vágner Nascimento, o tenente-coronel Ezequiel Almeida e a major Elsa Santana. Mais ao canto, em um ponto cego, a câmera de segurança pegava apenas um braço, que julgou ser do presidente Nicolae III. A general Samara Macedo estava ao lado dele.

Enquanto todos ali dentro falavam sobre coisas banais, a porta se abriu vagarosamente, formando uma pequena fresta. Aline aproximou o rosto da tela e avistou ali uma câmera fotográfica. Raul.

A porta voltou a se fechar como se nada tivesse acontecido. No quarto de Heitor, trocaram olhares. Cerca de um minuto depois, a porta se escancarou, chamando a atenção de todos. Um sujeito alto e forte, da comitiva do presidente, adentrou o local empurrando Raul e o revelando a todos. Mônica levou a mão à boca para conter o choro quando o namorado apareceu efetivamente na filmagem.

Raul foi segurado por dois militares, que logo lhe tiraram a câmera das mãos. Samara afastou-se do presidente e se postou à frente de Raul.

— O que você está fazendo aqui, soldado Prestes? — perguntou séria e em sua postura firme. Como Raul não respondeu, ela fez um leve movimento com a cabeça, e um dos sujeitos que o segurava desferiu um soco no rosto dele. — Só vou perguntar mais uma vez: o que você está fazendo aqui? — elevou um pouco o tom de voz.

Raul a encarou com ódio e cuspiu na cara dela uma mistura de saliva e sangue.

— Eu tenho nojo de vocês — sequer tentava se soltar. — Vocês sabem o que está acontecendo com este país e mesmo assim não fazem nada! Compactuam com essa matança! — olhou para além da general, na direção onde não se via completamente o presidente. — Assassino! — gritou. — Por que você não mostra a sua verdadeira cara para a população? Mostre que você já passou faz tempo dos trinta anos!

Dessa vez, foi a própria Samara que o socou, fazendo com que se calasse.

— Tirem todas as armas desse rebelde — ela ordenou.

Raul foi segurado pelo pescoço por um militar, impossibilitando que falasse ou se movesse, e o outro tirava dele a arma e as facas. Uma das lâminas foi entregue a Samara que, sem titubear, enfiou-a na garganta do jovem. Os olhos de Raul se arregalaram, e não se ouviu nenhum grito, pois a boca dele foi tapada.

Mônica virou a cabeça e cobriu o rosto.

O corpo de Raul foi jogado no chão, e Samara apenas ordenou:

— Soltem o rebelde Beto. Vamos culpá-lo por essa morte. Arranjem também um saco plástico para que eu possa depositar a arma do crime — indicou a lâmina e a estendeu a Ezequiel.

Todos se moveram rapidamente e deixaram a sala. A general dirigiu-se para o presidente e fez uma pequena reverência ao se aproximar.

— Esses rebeldes estão cada vez mais perto de nós — a voz do presidente não era mais aquela a que estavam acostumados, e sim mais grave do que o normal.

— Sim, senhor presidente — confirmou Samara. — Mas daremos um jeito nisso. Agora acho melhor o senhor se arrumar para sair daqui.

Na hora em que Nicolae saiu do ponto cego, permitindo que sua imagem fosse gravada, os três jovens que assistiam espantaram-se. O que viram não foi um homem jovem e de cabelos castanhos, e sim um sujeito muito mais velho do que toda a população. A pele não era firme, possuía rugas e algumas dobras; o cabelo, antes castanho, agora tinha diversos fios brancos, quase cobrindo toda a cabeça.

O presidente Nicolae tirou do bolso da calça três pequenos dispositivos eletrônicos de formato retangular achatado. Um deles foi colocado atrás da orelha, do lado esquerdo. Ao fazer isso, a partir daquele ponto, a pele dele começou a mudar. Esticava-se e até mudava de cor, deixando o branco pálido e ganhando uma tonalidade de quem tomava sol regularmente. Em segundos, o rosto do presidente era aquele que aparecia na televisão. Os cabelos também foram afetados, voltando ao castanho conhecido.

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