Capítulo 10

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A luz do dia estava indo embora com uma rapidez nunca antes presenciada por Mônica. Andava de um lado para o outro, ora olhando para o céu, ora para o aparelho em mãos, ora para o horizonte esperando que todos chegassem.

Conforme os minutos foram passando, as demais equipes concluíam a missão. No geral encontravam-se bem, sem ferimentos graves. Até chegou a pensar que o grupo que liderava tinha o caso mais crítico, porém viu pessoas correndo até onde estavam. Carregavam Heitor.

Sem esperar que chegassem, ordenou que fossem de encontro a eles. Assim, alcançaram-nos na metade do caminho. Quando colocaram no chão um Heitor pálido e com a perna ensanguentada, perguntou o que tinha acontecido enquanto analisava o torniquete improvisado.

Saber que existiam armadilhas na floresta a fez pensar em Aline e Alexandre. Onde eles estão? Sequer pôde se preocupar muito, pois mais recrutas chegaram carregando a garota picada pela cobra. Mesmo que tivesse uma aparência abatida, olhos fundos e vômito nas roupas, Mônica respirou aliviada, pois estava viva. Como se as coisas começassem a dar certo, ouviu o som do helicóptero de resgate. Da cor da nação e de grande porte, ele se aproximava para o alívio dos feridos. Atrás dele, avistou mais dois.

Quando a primeira aeronave pousou, começaram a transportar o pessoal. Heitor foi atendido às pressas, e a garota logo recebeu o soro antiofídico. Os demais, que tinham machucados leves, foram atendidos ali mesmo durante o embarque.

No entanto, Mônica ficou parada observando as árvores ao longe. Nunca precisou se preocupar com Aline, até porque sabia que a amiga conseguiria se proteger de tudo e todos. Porém algo a incomodava naquele momento.

Só desviou a atenção ao ser tocada no ombro. Raul, um garoto negro mais alto do que ela, sorriu com carinho.

— Aline ficará bem, tenho certeza disso.

— Espero que sim... — engoliu em seco. — Se não voltarem até o anoitecer, vou pedir autorização para iniciar as buscas.

— Se quiser, posso te ajudar nisso.

Ela fez que sim com a cabeça e sorriu em agradecimento. Ao subir no helicóptero, ainda olhou para atrás e suspirou.

Sei que vai conseguir, Aline. Você sempre consegue.

***

O rebelde saiu correndo logo após o disparo, infiltrando-se ainda mais na mata, saindo do campo de visão de Aline. Alexandre urrou de dor e caiu sentado, tentando estancar o sangue da coxa com as mãos. Ao mesmo tempo que ela largava a arma, sem hesitação, e se ajoelhava ao lado dele para ajudar, o protocolo do exército era ouvido claramente na mente dela, dizendo que não importavam as consequências, capturar um rebelde sempre seria a prioridade. Deveria deixar qualquer militar para trás, seguir o fugitivo, capturá-lo ou matá-lo.

Só que ela o desobedeceu.

Agindo o mais rápido que a situação permitiu, retirou do bolso um lenço no qual envolvia um pequeno pedaço de queijo, dobrou-o e enfiou na boca de Alexandre.

— Vai doer, não grite — puxou a faca.

Ele a obedeceu, pressionou os olhos e mordeu o mais forte que pôde o lenço. Cortou a calça dele sobre o ferimento e viu o sangue esvaindo. Sem pensar muito para não perder a coragem, penetrou a carne dele com a ponta da faca em busca da bala. Alexandre berrou contido, e ela, mesmo tremendo, não parou até finalmente encontrar a bala e retirá-la. Puxou-lhe o lenço da boca e o pôs sobre o ferimento, introduzindo-o no buraco. Ainda retirou o próprio cinto e o prendeu o mais apertado possível na perna dele, precisando até fazer um novo furo com a faca para fixar com a fivela.

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