Capítulo 29

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Heitor chegou cedo à sala de vigilância e se ajeitou na cadeira em frente ao monitor. Minutos depois, no horário de costume, acessou a câmera do corredor no subsolo, a única do local, e logo viu Beto ser tirado de uma das salas e levado por dois militares e pelo coronel Vágner Nascimento até o terraço. Foi mudando as câmeras, acompanhando o trajeto. Percebeu que poderiam muito bem ter ido de elevador, mas faziam o rebelde andar como complemento das torturas que vinha sofrendo. Quando chegaram ao lugar de destino, acoplou o fone de ouvido ao monitor, enquanto Beto era algemado a duas barras de ferro. O rosto dele estava com hematomas, além do aspecto de esgotamento físico, e havia respingos de sangue pelas roupas gastas.

O coronel se aproximou do rebelde e falou próximo ao ouvido dele:

— Pense bem no que foi dito a você.

Afastou-se e deixou Beto preso no meio do terraço com o sol já o atingindo em cheio. Heitor suspirou com pesar, pois sabia que ele ficaria lá o dia todo. O coronel andou até a porta, e os militares bateram continência para ele. Vágner tocou o ombro de um deles e avisou para não sair do posto. O oficial assentiu, e assim o coronel retirou-se do local sendo seguido pelo outro sujeito.

Recostou-se melhor na cadeira e desejou, do fundo do coração, que tudo o que haviam planejado desse certo.

***

Naquele dia, resolveu se dedicar ao treino físico, pois surtaria se ficasse parada. Aline terminou de vestir a roupa de treinamento e se encaminhou para fora do prédio, área destinada aos treinos ao ar livre. Parou ao lado da pista de corrida e se acomodou em um banco para amarrar os tênis com mais força. Ao passar para o outro pé, sentiu uma aproximação. Ergueu a cabeça e viu Alexandre se aproximando. Na mesma hora, abaixou a vista e xingou em pensamento. Ele só aparecia em momentos nos quais lidar com ele seria mais difícil?

Sem hesitar, Alexandre sentou-se ao lado dela e a cumprimentou todo sorridente. Limitou-se a balançar a cabeça e acelerou o amarrar dos cadarços.

— Quase não te vi direito esses dias. Ontem mal nos falamos — puxou assunto e virou-se para ela, que apenas deu de ombros. — Nem tive a oportunidade de contar que perguntaram de você no meu interrogatório.

As mãos paralisaram sobre o laço do cadarço. Endireitou a postura e o encarou.

— O que queriam saber?

— Basicamente da nossa relação.

— Que não existe — apressou-se em falar.

Ele sorriu largamente.

— É... Mas queriam detalhes, saber se você simplesmente não gosta de mim ou se há mais alguma coisa.

Ela franziu o cenho, sem entender. Que coisa? Dessa vez, Alexandre sorriu de canto.

— Respondi que você até podia não gostar de mim, mas tinha certeza de que se sentia atraída.

Na mesma hora, levantou-se e se afastou dele. Era só o que me faltava... Mesmo assim, o coração batia acelerado e quase saiu pela boca quando Alexandre a pegou pelo braço.

— Vai dizer que estou mentindo? — chegou ainda mais perto dela.

Por mais que a mão sobre seu braço não empregasse força suficiente para a manter ali, continuou parada com os olhos fixos nos dele. Por que se sentia daquele jeito? Não fazia sentido. Só queria distância dele, apenas isso.

— Acho que estou certo... — a voz dele saiu baixa enquanto se aproximava ainda mais de Aline. — Esse seu namoro não está suprindo todas as suas necessidades.

País Imerso [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora