Capítulo 43

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A dor latejante foi a primeira coisa que sentiu. A cada segundo, ela aumentava. Quando se tornou insuportável, Aline quis gritar. Seu peito se encheu de ar e o maxilar travou, pronto para abrir e soltar a expressão vocal. No momento em que o grito começou a sair, ele foi barrado por algo. Não conseguia gritar.

Os olhos se abriram, e tirando uma única luz que vinha de longe, só havia escuridão ao redor. Ainda os estreitou na tentativa de enxergar melhor, identificar a luminosidade distante, mas a dor na cabeça era tanta que logo perdeu a consciência, sem entender o que estava acontecendo.

***

Dessa vez, acordou assustada. Os olhos percorriam enlouquecidos o ambiente, buscando algo familiar. Onde estava? Ainda era o laboratório? O local não estava mais na completa escuridão e, com isso, viu uma simples cama encostada na parede atrás de si e um vaso sanitário. À sua frente, havia grades.

Ameaçou se levantar, e só nessa hora percebeu que estava presa a uma cadeira. Os braços foram algemados a ela, assim como os tornozelos, e os lábios estavam fechados por uma fita. Sentiu algo dentro da boca também, talvez algum tecido.

Aterrorizada e sem nada compreender, começou a se mexer na tentativa de se soltar dali. Mesmo que soubesse que nada que fizesse surtiria efeito, continuou. O grito não saía, parava na garganta.

Não soube precisar quanto tempo ficou ali, mas só parou quando não teve mais forças para isso. Abaixou a cabeça e chorou. Onde estava? O que tinha acontecido? E seus amigos? E Alexandre?

Vencida pela fraqueza, adormeceu, vendo em sonho todos aqueles que amava estirados no chão, mortos.

***

A dor a tirou de um sonho agitado, no qual continuava perdida entre corpos, gritos e sangue. Acordou com alguém tirando a fita de si. Aline tossiu, desesperada para se livrar do tecido também. O sujeito que estava diante dela puxou o pedaço de pano e, assim, ela respirou pela boca, sentindo-se enjoada. Ainda cuspiu um pouco de saliva antes de olhar para o militar fardado. Observou com atenção o homem que nunca vira.

Não teve tempo para questionar, pois ele lhe acertou um tapa. Por causa da força empregada, virou o rosto e voltou a cuspir, agora sangue.

— Sua rebelde nojenta! — esbravejou o militar.

Ela permaneceu quieta e apenas fechou os olhos, entendendo que fora capturada pelo exército. Mas como? Não conseguia se lembrar de nada. As unhas se fincaram nas palmas das mãos. Preferia ter morrido...

— Não toque nela, soldado — a voz feminina invadiu o ambiente.

Aline arregalou os olhos no mesmo instante, pois reconhecia aquela voz. Ao erguer a cabeça, viu Samara parada em pé na entrada da cela, sorrindo com ar vitorioso. Contudo, a cena a assustava mais por causa da pessoa que a acompanhava. O coração dela apertou dentro do peito, e os olhos não saíram de cima de um Alexandre fardado, em pose militar. Ele a encarava com um olhar vazio, sério; parecia não sentir absolutamente nada.

— Tentando entender, Aline? — a general caminhou para perto dela.

Como não desviou a vista de Alexandre, Samara a pegou com força pelo maxilar, virando sua cabeça para ela.

— Qual é a sensação de ser traída? — Samara sorriu de um jeito que nunca vira. — Você confiou nele, não é? Você o amou — riu e deu um passo para trás. — O capitão Guerra fez um ótimo trabalho — virou-se para Alexandre, que meneou a cabeça em afirmativa. Voltou-se para Aline. — Agora você vai aprender a nunca mais enfrentar o exército, menina — aproximou-se e falou mais baixo, em tom de ameaça. — Você vai ver os seus aliados caírem um por um. E, no final, eu mesma vou acabar com a sua vida.

A general aprumou a postura militar, fez um sinal com a cabeça para o soldado e deu as costas para a prisioneira. Ela saiu da cela, passando por Alexandre, que ainda observou Aline, os olhos fixos nos dela. Achou que ele lhe dirigiria a palavra, porém deu apenas um suspiro antes de seguir Samara.

Aline cerrou os dentes, sentindo-se humilhada, sem chão. Gritou de ódio, as lágrimas escorrendo pelo rosto. O corpo todo se contraiu, sendo vítima de uma dor nunca antes sentida por ela, mas que a dominou violentamente. Ele não podia ter feito aquilo!

— Alexandre! — berrou, mas ele não parou de andar. — Alexandre! — continuou a chamar por ele. — Você não pode ter feito isso comigo! — apesar da ira, a voz saiu chorosa na última frase.

De longe, viu-o continuar a andar atrás da general, deixando-a para trás sem respostas, sem uma única palavra dele.

Não conseguia acreditar, não entendia, não queria entender.

Só se sentiu despedaçada por dentro, caindo numa escuridão sem fim.

País Corrompido [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora