Capítulo 37

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Leonel saiu de casa batendo a porta. Escancarou o portão e ganhou a rua pisando duro e com a respiração descompassada. Não acreditava em tudo o que ouvira de Isabel. Ela transformou a minha família em rebelde! Todo o mundo perfeito que construíra, a família perfeita, começava a ruir. Não sabia mais o que fazer ou pensar.

Como nunca suspeitou daquelas coisas? Lógico que havia algo de errado no fato de sua primogênita ter sonambulismo e de sempre ser Isabel a encontrá-la em tal estado. Quando começou a desconfiar, procurou não se intrometer. Convencia-se de que Aline quisesse conversar em particular com a mãe. Assunto de mulher. Por isso nem se alarmou. Mas agora sabia a verdade! Isabel rebelava os filhos contra o governo bem debaixo do seu nariz!

Entrou no primeiro bar que encontrou e sentou-se em uma mesa. Apoiou a cabeça nas mãos e tentou controlar a respiração e os pés, que batiam repetitivamente contra o piso.

Como nunca percebeu que Isabel era uma rebelde? Como foi se apaixonar por ela? Naquela época, não notou nada de diferente, só uma linda moça que trabalhava de atendente em uma loja de equipamentos eletrônicos. Na primeira vez que entrou no estabelecimento, encantou-se com ela. O jeito meigo com que foi atendido o fez esquecer o que fora comprar. Toda a atenção ficou naqueles olhos e no cabelo castanho. Quando ela enrubesceu, foi amor à primeira vista.

Passou a frequentar assiduamente a loja apenas para vê-la. No entanto, um jovem que acabara de completar dezessete anos sequer tinha dinheiro suficiente para gastar daquela forma. Mesmo assim, sempre mudava o trajeto do trabalho para poder pelo menos olhá-la por poucos segundos.

O garçom parou ao lado da mesa, e Leonel precisou levantar a cabeça. Pediu ao rapaz que lhe trouxesse uma garrafa de sua bebida mais forte. Quando ele voltou com o pedido, encheu o copo do freguês, que o virou de uma única vez. Observou o horizonte, além da porta do bar, ainda se recordando da juventude.

Ao decidir convidá-la para sair, esperou-a em frente ao lugar onde trabalhava, nervoso. Minutos antes de Isabel ser dispensada, um rapaz mais alto que ele e com trajes militares apareceu. Cumprimentou-o com um aceno de cabeça e parou ao seu lado. No momento em que Isabel saiu, o sujeito aprumou-se e foi ao encontro dela, que sorriu lindamente para ele. Nessa hora, Leonel sentiu-se o pior dos homens. Como disputaria a atenção de uma mulher com um militar?

Cabisbaixo, afastou-se de lá já sem esperanças. Porém, ao ouvir seu nome, virou-se, e Isabel veio ao seu encontro.

— Você estava me esperando? — perguntou ela daquele jeito meigo.

— Estava — ficou sem jeito. Os olhos saíram dela e pararam no militar. — Mas não importa mais, seu namorado está esperando...

De todas as expressões que pensou que ela pudesse fazer, sequer imaginou que fosse rir de forma tão contagiante e linda. Os olhos dela até se encheram de lágrimas, e o rosto ganhou uma coloração avermelhada.

— César não é meu namorado — mantinha o sorriso. — É como se fosse meu irmão. Ele só veio até aqui me buscar para que eu não vá embora sozinha.

Não sabia descrever a sensação que lhe dominou o peito por causa das palavras dela. Então ainda havia uma chance!

— E o que você queria comigo? — ela passou o peso do corpo de uma perna para outra.

— Convidar você para sair — a frase saiu tão rápido que nem acreditou. Isabel arqueou as sobrancelhas, e ele pigarreou. — Se você quiser, claro... — disse envergonhado.

Ela voltou a sorrir e se aproximou para lhe dar um beijo no rosto.

— Amanhã saio às dezoito horas — e, dizendo isso, se afastou.

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