Capítulo 43

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Em certo momento, Leonel voltou para a posição de motorista. Heitor dividiu o banco da frente com Mônica. Atrás, Aline deitara o corpo de Isabel, colocando-o de lado, com as pernas dobradas para que sobrasse espaço para ela e Denis se acomodarem. O irmão mantinha o rosto afundado no peito de Aline sem cessar o choro um segundo sequer. Com ele no colo, acariciava suas costas enquanto olhava ora para a mãe morta, ora para a janela. Um grande nada lhe tomava os pensamentos.

Minutos depois, chegaram ao destino: um local mais afastado da cidade. Havia poucas casas ali, todas de aspecto velho e abandonadas. A vegetação crescia sobre as construções.

Leonel estacionou o carro atrás de outro. Ao desligar o automóvel, a pessoa do carro da frente desceu. César usava uma roupa toda preta e cobria a cabeça com o capuz do moletom. Nas mãos, luvas grossas e da mesma cor.

O combinado era que abandonassem o veículo da família ali e seguissem para o de César, mas ninguém se moveu. Leonel apenas encostou a testa no volante e chorou. Por causa da demora, César parou ao lado da porta do motorista e a abriu. Aline o viu olhar para dentro do carro, passar os olhos por cada um e parar em Isabel.

No instante seguinte, o capitão deu alguns passos para trás, atordoado. As lágrimas dançaram por ali, mas ele as segurou. Como se tivesse decidido como deveria agir, dessa vez abriu a porta ao lado de Aline e tirou Denis do colo dela. O menino berrava e chorava compulsivamente, por isso Leonel desceu para segurar o filho. Heitor ajudou Aline a sair, sendo seu apoio, já que não conseguia encostar o pé no chão, e Mônica os seguiu para o outro carro.

César pegou do porta-malas um galão de gasolina e jogou o combustível sobre o veículo que deveria ser abandonado. Na mesma hora, Aline apoiou a cabeça no ombro de Heitor. Imaginar que o corpo da mãe estava ali dentro lhe trazia sentimentos conflitantes. Pelo menos sabia o que aconteceria com o corpo dela.

O capitão voltou à posição de motorista e contou que colocara um explosivo no veículo, programado para dali a pouco. Assim, ligou o próprio carro e saiu de lá. Sem que deixasse o silêncio tomar ainda mais conta de todos, César perguntou o que aconteceu.

Aline respirou fundo e contou minuciosamente a tentativa de resgate de Giovana e o sacrífico dela. Mencionou as perseguições também. Heitor interveio e falou o que ocorreu na sala de vigilância. Quando ela foi falar de Isabel, as palavras quase não saíam, esforçando-se para conseguir concluir as frases.

— Entendo... — César aquiesceu. — Ambas foram corajosas o suficiente para pôr a vida de vocês acima da própria, e garantiremos que nada disso será em vão. Podem ter certeza disso.

Inevitavelmente seguiram em silêncio todo o caminho até a casa de César. Aline olhava pela janela, perdida em pensamentos, quanto teve a impressão de que já estivera naquela região antes. No momento em que o carro parou em frente a um portão que abriu quando César acionou um pequeno controle remoto, a realidade se chocou contra ela de uma forma que a deixou tonta, até levemente enjoada.

— Aqui é a casa do Alexandre — o comentário veio de Mônica, sentada na outra ponta do banco traseiro. Ela olhou da janela para os amigos ao lado também sem compreender.

— O César é pai do Alexandre — disse Heitor devagar, escolhendo as palavras.

— Como você sabe disso? — Aline o segurou pelo braço por mais que não quisesse acreditar em tudo o que estava acontecendo.

Não faz sentido...

— Éramos amigos, então... Eu frequentava aqui — deu de ombros. — Quando entramos para o exército, César pediu que eu não comentasse o parentesco deles com as pessoas — olhou para o capitão como se buscasse apoio.

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