Capítulo 4

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Por causa do silêncio que tomava o ambiente, Aline ouviu com clareza o que acontecia. Com o revólver em mãos, apertou-o com mais força quando a voz de um militar mandou que prendessem Ítalo e Catarina e vasculhassem o barco.

Escutou um baque, como se alguém tivesse caído, e passos apressados. Ali soube que precisava agir caso quisesse chegar ao destino. A troca de olhares com os amigos foi rápida. Todos eram militares e estavam prontos. Saíram do esconderijo com as armas em punho, prontos para lutar pela própria liberdade.

Como Denis ameaçou seguir os demais para fora, Aline o empurrou com certa força, fazendo com que ele se encostasse na parede. Indicou o irmão para Leonel e ordenou:

— Fique junto dele, não saiam daqui por nada!

O pai assentiu e lhe disse algo, mas ela não escutou. Em sua mente, o único objetivo era proteger a própria família. Com isso, saiu do esconderijo e, no segundo seguinte, jogou-se no chão por causa dos sons de tiros. Arrastou-se até a beirada do barco e ergueu a cabeça, vendo Mônica e Heitor na embarcação do exército, em uma luta corpo a corpo. Eles estavam em desvantagem numérica. Levantou-se, apontou a arma para aquela direção e puxou o gatilho sem hesitar, atingindo um militar que se aproximava de Heitor pelas costas. O sujeito caiu para o lado, o que chamou a atenção de Heitor, que olhou para ela e gritou.

Sem tempo de entender o que ele falava, foi pega pelo pescoço e arrastada por poucos passos antes de acertar um chute na canela daquele que a segurava. Com isso, o aperto em seu pescoço afrouxou, e ela acertou-lhe uma cotovelada na costela. Ao se ver livre, socou a soldado no rosto e depois atirou a queima roupa. O corpo estatelou no chão, e Aline permaneceu ali, observando a cena: o sangue manchava aos poucos o uniforme militar e se acumulava no piso de madeira do barco. Os olhos da oficial ainda estavam fixos nela, que engoliu em seco, sem saber o que fazer.

***

Alexandre viu a cena de longe e percebeu que Aline não estava em seu normal. Acabara de baixar a guarda em meio a um embate. Cogitou ir até ela, porém titubeou no segundo seguinte ao ver luzes vindo de outra direção: reforços. Percorreu o barco militar onde estava, tomando cuidado para não ser visto. Encostou-se à cabine, espreitando até o outro lado dela, onde avistou um soldado com a mão sobre a orelha. Ouviu-o dizer:

— Sim, é ela. Vamos fazer de tudo para levá-la viva.

Dessa vez, teve certeza de que precisava ir até Aline. Como o homem estava de costas para ele, analisando o conflito instalado entre as embarcações, vagarosamente parou atrás dele, que ainda se comunicava com alguém, e esperou que parasse de falar. Logo que isso aconteceu, firmou a faca que tirou do tornozelo na mão e pulou sobre o inimigo. Com uma mão cobriu-lhe a boca e com a outra cortou a garganta. Antes de jogar o corpo na água, retirou o comunicador dele e colocou na orelha para acompanhar os próximos passos do exército. Com isso, ouviu que apenas um barco se aproximava como reforço. Os demais ainda estavam longe, demorariam para chegar. Entravam em contato com o Complexo Militar de São Paulo para mandar mais gente. Prender Aline Lemos era a prioridade.

Saltou de onde estava e correu em direção a Aline, que continuava na mesma posição. Pegou-a pelo braço, levando-a consigo. Sem esperar por uma reação dela, apenas pulou na água ainda a segurando.

***

Logo que emergiram, ela ameaçou dizer algo, mas Alexandre pôs a mão sobre a boca dela e a encostou no barco, escondendo-a. Ele ainda observou os arredores antes de murmurar:

— Eles já sabem que somos nós, que é você. A prioridade é te levar presa. Por isso, fique quieta.

Aline entendia, só não aceitava. Tirou a mão dele de sua boca.

País Corrompido [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora