Os passos apressados a levaram direto para o vestiário. Tentou controlar a respiração, só que falhou. Ela continuava acelerada, curta, saindo pela boca, deixando a garganta seca. Logo que entrou, encontrou Heitor e Mônica sentados em um banco na área comum, antes do ambiente ser separado entre homens e mulheres.
Ambos se levantaram quando ela apareceu, e Mônica correu e a abraçou. Sentiu o coração da amiga disparado e o rosto úmido quando encostou a bochecha na dela. Quis dizer algo, porém apenas lhe acariciou as costas.
— Vamos embora — sussurrou ao ouvido da amiga, que concordou.
Segurando-a pela mão, buscou os olhos de Heitor, que assentiu e as seguiu. Antes que estivessem fora do vestiário, deram de cara com Alexandre. Já não vestia mais o uniforme formal, e sim uma camiseta da cor da nação e calça preta. Preparava-se para se exercitar.
— Só acho que você deveria aproveitar que está aqui e treinar comigo — mantinha o olhar fixo em Aline, como se mais ninguém estivesse por perto. — Precisamos nos manter em forma e em sintonia.
Com um longo suspiro, abaixou a cabeça para só depois encará-lo. Não queria lidar com ele. Mesmo assim, forçou-se a lhe dirigir a palavra.
— Agora não, Alexandre.
O sorriso de canto dele se desfez, e um leve franzir de sobrancelhas apareceu. Chegou mais perto dela.
— Aconteceu alguma coisa no seu interrogatório? — percebia-se a preocupação no tom usado.
— Não — apressou-se a dizer. — Só estou cansada. Treinamos outro dia.
Ele concordou e só naquele momento reparou em Mônica e Heitor para se despedir. Assim, andaram para fora do Complexo Militar em silêncio. Ganharam a rua pouco movimentada por ser domingo e seguiram pela calçada até alcançarem o próximo quarteirão.
Diante de um comércio fechado, Aline parou abruptamente. Só que antes de perguntar algo, Mônica lhe apertou a mão e contou:
— O capitão Mendes me ameaçou — por causa da surpresa no rosto de Aline, prosseguiu: — Disse que seria melhor para mim se eu confiasse em você — apontou para a amiga.
— Ele me disse algo assim também — comentou Heitor. — O que isso quer dizer? — voltou-se para a namorada.
Umedeceu os lábios sem saber o que responder, um misto de sentimentos a dominava. César a ajudara, não havia dúvidas. Ter um aliado no exército, um capitão, trazia certo alento ao coração. Contudo, ouvir dos próprios amigos que ele se dirigira a eles num tom de ameaça, deixou-a em alerta. O papel dentro da manga voltava a pesar mais do que o real.
— Acho que ele temeu que vocês pudessem me entregar — engoliu em seco, principalmente com a ruga que se formou entre as sobrancelhas de Heitor. Tocou-o no braço. — Explico depois.
— Então ele é... — Mônica não concluiu, mas Aline fez que sim. Um sorriso irônico tomou conta dela. — Vocês estão por todos os lados.
— Parece que sim — suspirou. — Quero saber do interrogatório de vocês.
Mônica logo começou a relatar as perguntas feitas a ela, a maioria a respeito de Raul, do relacionamento deles. Ao ser indagada sobre os rebeldes, respondeu desconhecer. Heitor também contou o que acontecera com ele, frisando que a maioria das perguntas dizia respeito à relação dele com Aline, o que a fez arquear as sobrancelhas.
— Queriam saber se a gente se gostava, se dava bem — estreitou os olhos. — Achei muito estranho isso.
Ela concordou, sem mencionar a investigação a qual estava sendo submetida. Pensou em Isabel, que mais uma vez estava certa. Se não tivesse começado a namorar Heitor, tudo estaria muito pior.
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País Imerso [completo]
Science FictionLIVRO 1 Sinopse: É durante as madrugadas que Aline é acordada pela mãe para que possa estudar. Escondida, ela aprende a história do país, algo esquecido há tempos pela sociedade analfabeta, e o que levou os militares ao poder. Aconselhada pela mãe...