Capítulo 10

167 29 10
                                    

O rosto do capturado apresentava rugas e marcas de expressão permanentes; a pele estava flácida em alguns pontos e os cabelos grisalhos. Para quem não era acostumado com aquela visão, foi quase repulsivo.

Aline olhou rapidamente para trás e viu que Mônica tapou a boca com uma das mãos, e Heitor e Alexandre exibiam uma expressão de incredulidade. Não apenas os rebeldes como também o pequeno grupo de soldados se mostravam surpresos. Aquilo a fez crer que eles não vinham de Brasília como o mais velho. A expressão dos militares não escapou aos olhos de Etama, que encarou um dos jovens soldados.

— Há quanto tempo estão com esse homem? — ela perguntou.

O sujeito apenas abaixou o olhar e a ignorou. Ela bufou.

— Vocês não parecem saber de muita coisa, né? — a líder agachou-se diante dos soldados capturados, porém os quatro homens seguiram as ações do primeiro.

Etama retirou a venda da boca do mais velho, que cuspiu no chão por causa da força empregada, resfolegando com dificuldade. Assim que se recompôs, encarou raivosamente a líder e falou com a voz elevada:

— Vocês não vão arrancar nada de nós!

Ela revirou os olhos e enfiou novamente a venda na boca dele.

— Sugestões? — dirigiu-se a Eric enquanto empurrava o tecido com os dedos. Lágrimas escorriam pelo rosto do capturado.

— Duvido que falarão de bom grado. Talvez se nós fizermos metade do que fizeram com meu irmão, eles abram a boca! — exaltou-se ao final, empurrando com o pé um dos soldados.

Houve algumas vozes concordando, entre elas Mônica. Etama sorriu.

— Então... Como devemos começar a estimulá-los? — falou como quem já tinha se decidido arrancar informações de qualquer jeito.

O grupo de militares começou a ficar apreensivo, visto que trocaram olhares e se mexeram. Um burburinho tomou os rebeldes. Alguns diziam para torturá-los igual faziam com eles; outros, para prendê-los; e teve até aqueles que pediram que os matassem. O barulho de vozes foi tomando maiores proporções, mas logo se extinguiu quando Naara adentrou apressadamente o refeitório.

— O que está havendo aqui? — aproximou-se da irmã e arregalou os olhos ao ver os capturados.

Etama logo respondeu, orgulhosa.

— Um pequeno sucesso. Nossa equipe de campo conseguiu interceptar esse grupo de militares — deu palmadinhas no rosto do militar mais velho. — Acreditamos ter achado a nova droga mencionada anteriormente pelos infiltrados no exército.

— Então os boatos são verdadeiros? — os olhos de Naara percorreram os cativos, que a encararam por um instante, mas logo amarraram a cara, voltando-se para o chão.

— É isso que precisamos saber. Um deles é de Brasília inclusive, veja só a aparência — Etama segurou-o pelo maxilar, virando o rosto para várias direções. — Que privilégio viver tanto, hein? Nem os rebeldes, que não são mortos pela vacina, conseguem durar tantos anos assim.

— Talvez devêssemos apertar um pouco a situação pra cima deles mesmo, pessoal! — Catarina se manifestou.

— Vocês estão sugerindo tortura? — Naara franziu o cenho e se virou para os rebeldes. — Perderam a cabeça? Acham que somos como eles?

— Irmãzinha... — Etama mudou levemente o tom de voz, chegando perto de Naara. — Nós não podemos desperdiçar essa chance. Não sabemos do que a nova droga pode ser capaz. Não se esqueça de que a usarão nos rebeldes. E temos um refém de Brasília, lembra? Se precisarmos partir para o extremo, que assim seja!

País Corrompido [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora