Capítulo 12

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Aline parou diante do espelho e analisou-se de cima a baixo, respirando desanimada com a imagem refletida. O vestido branco com detalhes em preto e flores vermelhas estampadas tinha alças finas, decote e terminava um palmo acima dos joelhos. Por mais que fosse bonito e tivesse caído bem nela, mal conseguia se reconhecer vestida de tal forma.

— Você está linda — Isabel parou ao lado da porta e olhou a filha.

— Me sinto estranha assim — encolheu os ombros.

— Não se sinta mal, minha pequena — sentou-se na cama e indicou o lugar ao lado. — Vem para eu arrumar seu cabelo.

Acomodou-se e deu as costas para a mãe. Isabel lhe prendeu o cabelo, deixando alguns cachos caírem nas costas e um pouco no rosto. Colocou pequenas presilhas em formato de flores ao longo das madeixas de Aline. Aproveitou e também a maquiou, abusando do batom.

— Melhore essa cara, Aline. Você deve estar feliz por ter sido aprovada no teste final. Agora é realmente uma militar.

Sim, deveria, mas só conseguia se sentir frustrada, presa a uma realidade cada vez mais sufocante, principalmente depois de saber que Isabel era uma rebelde e que, na missão, capturou um igual à mãe.

— Mas eu não estou. Como posso estar feliz depois de tudo isso? Depois de saber o que você é? — encarou-a, que apenas contorceu os lábios. Andou pelo quarto tocando o próprio peito como se quisesse arrancar de si todas aquelas emoções. — Não aguento mais viver assim tendo que esconder tudo o que sei, o que você me ensinou. Às vezes queria não saber de nada disso, quem sabe poderia ser feliz que nem as outras pessoas...

— Aline — foi até ela. — Eu sei como você está se sentindo, passei minha vida toda com os mesmos sentimentos, mas preste atenção — segurou o rosto da filha nas mãos. — O conhecimento é a única coisa que ninguém conseguirá tirar de você, e não podemos deixar que ele morra. Um dia o usaremos para mudar a nossa realidade.

— Duvido muito disso. O que eu, uma garota de quinze anos, poderá fazer sozinha?

— Você agora é uma militar, minha pequena, pode fazer muita coisa — beijou-lhe a testa. — Quando chegar a hora, contarei como deverá prosseguir estando entre os militares, mas essa hora ainda não chegou e você tem uma festa para ir — sorriu largamente. — E não se esqueça: se enturme, tá?

— Tá — mesmo desanimada, forçou um sorriso.

Mãe e filha se abraçaram. Durante o carinho, Aline só refletia acerca do que o futuro lhe reservava, das verdades que descobriria. Mesmo com os questionamentos lhe rondando os pensamentos nos dias que ficou em casa após a missão, ainda não juntara coragem para indagar a mãe a respeito de toda a verdade, a questão dos rebeldes. Nada. Isabel sequer tocou no assunto, e imaginou que ela estivesse percebendo todos os conflitos pelos quais passava. Não queria admitir, mas tinha medo de como reagiria ao saber de tudo.

Leonel apareceu no cômodo perguntando se Aline estava pronta, pois a levaria até a festa. Assim, despediu-se da mãe e acompanhou o pai até o carro da família. Durante o trajeto, ele dizia como estava orgulhoso por ela ter sido aprovada no teste final e capturado um rebelde nojento. Repetia que ela deveria receber uma medalha de honra ao mérito. O meio que encontrou para que ele parasse de falar aquilo foi concordando, o que o fez sorrir, satisfeito.

Chegaram à propriedade da família de Alexandre, e Aline desceu do carro avisando que ligaria quando fosse embora. Por alguns segundos, ficou ali parada observando o portão aberto e se perguntando se realmente deveria estar ali. Suspirou, já sabendo a resposta. Era a líder, precisava sim marcar presença. Sem ter para onde correr, caminhou receosa até a entrada e avistou alguns jovens soldados que praticamente curvaram-se diante dela quando passou. Ficou sem graça e continuou a andar.

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