Capítulo 2

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Aquilo estava se tornando comum. Sempre que acordava durante à noite, Denis buscava pela irmã e deitava-se junto a ela. Quando Aline se dava conta, o menino a abraçava e chorava baixinho com a cabeça em seu peito. Ela o beijava na testa e retribuía o carinho, tentando acalmá-lo até que dormisse.

Mesmo fazendo de tudo para que Denis lidasse da melhor forma possível com a tristeza, sequer sabia como tratar os próprios sentimentos. Enquanto afagava os cachinhos do irmão, dia após dia, a mente vagueava, pensando em tudo o que acontecera nos últimos meses e em como a vida mudara completamente. Agora não era mais uma prodígio militar, e sim uma rebelde procurada.

Por causa dos pensamentos, sequer pregava os olhos e, por isso, passava madrugadas em claro. Após um longo suspiro, e depois de várias horas observando o quarto escuro clarear gradativamente, tirou as mãos de Denis da volta dela e sentou-se na cama. Esticou os braços e as costas estalaram. Olhou para o menino, que continuava em posição fetal, e o chamou. Denis se virou de lado, sem querer levantar. Ainda resmungou o nome da irmã e afundou o rosto no travesseiro.

— Você não vai ficar o dia todo aqui nessa cama. Vamos, precisa comer — por mais que sentisse pena, repreendeu-o.

— Não quero... — a voz saiu abafada pelo travesseiro. — Quero a mamãe...

Respirou fundo e ficou em pé, mesmo que ouvir aquilo doesse muito. Antes que Denis pudesse ter feito algo, ela já o carregava no colo para fora do quarto. O menino começou a se debater, reclamando.

— Sei que está triste, eu também estou — disse mais alto do que as objeções do irmão, fazendo-o parar. — Mas tenho certeza de que a mamãe não ia querer nos ver assim.

Ele passou os braços pelo pescoço dela e assentiu mesmo que as lágrimas escorressem, molhando a camiseta da irmã. Abraçou-o com mais firmeza, acariciando-lhe as costas, e o levou pelo corredor. Ao chegarem à escada, ele avisou que poderia andar e assim caminhou até o banheiro mais próximo. Aline esperou do lado de fora enquanto ele fazia a higiene matinal e, logo que saiu, ela entrou. Depois de prontos, desceram até a cozinha. Denis sentou-se à mesa e foi servido com cereal colorido, mas fez careta para a comida.

— Vamos lá, Denis — acomodou-se ao lado dele e pegou a colher. — Olha o aviãozinho — imitou o som, o que arrancou um discreto sorriso do menino.

— Não precisa fazer isso, eu posso comer sozinho — pegou a colher da mão da irmã e começou a se alimentar.

Observou-o atentamente, esperando que raspasse o prato. Sabia que estava sendo difícil para ele a morte de Isabel, para ela também estava, porém ele precisava ser forte. Repetia a mesma frase para si todos os dias. Preciso ser forte...

A falta de Isabel deixou um vazio enorme dentro dela, algo que ainda doía muito e que achava que nunca passaria. A mãe sempre fora o lugar seguro, quem a guiava, entendia. Sem ela, o futuro era uma incógnita, sequer tinha confiança para o próximo passo. Na verdade, nunca esteve tão assustada.

Mônica apareceu no minuto seguinte e sentou-se à mesa para o café da manhã. Quando Denis terminou, perguntou se poderia brincar com o Nino.

— O Alexandre saiu com ele para passear já faz um tempinho — informou Mônica.

Sequer houve tempo para Denis ficar triste, pois todos viraram-se para a entrada quando Alexandre veio correndo, seguido pelo labrador de tonalidade amarela. O cachorro mantinha a língua para fora, todo brincalhão, e o rapaz ria. Contudo, ele parou abruptamente ao ver que havia gente na cozinha. Nino trombou com as pernas do dono. Alexandre sorriu sem graça e passou as mãos nos cabelos escuros, disfarçando o embaraço. Usava uma regata branca e uma bermuda preta, respirava ofegante e, mesmo com o tempo frio, o suor escorria pelo rosto.

País Corrompido [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora