O Duplo Gosto De Um Girassol

Capítulo Quatro

My mama said: Marry a rich man (oh, no)
And I was like: Mama, I am that rich man

Destiny Rogers – Tomboy

Jaqui abre o pequeno portãozinho que dá acesso ao jardim ao qual sua avó plantou várias espécies de plantas como samambaia, babosa, copo-de-leite, orelha de elefante entre outros. Ela entra em casa descalça jogando os sapatos sobre o chão da sala seguindo até o quarto, veste uma blusa folgada e um short de malha.

Na cozinha, Jaqui pega uma caixa de amido de milho no armário e mistura com leite e açúcar, enquanto meche com uma colher de pau em fogo baixo. Quando o mingau está pronto, coloca todo o conteúdo em um prato de vidro e leva para o quarto da avó que permanece dormindo como um bebê.

— Vó! — Ela balança os ombros da senhora de cabelos grisalhos, lábios secos e enrugados. — Vovó! — A idosa abre os olhos devagar, mas não responde. — Eu trouxe o café da senhora, do jeito que você gosta.

Então levanta a colher com mingau fazendo um aviãozinho até entrar na boca da avó, vendo-a engolir lentamente. Dona Helena não fala e nem anda há dois anos, desde que teve um AVC que quase custara a vida. A jovem cuida todos os dias da avó fazendo o possível para que não lhe falte nada, mesmo sabendo que a mulher a qual considera como mãe não vai durar muito tempo.

Após algumas colheradas, Jaqui termina de alimentar a avó e limpa a boca dela com um lenço umedecido. Sem demora, pega um balde com água morna e tira a camisola da idosa para banha-la passando um pano molhado pela pele dela, troca os lenções da cama a veste novamente perfumando-a com desodorante, depois penteia levemente o pouco cabelo que ainda resta na cabeça da senhora.

A rotina de Jaqui mudara há dois anos, mesmo com o contratempo da avó não deixou de focar em seu objetivo de crescer diante da sociedade independente de tudo ou de todos. Ela está cada vez mais preparada para as coisas que ainda estão por vir, penejara cada passo sem se descuidar dos detalhes

Se tornar a responsável pela casa e também pela avó, foram coisas que reviraram a vida da garota do dia para a noite deixando-a sem opções para a quem recorrer, pois sua mãe a abandonou ainda recém-nascida.

Everiana era uma prostituta que acabou engravidando de um desconhecido em uma das inúmeras noites regadas por álcool e drogas, nunca quisera um filho, por isso, entregou Jaqui para a própria mãe e foi embora. Voltou anos depois quando a garotinha tinha quatro anos de idade só para pedir dinheiro a mãe, mas quando conseguiu desapareceu novamente sem deixar rastro.

Com o almoço finalizado, Jaqui vai para o quarto dela e se deita na cama permitindo-se descansar após passar longas horas sem dormir. No horário de sempre, o celular dela toca.

— Oi. — Ela atende em um tom frio.

— Pensei que não quisesse mais falar comigo, meu anjo.

— Estive um pouco ocupada com a minha avó.

— Você poderia vir com sua avó para cá, garanto que não faltará nada para vocês.

— Não... Eu já falei que não. Pelo menos não agora.

 O homem suspira impaciente do outro lada da linha, o que a deixa completamente satisfeita. Não é a primeira vez que o deixa na vontade e também não será a última, usar a burrice dos homens a seu favor é algo que ela faz com frequência.

— Eu gosto muito de você — A voz rouca do homem ressoa ao telefone. —, mas eu não aguento mais essa distância.  

O silencio de Jaqui o incomoda, mas a única coisa que oferece a ele é sua respiração. Não é que ela não queira ficar com o homem, seus interesses vão bem além do que meras declarações amorosas.