Capítulo 17

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— Ela é muito estranha mesmo — comentou uma garota, sussurrando para a amiga.

— Né? Quem teria a coragem de recusar o Alexandre? Ela deve ter algum problema — balançou a cabeça em negativa. — Bem que ele poderia esquecê-la e vir atrás de mim.

Mônica parou de braços cruzados atrás das jovens militares quando riram.

— Posso saber qual é a graça? — batia incessantemente o pé no chão

Elas se viraram ao mesmo tempo e se encolheram, envergonhadas e temerosas, ao darem de cara com uma Mônica nada alegre, até levemente irritada. Ambas correram de lá sem que mencionassem mais nada, deixando-a a ranger dentes e bufar logo em seguida.

Desde o tapa que Aline dera em Alexandre, soube que tudo ficaria mais difícil para a amiga. Ouvia com uma frequência indesejada os comentários maldosos, o que estava começando a magoá-la. Inocente, achou que todo aquele rebuliço duraria pouco tempo, perderia a força com os dias, mas percebia que ele só ficava cada vez mais forte, ainda mais depois da cena que o casal mais comentado entre os soldados protagonizou minutos antes.

Mesmo que evitasse pensar a respeito, naquele momento foi inevitável. Ter cada vez mais certeza de que Aline lhe escondia coisas, tornava-se mais distante, não a agradava. Sempre esteve ali, por perto, mas parecia não ser o suficiente para que a amiga se abrisse de verdade.

Pensou em Giovana. A menina desengonçada e estranha nunca a agradou, só que tinha certeza de que era para ela que Aline revelava os segredos. Talvez Giovana fosse a amiga que Aline precisava, e, sem ela ali, usava muito do distanciamento, já que não tinha com quem desabafar.

Frustrada, perguntou-se o que poderia fazer pela amiga. Quis ser especial para ela da mesma forma que Giovana parecia ser aos olhos de Aline. Suspirou com pesar. Talvez teria mais a confiança de Aline se tivesse sido mais simpática, aceitado Giovana. Um sentimento de culpa a dominou. Deveria aprender mais sobre as pessoas...

— Estavam falando da Aline? — Raul parou ao lado dela, que assentiu. — Que situação chata.

— Muito. Queria poder fazer algo.

— Ficar do lado dela e não a pressionar para que se envolva com o Alexandre já será de grande ajuda — tocou-a delicadamente no rosto.

— Por que as vezes parece que você compreende a Aline mais do que eu?

— Só faço isso para te impressionar — piscou, e ela riu. — Quero te deixar perdidamente apaixonada por mim. Será que está dando certo?

— É bem provável... — passou os braços pelo pescoço dele e lhe beijou com delicadeza.

Afastou-se para encará-lo de perto e sorrir. Até cogitou fazer algum comentário, porém ele deu continuidade ao beijo, anuviando os pensamentos, tirando a importância de qualquer coisa que fosse dizer.

Teriam se prolongado no carinho se não fosse pela movimentação que se instaurou em volta. Pessoas apressaram-se para a saída da sala, o que a fez se perguntar o que estava acontecendo. A ruga na testa de Raul e a preocupação estampada não passaram despercebidos. Ele a segurou pela mão, indicando que fossem averiguar. Contudo, o som característico provocou a paralisação dos movimentos. Sequer precisaram de uma troca de olhares para disparem em direção ao barulho.

Torceu para que Aline não estivesse envolvida, mesmo sabendo que as chances de ela ter algo a ver com aquilo eram enormes. Seria a primeira vez que presenciaria a amiga perder o controle.

***

Era como se o metal do revólver fervesse nas mãos de Aline e tivesse o peso triplicado. Ofegante, com suor brotando na testa, observava Alexandre urrando de dor por causa do disparo que atingira a perna. Mesmo que visse ele agonizando, com sangue escorrendo por entre os dedos, os sons não lhe chegavam aos ouvidos. Um grande zunido lhe dominava, e tudo parecia acontecer em câmera lenta.

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