Capítulo 16

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Parou diante do espelho e começou a abotoar o uniforme militar formal, dedicado para situações solenes. A partir daquele dia, seria realmente uma militar.

Por baixo da jaqueta justa ao corpo, marcando a cintura, havia uma camisa branca e uma gravata azul, da cor da nação, a mesma tonalidade de todo o traje. Alisou o tecido e conferiu se as mangas estavam do tamanho adequado, nem curtas, nem longas demais. Prestou atenção nas duas listras brancas e na divisa de mesma cor gravada no braço direito. O traje formal era basicamente azul e com os demais detalhes em branco, fazendo referência ao símbolo da nação, este bordado ao lado esquerdo do peito, circundado por uma coroa de louro. A calça geralmente era mais justa do que a do traje usual, mas com o mesmo tecido resistente. Aos pés, usava um coturno preto que vinha até o meio da canela. Por último, colocou nas mãos luvas brancas de um tecido bem leve.

Olhou-se mais uma vez no espelho e repetiu para si mesma que precisava se integrar ao sistema. Suspirou, pôs a longa trança para frente, do lado direito, e arrumou sobre a cabeça o quepe da mesma cor das luvas. Uma medalhinha com o símbolo da nação pendia do lado esquerdo. Agora estava pronta para o destino.

Leonel a levou até o Complexo Militar, um local diferente do que vinha frequentando e que, a partir daquele momento, seria sua segunda casa. Despediu-se do pai, desceu do carro e andou calmamente, passando pelo alto e grande portão aberto. O prédio principal, um monumento de aspecto antigo, porém bem conservado, tomou-lhe o campo de visão. Observou com atenção os vários degraus de um branco imaculado, que a levariam até a entrada. Engoliu em seco e começou a caminhar, subindo hesitante. Ao terminar, postou-se embaixo da entrada e olhou para trás, vendo mais alguns jovens militares chegando. Sem ter como fugir do que viria em seguida, entrou no imenso salão.

O lustre imponente foi a primeira coisa que notou ao pisar ali, assim como os quadros gigantescos de personalidades importantes para o país cobrindo as paredes, todos de aparência jovem. Passou por eles desconfiada, pois teve certeza de que os governantes anteriores ao golpe militar não estavam retratados. Apesar de não parar para olhá-los de perto, viu alguns soldados se aproximarem e apertarem botões ao lado, que ativavam o sistema de som. Com isso, ouviam o nome do governante e os feitos.

Continuou a caminhar com o coturno ecoando pelo ambiente e com o coração batendo enlouquecido dentro do peito. Militares responsáveis por guiar os novos soldados espalhavam-se por ali, parabenizando-os por terem sido aprovados. Também indicavam a direção para onde deveriam ir. Assim, subiu mais um lance de escadas e entrou em uma larga sala de paredes brancas, acarpetada e com um imenso telão. Encontrou muitos dos membros do pelotão que liderava e Mônica e Raul. A amiga a abraçou, e Raul veio cumprimentá-la.

Notou olhares curiosos em cima dela e conversas paralelas por onde passava. Mônica sussurrou para não se importar com aquilo, e Aline só fez que sim, mesmo que soubesse que logo teriam mais motivos para comentarem dela.

Quando o capitão César Mendes, o militar que supervisionou a Seleção, adentrou o local, os soldados começaram a formar filas logo após a líder, que ficou à frente. Alexandre veio logo depois do capitão, o que a fez manter a fisionomia séria, principalmente ao encará-lo.

— Bom dia, soldados — César cumprimentou. — Em formação!

Os que haviam chegado com o capitão alinharam-se junto dos demais. Alexandre parou ao lado de Aline e virou-se para ela, que continuou olhando para frente.

— Preciso falar com você — ele falou o mais baixo possível.

— Não tenho nada para falar com você — dessa vez, olhou-o, fazendo questão de transparecer que nada mudara da noite de sábado para aquele dia.

País Imerso [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora