Capítulo Oito

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Can't even tell if
I love or hate you more
You've got me addicted
And I can't tell who's keeping score

Tate McRae - That Way

Jaqui retorna para casa com uma sacola de pães na mão, até que ver dona Irene varrendo a calçada com os olhos de águia espertos a qualquer fofoca. Irene sorrir mostrando a preza, seu único dente que serve no mínimo para rasgar carne.

— Olha só quem está por aqui. — Diz a senhora de cabelos brancos até os ombros e vestido marrom. — Como está a sua avó?

Deitada em uma cama sem falar, também não come e não toma banho sozinha, mas é claro que ela não falaria isso para ninguém.

— Dormindo, como sempre.

— Essa hora?

Ela força um sorriso.

Jaqui odeia essa velha fofoqueira, não é porque é uma das melhores amigas de sua avó que passa pano. Dona Helena só escapou do ódio por ser vó dela, mas se tem uma coisa que Jaqui odeia é fofoca.

— Você sabe quem é Norma filha de Cida? — Indaga a mulher se aproximando devagar.

Ela suspira odiando estar ali, preferia ter cortado as pernas para não passar por frente da casa da velha Irene.

— Sei, a esposa do dono do mercadinho. — Responde sem o mínimo de interesse na voz.

— Tu acredita que ela deixou o marido para ir ficar com um homem que conheceu na internet que mora na Bahia?

Ela sabe que é uma velha. Sabe também que deve respeitar os mais velhos e sabe que na sacola tem pães, porque se fosse ao menos pedras, jogaria tudo de uma vez na cara de maracujá podre de Irene.

A única coisa que eu não acredito, é que essa velha miserável me parou para falar da vida dos outros, espero que vovó no mínimo coma o mingau inteiro depois que eu contar a merda que essa triste tem para falar. Pensa a garota bufando de tanto incomodo por escutar a velha irene com suas versões de histórias alheias, no entanto, isso pode fazer sua avó se alimentar escutando as atualizações das vidas dos vizinhos. 

— Eu não acredito, que coisa não?

Vovó se a senhora não comer...

— Aquela carinha de sonsa dela nunca me enganou. Sempre ficava de olho na borracharia de frente do mercadinho, para ver se Ney aparecia. — Toca no braço de jaqui. — Já me disseram que ela teve um caso com ele. Eu tenho é pena do pobre coitado do marido dela, aquele coitado só vive para trabalhar.

E novamente o homem sendo visto como um pobre coitado. Nem ela sabe mais o que está fazendo escutando as baboseiras da vizinha. 

— Mulher, você soube do que aconteceu com a mulher do mercadinho? — Outra vizinha se aproxima com os braços cheios de sacolas.

Jaqui solta um gemido baixo.

— Eu estava falando agora sobre isso com a neta de Helena.

— Eu vou indo! — anuncia Jaqui aproveitando a ótima brecha para escapar— Tenho que acorda minha avó para tomar o remédio, e depois ir para escola. Foi muito bom conversar com vocês.

Não foi, nem um pouco. Se mataria se tivesse que ter outra conversa como aquela, na verdade, furaria os ouvidos para não escutar a voz fanhosa de Irene.

— Ah! Sim. Vai lá minha filha.

Ela acena com um xauzinho e um sorriso simpático, que se desmancha no exato momento em que vira as costas para seguir seu caminho para a casa. Jaqui tem muitos problemas para se importar com a vida dos outros, se esse fosse o caso, teria se candidatado a vaga de jornalista ao invés de administração no vestibular. 

O Duplo Gosto De Um GirassolOnde histórias criam vida. Descubra agora