País Imerso [completo]

Capítulo 20

Já virara um ritual se arrumar, parar diante do espelho e sorrir o mais sinceramente que conseguia. Teria de manter o sorriso no rosto a noite toda. Deu um longo suspiro enquanto colocava os brincos, pequenas bolinhas douradas e delicadas. No pescoço, uma corrente da mesma cor com um delicado pingente de coração. Passou os olhos pela pulseira no pulso esquerdo e verificou se o cabelo estava preso no penteado que deixava alguns cachos ao lado do rosto e outros caídos pelas costas.

Já fazia alguns minutos que estava pronta, mas sentia que precisava ver de perto o máximo que poderia daquela figura diante do espelho. Afinal, aquela imagem seria veiculada na televisão, ainda mais depois de receber as devidas honras do presidente. Quase encostou o nariz na superfície fria para verificar o contorno perfeito do batom vermelho na boca. Uma parte de si procurava algum defeito para ter de arrumar, assim poderia ficar mais tempo em casa. Mas nada parecia fora do lugar. A maquiagem estava impecável da mesma forma que todo o resto.

Não tinha para onde fugir. Com um suspiro, saiu do quarto.

A família a aguardava na sala, todos vestidos para o baile. Isabel usava um vestido violeta, e Leonel e Denis trajavam ternos elegantes na cor preta. Todos sorriram quando ela entrou, dizendo como estava linda. O vestido dela realmente arrastava no chão, quase formando uma cauda, precisando que o segurasse para entrar e sair do carro, que foi deixado em um estacionamento dentro das dependências do local.

Leonel estendeu o braço para Isabel, e Aline segurou na mão de Denis quando andaram em direção ao prédio principal, onde aconteceria o baile. Durante o curto trajeto, tocou a coxa direita, sentindo o metal frio do revólver. Por mais que a desagradasse andar armada o tempo todo, ainda mais em uma festa, a recomendação era clara: militares deveriam andar armados, independentemente da ocasião.

Subiram os vários degraus até a entrada do prédio. Ali, foram recebidos com cumprimentos de militares responsáveis pela segurança dos convidados e adentraram o enorme salão. Uma música ambiente tocava, e mesas redondas com toalhas brancas e azuis foram espalhadas pelo local, assim como arranjos de flores. De frente para as escadas que levavam ao primeiro andar, um pequeno palanque fora montado. Diante dele, uma pista de dança quase vazia.

Acomodaram-se em uma mesa perto da pista de dança, e logo um garçom trouxe uma garrafa de champanhe dentro de um balde com gelo e refrigerante. Leonel abriu a bebida servindo a todos, menos Denis, que ficou com a que não continha álcool.

— Vamos fazer um brinde à militar da família — Leonel comemorou todo orgulhoso erguendo a taça.

Aline sorriu e brindou junto deles. Após um longo gole da bebida, torceu para que o nervosismo fosse embora. Na verdade, não sabia se todo aquele incômodo era apenas por causa da presença do presidente ou também pelo que a noite lhe reservava. Estaria de frente para o pelotão que liderou em mais uma festa, dessa vez acompanhada de Heitor. Pensar nele a fez lembrar que precisava se mostrar apaixonada e que ainda tinha de apresentá-lo à própria família. Suspirou, desconfortável com a situação.

Viu Mônica chegando junto da família e acenou para ela, que se aproximou para lhe abraçar apertado. Usava um vestido verde tomara que caia, e o cabelo caía solto sobre os ombros.

— Vou sentar com a minha família — apontou para a direção da mesa onde eles já se acomodavam. — Depois a gente conversa mais.

Assentiu e a viu se afastar. No minuto seguinte, avistou Raul. Junto dele estavam os pais de mãos dadas, um garoto de cerca de treze anos e um rapaz da mesma altura do amigo. Julgou ser o primeiro-sargento Eric Prestes, o irmão mais velho. Também acenou para ele, que retribuiu. Sentiu-se bem por ver a família de Raul, todos rebeldes.