Capítulo 35

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A cabeça parecia que explodiria por causa das pontadas consecutivas. Aline abriu os olhos, com isso a dor mais do que triplicou, sendo ajudada pela forte luminosidade que praticamente a cegou. Ameaçou puxar os braços para cima e tocar os olhos, esfregando-os em um instinto natural, só que eles mal se moveram. Estavam presos.

Começou a suar frio imaginando onde se metera. Mesmo com a luz e a ardência, forçou-se a abrir novamente os olhos e analisou a situação na qual se encontrava. Os calcanhares e pulsos foram atados à cama, impossibilitando que se movimentasse. Desesperou-se e tentou se soltar, porém nada mudou, e ela continuou ali.

Com a respiração descompassada e vendo que nada do que fizesse adiantaria, observou o espaço. Encontrava-se em uma cama reclinável e branca, aliás, o quarto inteiro era branco, e com isso a luz refletia ainda mais pelo local.

Apesar da situação, respirou um pouco mais aliviada. Não fora presa em uma cadeira para interrogatório, e sim colocada na enfermaria. Suspirou e relaxou a musculatura.

Observou o teto e sentiu os efeitos das múltiplas drogas que ingeriu nas últimas vinte e quatro horas. O medicamento para a missão, que a fazia ficar acordada e sem fome ou sede, brigava no estômago contra o sedativo. Percebeu-se ainda mais tonta e enjoada.

Mesmo com o mal-estar, decidiu que sairia dali, e no primeiro puxão que deu nas correntes dos pulsos, a porta do quarto se abriu e por lá César entrou. Todos os seus atos foram interrompidos pela presença dele, que caminhou tranquilamente até ela e se sentou em uma poltrona ao lado da cama.

Como o contato com César se intensificara nos últimos dias, percebia o olhar de repreensão vindo dele. Encararam-se por instantes sem nada dizer. Após um longo suspiro, o capitão ergueu a cabeça para a câmera de vigilância ao canto da sala. Aline enrugou a testa e, quando pensou em perguntar algo, ele colocou o dedo indicador sobre os lábios.

Poucos segundos se seguiram depois disso até ele finalmente suavizar a expressão e dizer algo. Quando a voz saiu, Aline sentiu-se como uma criança sendo recriminada pelo pai.

— Você tem ideia da suspeita que pode ter levantado?

Recusou-se a responder e virou o rosto. Em sua mente, só havia a imagem de uma Giovana machucada. O que estariam fazendo com ela naquele momento? Ela estava ali, sem fazer nada, enquanto a amiga era torturada!

César a tocou no braço carinhosamente e prosseguiu:

— Por sorte, eles acharam que a sua reação teve a ver com o stress acumulado da missão e os efeitos colaterais das drogas. O que, de certa forma, aconteceu. É relativamente comum o descontrole causado pelas substâncias no primeiro uso — fez uma pausa. — Você que a ensinou a ler, não é?

Aline arregalou os olhos e virou-se na direção da câmera de segurança.

— Não se preocupe — avisou César. — Pedi que Heitor desligasse o som. Ninguém poderá nos ouvir. Agora responda minha pergunta.

— Sim — a voz saiu baixa. — Como ela está?

— Continua detida, sendo interrogada — suspirou e se inclinou mais para frente. — Aline, não vão soltá-la. Encontraram um caderno no qual ela escrevia ficção. Isso é um crime ao nível de rebeldia, você sabe disso. Não há mais volta.

Sem poder descontar o ódio que sentia por tudo aquilo estar acontecendo, limitou-se a deixar as lágrimas escorrerem.

— É tudo minha culpa — soluçou.

— Sinto muito por ela — tentou consolá-la. — Mas agora nada pode ser feito. Agradeça por ela não contar sobre você. Ninguém conseguiu arrancar dela nenhuma informação sobre como aprendeu as letras.

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