Capítulo Vinte e Três

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They say these are the golden yearsBut
I wish I could disappear
Ego crush is so severeGod, it's brutal out here

Olivia Rodrigo - Brutal 

Se pagar com a língua é a condenação daqueles que usaram a palavra "nunca" com veemência ao dizer que não fariam determinadas coisas, talvez esse seja a hipocrisia atualmente na vida de Estella, pois há um mês Daniel deixou algumas roupas no apartamento dela.

Bem, ele não dorme todos os dias no apartamento, mas se uma semana tem sete dias, cinco ele está muito bem acomodado entre os lençóis e edredons da cama confortável de Estella.

Ela particularmente adora a companhia dele, é um bom companheiro, mas somente a noite. Durante o dia, sente-se sufocada ao vê-lo andando pela casa ou ocupando seu quarto indevidamente.

O pior de tudo, é que Estella começou a pensar ainda mais de Tales. A sentir saudades dele. Lembra até mesmo do cheiro dos cabelos lisos dele. Se preocupa sobre o que ele vai pensar quando souber sobre Daniel, não deseja decepciona-lo de forma alguma, pois coisas do passado já se encaminharam de fazer isso.

Tique-Taque... Tique-Taque... Tique-Taque... Ressoa o relógio na mesa da penteadeira a deixando sem ar a cada vez que o ponteiro bate. 

Hoje terá um jantar na casa Ayhalla, Daniel decidiu que apresentará Estella a família, por mais que ela já não simpatize nem um pouco com o pai dele. Daniel falara muito bem de Clarisse, a mulher que o terminou de criar após a morte de sua mãe. Também mencionou a tia e as duas primas, mas ressaltou principalmente os dois irmãos, aos quais atribui toda sua admiração e respeito.

Estella passa a mão na barriga tentando se livrar do maldito desconforto que insiste em permanecer, como um pressentimento que alguma coisa está prestes a acontecer. Isso lembrar de um dia em que prefere esquecer quando estava em Milão, há cinco anos atrás, quando estava bem no início de sua carreira de modelo. Um dia cheio de lamuria.

A porta do quarto se abre a tirando das suas terríveis lembranças. É Mirela em um vestido de alça amarelo e repleto de lantejoulas, a mesma entra no quarto e estranha ver Estella um tanto apreensiva.

— Você está com a mesma cara de quando estávamos em Milão. — Comenta Mirela pousando as duas mãos nos ombros da amiga. — Aconteceu alguma coisa?

— Eu não sei. Só um pressentimento.

— Bom ou ruim?

— Não sei.

Mirela relaxa os ombros e senta na cama puxando as mãos de Estella, que também se acomoda ao lado da amiga.

— Você sentiu várias coisas naquele dia. — Faz alguns minutos de silêncio. — Estrela, se um dia quiser se sentir feliz de verdade, tem que parar de se culpar pelo passado. Você não se perdoa por coisas que não dependeram de você e que nem ao menos fez. Eu sei que você não gosta de falar sobre isso, mas manter o Tales longe evidentemente não está te fazendo bem.

Estella levanta os olhos castanhos na direção de Mirela e responde:

— Eu tenho medo de machuca-lo.

Mirela balança a cabeça negativamente.

— Você não e nunca foi assim. Seu medo está apenas na sua cabeça. Quem está se machucando é você, amiga, com essa distância que insiste em manter da pessoa que você mais ama. Ultimamente tem acordado às cinco da manhã só para ligar para ele, o coitado ainda está dormindo a essa hora, sabia? — Revira os olhos em um tom bem humorado.

O Duplo Gosto De Um GirassolOnde histórias criam vida. Descubra agora