Capítulo 40

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Parada em pé no próprio quarto, olhava tudo ao redor pela última vez. A casa onde nascera e crescera seria deixada para trás. Dali só levaria algumas mudas de roupa e os livros que a mãe escondia, nada mais. Não queriam chamar a atenção. Torcia para que estivessem seguros na casa de César quando descobrissem e que a ida até os rebeldes também não demorasse.

Já era noite lá fora, a lua alta no céu quando se sentou na cama e tomou um comprimido que lhe tiraria o sono. Um só seria o suficiente para cobrir as horas que precisaria estar atenta.

Uniformizada e pronta para partir para a noite que julgava a mais importante de sua vida, Isabel surgiu à porta. Sorriu para a mãe e tirou do coldre o segundo revólver, colocando no lugar a arma de choque. Estendeu a arma para Isabel, que não se mostrou disposta a pegar.

— Para o caso de algo dar errado — balançou a pistola na direção da mãe.

— Aline, eu não... — engoliu em seco, como se algo nada bom lhe tomasse por causa da possibilidade de segurar um revólver.

— É só por precaução, mãe. E o César me disse que você sabe atirar, diferente do meu pai — insistiu para que ela pegasse.

Após um longo suspiro, pegou a pistola e a guardou no cós da calça, cobrindo-a com a camiseta. Tirou do bolso uma chave e a colocou na mão da filha, fechando-a.

— Para soltar a Giovana. César conseguiu uma cópia — sem esperar que ela reagisse, puxou a garota para um abraço e a beijou na testa. — Tenha cuidado, minha pequena.

Assentiu, mas continuou ali no abraço acolhedor, sentindo o calor do corpo materno. Com o fim do carinho, guardou a chave no bolso e se despediu da mãe e de Denis, que estava no sofá da sala um pouco sonolento. Entrou no carro guiado por Leonel e sorriu satisfeita para ele, que agora fazia parte da fuga.

Ao chegarem diante do Complexo Militar, Leonel tocou o braço da filha.

— Mesmo sendo uma rebelde, tenho muito orgulho de você — riu e Aline também.

— Obrigada, pai — beijou-o no rosto. — Nos vemos mais tarde. Não se esqueça do plano.

— Não vou. Só tome cuidado, por favor. Quero a minha filha inteira.

— Confie em mim, não sou terceiro-sargento aos quinze anos à toa — mostrou-se confiante numa tentativa de se convencer também.

Recebeu um beijo na testa e saiu do automóvel. Caminhou até o grande portão de acesso ao Complexo e parou na guarita. Cumprimentou o soldado ali de vigia com um movimento de cabeça e colocou o dedão sobre o leitor de digital. Um pequeno portão ao lado abriu, e ela entrou. Por já estar de noite, sendo quase vinte e duas horas, ninguém além de pessoas autorizadas poderia ter acesso ao Complexo.

Heitor e Mônica estavam reunidos com os demais militares no enorme salão no térreo, esperando dar o horário para a mudança de turno. Recebeu um beijo carinhoso do namorado ao chegar, e ficaram um ao lado do outro até notarem a movimentação causada pela troca de funções.

Mônica fora designada para a vigilância da parte externa, ficaria em guaritas mais altas, onde poderia ter uma visão privilegiada da rua e do Complexo. Como sempre, Heitor permaneceria na sala de vigilância, e Aline em rondas pelo interior do prédio. Caso algo acontecesse ali dentro, que seria visto pelas câmeras, seria uma das primeiras pessoas a ser avisada.

Graças ao capitão, havia poucos militares naquela noite. A maioria escalada fora designada a rondas na cidade, ficando no prédio oficiais de baixa patente que precisavam se familiarizar com o turno. Tal fato foi o responsável por Aline se sentir realmente mais confiante. Só precisavam tirar a Giovana de lá o mais depressa possível e sem chamar atenção.

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