A sola do coturno ecoava pelo corredor do primeiro andar do Complexo Militar. Aline andava de cabeça baixa e respirava profundamente para conter o nervosismo. As mãos suavam e eram secadas pelas próprias luvas brancas.
Diante da porta de uma sala, César conversava com Alexandre. Tocava-o no ombro, e o rapaz apenas concordava com o que ouvia. Quando notaram a presença dela, afastaram-se e a cumprimentaram com um aceno. Apesar de o interrogatório ser realizado naquela sala, o capitão os guiou para que aguardassem em outra. Assim, andaram em silêncio.
No mesmo corredor, César abriu uma porta e indicou o interior para ambos. No cômodo pequeno, havia algumas cadeiras onde Mônica e Heitor já esperavam. Dois militares mantinham-se em pé, de guarda, e bateram continência para o capitão quando este entrou. Aline sentou-se entre o namorado e a amiga, e Alexandre na ponta esquerda, ao lado de Mônica. César avisou que logo mais começariam e assim se foi, deixando-os sozinhos.
Prestou atenção no ambiente minúsculo e nos soldados que os encaravam detalhadamente, vigiando-os. Qualquer ação suspeita seria relatada aos superiores, sequer poderiam conversar entre si. Na mesma hora, recordou-se da general e de como agiu de forma a deixar evidente que desconfiava de Aline. Ainda ergueu a vista, sem precisar procurar pela câmera de vigilância. Ela estava ali, bem na vista, gravando cada movimento deles.
Tirando-lhe a atenção do que acontecia em volta, Heitor a tocou suavemente na bochecha, fazendo-a encará-lo. Sorriu de canto de boca e encostou os lábios na orelha dela para sussurrar:
— O que acha de ir até a minha casa depois?
O tom usado por ele fez com que um arrepio lhe percorresse o pescoço. Instintivamente prendeu a respiração e sentiu o coração acelerar. No entanto, ao fixar os olhos nos dele, não viu ali as intenções que jurou apreender do que dissera. Precisou de só mais um segundo para compreender que o assunto seria outro, muito mais sério. Entrando no jogo, sorriu como se tivesse recebido uma proposta irrecusável e concordou com a cabeça ao lhe acariciar o rosto.
O pigarreio de um dos soldados fez com que o encarassem. Ele meneou negativamente a cabeça, e assim ela desencostou de Heitor. Segurou uma mão na outra e as apertou sobre o colo, permanecendo de olhos baixos, submissa.
No segundo seguinte, a porta voltou a se abrir e César apareceu, chamando por Heitor, que seria o primeiro a ser interrogado. Heitor trocou um rápido olhar com a namorada antes de se levantar e seguir o capitão para fora dali.
Quando a porta se fechou, Aline respirou fundo e estalou os dedos, sem saber o que esperar dali para frente. O que perguntariam para Heitor? Por que o escolheram para ser o primeiro? Procurou por Mônica, que tinha os olhos inchados e vermelhos. Sem focar algo, parecia não enxergar o ambiente. Já Alexandre batia incessantemente o pé no chão, talvez entediado, e virava a cabeça para todos os lados possíveis.
Passou as mãos no rosto e inspirou uma grande quantidade de ar, tentando se acalmar. Aprumou a postura e manteve-se firme, pelo menos por fora. Os pensamentos passaram por Giovana, mas logo os afastou. Aquele assunto não a faria relaxar como o desejado. Buscou algo na própria vida que a faria se acalmar, algo leve. Só que nada lhe veio à mente. Tudo o que acontecia ao redor começava a lhe perturbar, tirar o sono.
Os minutos se arrastaram e só conseguiu passar por eles ao se recordar do que Heitor lhe dissera antes de sair para o interrogatório. Lembrar do namorado trouxe certo conforto ao coração, uma sensação de que começavam a se entender como o casal que deveriam ser aos olhos de todos. Na verdade, a presença dele lhe agradava de uma forma que nunca cogitou ser possível.
Cerca de vinte minutos depois, a porta voltou a ser aberta. Chegou a acreditar que veria Heitor passar por ela, porém apenas o capitão apareceu, dessa vez chamando por Mônica. Esperou que ela lhe lançasse algum olhar, só que nada aconteceu. Mirando o chão, seguiu César para fora.
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País Imerso [completo]
Science FictionLIVRO 1 Sinopse: É durante as madrugadas que Aline é acordada pela mãe para que possa estudar. Escondida, ela aprende a história do país, algo esquecido há tempos pela sociedade analfabeta, e o que levou os militares ao poder. Aconselhada pela mãe...